(gr. thesis; lat. positio; in. Posit; fr. Position; al. Setzung, Position; it. Posizioné).
A) Assunção não demonstrada: 1) da premissa de um raciocínio; 2) da existência de alguma coisa.
1) No primeiro sentido, o termo é constantemente usado por Aristóteles (cf. An.post., I, 2, 72 a 15) e por toda a tradição lógica mesmo recente, na qual às vezes é explicitamente redefinido (cf. H. Reichenbach, The Rise of Scientific Philosophy, 1951, p. 240).
2) Kant foi o primeiro a distinguir posição relativa, que é o reconhecimento do ser predicativo (ser expresso pela cópula) que põe em relação duas determinações de uma coisa, e a posição absoluta, que é o reconhecimento da existência da coisa. Kant dizia: “Em um existente, nada é posto além do que já está no puro possível (trata-se com efeito de seus predicados), mas através de um existente é posto algo mais que um puro possível, porque se trata da posição absoluta da mesma coisa” (Der einzig mögliche Beweisgrund zu einer Demonstration des Daseins Gottes, 1763, § 3). Para Kant, a posição é o reconhecimento (empírico) de uma existência. No idealismo romântico, a partir de Fichte, a posição foi entendida como criação. Diz Fichte: “Aquilo cujo ser (ou essência) consiste apenas em pôr-se como existente é o Eu como sujeito absoluto. Porque se põe, é; e porque é, põe-se” (Wissenschaftslehre, 1794, § 1). O conceito de posição, neste sentido, não se distingue do de criação. Volta a distinguir-se de criação em Husserl, para quem a posição é a afirmação da existência do objeto intencional. Ele distinguiu posição atual, que se tem quando o objeto intencional está presente, da posição potencial, que se tem quando ele não está presente (Ideen, I, § 113). Husserl usa também o termo posicionalidade (alemão Positionalität) para indicar em geral o caráter, comum a todas as vivências, de pôr o objeto intencional (como existente, desejado, ou pretendido, etc). Às vezes são chamados de posição os próprios objetos físicos não definíveis em termos de experiência, mas reconhecidos como existentes apenas como intermediários úteis entre a experiência e a linguagem (Quine, From a Logical Point of View, II, 6).
B. Na lógica terminista medieval, uma obrigação , mais precisamente a que consiste em sustentar uma proposição como verdadeira (Ockham, Summa log., III, III, 40). [Abbagnano]
Em sentido lógico, pôr equivale a assentar um premissa, uma hipótese; e também, extensivamente, uma doutrina; o que se põe no ato de pôr é a tese.
O conceito de pôr e de o posto em Kant, está estritamente relacionado com o conceito de do dar e de o dado. Em rigor, são conceitos complementares, de tal modo que, por exemplo, o posto só tem sentido enquanto está relacionado na forma da contraposição com o dado, e vice-versa. De um modo geral, Kant entende o pôr como atividade por meio da qual se impõe ao dado uma ordem – primeiro a ordem das puras intuições a priori do espaço e do tempo, e depois os conceitos do entendimento ou categorias. Mais especificamente, o pôr é função do entendimento, ou, melhor dizendo, o entendimento consiste, por assim dizer, numa função ponente.
Kant entende também a posição como a caraterística da existência. Por isso diz que “ser não é um predicado real, mas a posição de uma coisa ou certas determinações da coisa. Isso quer dizer, que a existência é algo afirmado ou reconhecido como existente e não algo deduzido. Tem importância fundamental o conceito de pôr em Fichte. Em princípio, o sentido do pôr, em Fichte, é análogo ao anteriormente descrito em Kant. Com efeito, pôr quer dizer, para Fichte, primeiramente, reconhecer (como existente). Ora, a tendência idealista de Fichte fá-lo considerar com frequência que pôr é basicamente “pôr-se a si próprio”, isto é, “pôr-se a si mesmo como existente”, e que nisso consiste o Eu. Em princípio, este pôr-se a si mesmo o eu como existente não é distinto de que a afirmação de que o eu não pode não existir. não se trata, portanto, como por vezes se supõe, de postular um Eu que se põe a si próprio e ao pôr-se a si próprio põe o não–Eu e a limitação de si mesmo como se tudo isso fosse um ato arbitrário. Segundo Fichte, não há neste eu que se põe a si próprio e que põe., além disso, o mundo, nenhuma arbitrariedade, porque é uma necessidade. O Eu é necessariamente auto-ponente, o que não o impede, por outro lado, que esta necessidade seja a sua liberdade. Mas, no decurso da sua autoposição, o eu fichteano intensifica, e até exacerba, a sua atividade, de modo que pode considerar-se o pôr como um produzir – entende-se, produzir existência. Em todo o caso, a dialéctica do pôr e do ser posto desempenha um papel capital em Fichte e, em geral, no idealismo. Em contrapartida, Husserl trata do pôr como um ato “tético”; trata-se, primeiramente, de um “pôr a existência em atos de crença e em outros diversos atos (da consciência intencional). Este tipo de posição (de pôr ou deixar assente) é diferente da afirmação, portanto a existência fica todavia entre parêntesis.. Em todo o caso, a posição da essência não implica, todavia, segundo Husserl, a posição de nenhuma existência individual. Pode dizer-se que, em geral, o conceito de posição em Husserl é compreensível unicamente dentro do limite da consciência intencional.
As críticas ao idealismo e à fenomenologia fundam-se, em parte, na crítica ao problema do pôr e da posição.