philía = amizade; lat. amicitia
Formado sobre philos (meu, caro, amigo) o termo philia “amizade” só aparece no final do século V para designar uma relação objetiva, exterior: a philia, relação júridica e social, vem substituir na cidade democrática as ligações naturais de parentesco. No Lisis, Platão retoma a retirando da teoria sofística da philia útil; para ser vantajosa a philia não deve se dar nem para o semelhante nem para o contrário, mas ter uma orientação interior da alma para o Bem. [Notions philosophiques]
Laço afetivo entre dois seres humanos. Derivado do verbo philô / philo, eu amo.
A amizade é considerada pelos filósofos gregos como uma virtude ou, pelo menos — conforme escreve Aristóteles —, “é acompanhada por virtude” (Et. Nic, VIII, I, 1). Eles tomam essa palavra no sentido estrito de afeição recíproca, ao passo que philía tem sentido bem mais amplo.
A amizade como elo privilegiado já é celebrada por Pitágoras, para quem ela é uma igualdade: isótes / isotes (Jâmblico, Vida de Pitágoras, 162) e “o amigo é outro eu” (Ps-Plutarco, Vida de Homero, 151); Pitágoras teria chegado a dizer que a amizade é “a finalidade de toda virtude” (Proclos, Comentário ao primeiro Alcibíades, 109c). Essas definições fazem parte da teoria geral da harmonia, que une as partes no universo, as faculdades mentais no espírito e as virtudes no sábio. Platão emprega incidentemente philía, por exemplo em Fedro (2131e), quando fala do homem que merece nossa amizade.
É Aristóteles que estuda a philía com mais interesse e amplidão, no livro VIII da Ética nicomaquéía, que constitui um verdadeiro tratado sobre a amizade. Esta, para ser verdadeira, deve atender a três critérios: benevolência mútua, desejo do bem, manifestação exterior dos sentimentos (II, 4); a amizade perfeita é a amizade dos bons, que se assemelham pela virtude (III, 6). Epicuro considera que toda amizade é desejável, mas começa com a utilidade (Sentenças, 23). Os estoicos, julgando censurável todo e qualquer sentimento, porque contrário à razão, consideram, porém, que a amizade é uma das virtudes mais elevadas e indispensáveis; e Epicteto insiste exatamente no fato de que ela é peculiar ao sábio, pois, como exige que o outro seja amado por si mesmo e por um bem comum espiritual, é ela impraticável por aquele que é inconstante e está submetido às paixões (Leituras, II, XXII, 3-7).
Empédocles, segundo Aristóteles, explicava o movimento do mundo pela Amizade (philía) e pelo Ódio (neikos), que unem e desunem os elementos do mundo, provocando, alternadamente, o uno e o múltiplo (Fís.,VIII, 1;A, 4). Ora, o poema Da natureza de Empédocles, reconstituído por Diels, não emprega o termo philía, mas seu sinônimo philótes / philotes, que tem um sentido mais forte (fr. XVII, 7,20; XIX; XX, 2, 8; XXVI, 5; XXXV, 4, 13). Por outro lado, emprega uma vez a forma philíe / philie (fr. XVIII). [Gobry]