Outra grande obra de William James, de 1902, é “A Variedade da Experiência Religiosa”, onde o autor propõe antes de mais nada uma rica fenomenologia da experiência religiosa. James é contrário aos positivistas, que ligavam a religião a fenômenos degenerativos. O empirista radical James não quer que a identificação das riquezas das experiências humanas seja bloqueada por juízo de valor qualquer. A vida religiosa é inconfundível: ela põe os homens em contato com uma ordem invisível e muda a sua existência. Segundo James, o estado místico é o momento mais intenso da vida religiosa e age como se ampliasse o campo perceptivo, abrindo-nos possibilidades desconhecidas ao controle racional. E a atitude mística não pode se tornar garantia de teologia determinada. Aliás, para James, a experiência mística deve ser defendida pela filosofia.
Aqui podemos ver como James passa da descrição à avaliação da experiência mística, considerada como acesso privilegiado, inacessível pelos meios comuns, ao Deus que potencializa as nossas ações e que é “a alma e a razão interior do universo”, do universo pluralista onde Deus (que não é o mal nem o responsável pelo mal) é concebido como pessoa espiritual, que nos transcende e nos convoca a colaborar com ele. Um universo pluralista (1909) é uma das últimas obras de James, onde ele tenta libertar a experiência religiosa da angústia do pecado — angústia arraigada na tradição puritana da Nova Inglaterra — e onde, precisamente, Deus é concebido como ser finito.
Escreve ele: “Na vida religiosa do homem comum, Deus não designa a totalidade das coisas, à exceção do céu, mas somente a sua tendência ideal. É pessoa sobre-humana, que nos chama a colaborar com os seus propósitos e leva os nossos a bom termo quando têm valor. Ele atua em ambiente externo, tem inimigos e limites (…). Deus, como já se disse, não pode ser ñnito. Já eu, ao contrário, creio que o único Deus merecedor desse nome deve ser finito. (…) E, se o absoluto existir — e trata-se de uma hipótese que está em aberto —, ele é a totalidade mais ampla, da qual Deus representa somente a porção ideal e que dificilmente pode ser entendido como hipótese religiosa, segundo o ponto de vista comum dos homens. ‘Emoção cósmica’ é o nome mais adequado para a reação que ele pode suscitar”. Para James, Deus não é o todo: usando a imagem de Whitehead, ele é o Deus-companheiro.
Para Huxley, a religião era “abismo de imoralidade”. Bem diferente, no entanto, é a ideia que dela tem James, que se volta para a religião com olhar profundamente humano, como a postulado prático ou então a hipótese vital, fruto de escolha que não podemos evitar. O homem religioso compromete em sua fé os seus dias e o seu destino, descobrindo-se em garantias e rico de possibilidades.
Diferentemente de outros filósofos, como os positivistas, apesar de todas as críticas de ordem teórica que possam ser formuladas contra ele, James elaborou uma filosofia radicada no concreto, procurando captar os elementos humanos e as exigências urgentes de ordem prática relacionadas com a filosofia e a religião. E se nele, certamente, confluem e tomam corpo as esperanças e os entusiasmos no Novo Mundo, com as energias e tensões de uma sociedade industrial em expansão, é bem verdade, porém, que ele nunca professou o culto da ciência. James recomendava a ciência como fidelidade aos fatos, à realidade, e como um baluarte contra o pensamento insignificante. Mas, para ele, a vida vai além da ciência. E “a desumanidade das ciências” significava para ele ameaça pendente sobre a felicidade e sobre a realização do indivíduo. [Reale]