princípios do ser

Os princípios do ser só podem compreender-se partindo da definição de princípio em geral. Denomina-se princípio aquilo donde alguma coisa procede. Na ordem lógica, é um conhecimento, do qual se segue outro, e, na ordem ontológica, é um ser que, de algum modo, dá origem a outro. No que tange à ordem ontológica, é mister distinguir princípios extrínsecos e princípios intrínsecos. Os princípios extrínsecos, a que hoje se costuma reservar a denominação de “causa”, exercem seu influxo de maneira que permanecem fora do que é influído por eles; são principalmente as causas eficiente e final. Pelo contrário, os princípios intrínsecos entram como elementos parciais ou co-princípios na estrutura daquilo que deles nasce; são chamados “princípios do ser”, no sentido prenhe do termo. Não são um ente, ou seja, um todo que é, mas tão-só uma parte, pela qual um todo é. Como partes essenciais do ente em sua estrutura essencial, contrapõem-se às partes meramente extensas (no homem, alma e corpo, em oposição a cabeça, braços e pernas). A importância metafísica dos princípios do ser provém de que só Deus é absolutamente simples, ao passo que todo finito se compõe de princípios parciais. Por isso, todo conceito filosófico do finito exige o avançar desde o con-creto (con-crescido), que primeiro se nos depara, até aos princípios do ser, do quais aquele con cresce (ou é constituído). Só assim fica aberto o caminho para o fundamento último de todo composto finito, para o simples infinito.

Mais em pormenor, devem distinguir-se três graus de princípios ontológicos, dois dos quais dizem respeito ao núcleo substancial. Todo ente finito compõe-se de essência e de existência; este binário constitui a finitude (a criaturalidade, a contingência) enquanto tal e a base dos restantes princípios do ser. A essência do corpóreo implica em si como princípios a matéria e a forma (denominadas também substâncias incompletas), as quais, segundo a doutrina clássica aristotélico-escolástica, integram a corporeidade como tal. Em todo ente finito (e, por conseguinte, também no espírito puro) situam-se em redor do núcleo substancial as determinações acidentais, que, como princípios do ser, completam o finito, para que este chegue à plenitude de seu estado ontológico. Entre os pólos das tensões apontadas domina sempre a relação de potência e ato. — Em sentido figurado, denominam-se também princípios do ser aqueles princípios do conhecimento (vide princípios do conhecimento) que exprimem as leis mais universais do ser, p. ex., o princípio de contradição (vide princípio de contradição). — Lötz. [Brugger]