pragmaticismo

Se, na época, o pragmatismo de William James teve mais sucesso, no entanto o pragmatismo de Charles S. Peirce (Cambridge, Massachussets, 1839-Milford, 1914) exerceu e ainda em nossos dias exerce influência decididamente mais importante sobre as pesquisas metodológicas e semiológicas. Para se diferenciar da concepção de James, Peirce — que, em 1898, fora o primeiro a usar o termopragmatismo” — propôs para a sua própria concepção o nome de “pragmaticismo”, palavra bastante feia para que viesse a ser roubada.

Contra Descartes, Peirce afirma que o conhecimento não é intuição; contra a filosofia do senso comum dos escoceses, sustenta que o conhecimento não é aceitação acrítica das percepções do senso comum; contra Kant, diz que o conhecimento não é síntese a priori. Para Peirce, o conhecimento épesquisa. E a pesquisa se inicia com a dúvida. E a irritação da dúvida que causa a luta para se obter o estado de crença, que é estado de calma e satisfação. E nós procuramos obter crenças, já que são esses hábitos que determinam as nossas ações: “A crença não nos faz agir imediatamente, mas nos põe em condições de nos comportarmos de certa maneira quando surge a oportunidade. A dúvida não tem nenhum efeito desse tipo, mas nos estimula à ação até que ela seja destruída”.

Então como, isto é, por que caminhos ou procedimentos, se passa da dúvida à crença? No ensaio de 1877 The Fixation of Belief (A fixação da crença), Peirce sustenta que os métodos para fixar a crença são substancialmente redutíveis a quatro: 1) o método da tenacidade; 2) o método da autoridade; 3) o método do a priori; 4) por fim, o método científico.

O método da tenacidade é o comportamento do avestruz, que esconde a cabeça na areia quando se aproxima o perigo: é o caminho de quem está seguro somente na aparência, ao passo que, em seu interior, está espantosamente inseguro. E tal insegurança emerge quando ele se defronta com outras crenças, reputadas igualmente boas por outros. O impulso social, escreve Peirce, é contra esse método. O método da autoridade é o de quem, com a ignorância, o terror e a inquisição, quer alcançar a concordância de quem não pensa igual ou não pensa em harmonia com o grupo ao qual pertence. Esse é método que tem “incomensurável superioridade mental e moral sobre o método da tenacidade”, o seu sucesso tem sido grande e “de fato, sempre apresentou os mais majestosos resultados”: é esse o método das crenças organizadas. Mas nenhuma de tais crenças organizadas permaneceu eterna; na opinião de Peirce, a crítica as corroeu e a história as redimensionou e, de qualquer forma, as particularizou. O método do “a-priori” é o de quem considera que suas próprias proposições fundamentais estão de acordo com a razão. Entretanto, observa Peirce, a razão de um filósofo não é a razão de outro filósofo, como demonstra a história das ideias metafísicas. O método apriorista leva ao insucesso, porque “faz da pesquisa algo semelhante ao desenvolvimento do gosto”, visto ser método que “não difere de modo essencial do método da autoridade”.

Assim, por um ou outro motivo, esses três métodos (da tenacidade, da autoridade e do a-priori) não se sustentam. Se quisermos estabelecer validamente as nossas crenças, segundo Peirce, o método correto é o método científico. [Reale]