pecado original

(lat. peccatum originale; in. Original sin; fr. Péché originel; al. Erbsünd; it. Peccato originalé).

As discussões filosófico-teológicas a respeito do pecado original geralmente tiveram como objeto a maneira como esse pecado se transmitiu de Adão aos outros homens. Tomás de Aquino de Aquino enumerava duas hipóteses principais, aduzidas para a solução desse problema: a hipótese do traducianismo, segundo a qual “a alma racional transmite-se com a semente, de tal maneira que de uma alma infecta derivam almas infectas”, e a hipótese da bereditariedade, segundo a qual “a culpa da alma do primeiro genitor transmite-se à prole, embora a alma não se transmita do mesmo modo como os defeitos do corpo se transmitem de pai para filho”. Ambas as hipóteses pareciam insustentáveis a Tomás de Aquino de Aquino, e ele anunciava a sua dizendo que “todos os homens nascidos de Adão podem considerar-se um único homem, porquanto têm a mesma natureza, recebida do primeiro genitor, da mesma maneira como nas cidades todos os homens que pertencem à mesma comunidade se julgam um só corpo, e a comunidade inteira é como um único homem” (II, 1, q. 81, a. 1). Alguns séculos depois, em sua Teodiceia (1710), Leibniz enumeraria as mesmas hipóteses (Théod., I, § 86), entre as quais oscilou sempre o pensamento teológico.

Aliás, é só em Kant e em Kierkegaard que se encontra uma interpretação filosófica (e não teológica) do pecado original. Kant observou que não se deve confundir a questão da origem temporal de uma coisa com a questão de sua origem racional: o problema da origem temporal deve ser resolvido pela doutrina bíblica do pecado original, mas o da origem racional do mal deve ser solucionado pela doutrina do “mal radical”, segundo a qual a disposição inata do homem para o mal deriva da natureza de suas máximas. E diz: “A proposição ‘o homem é mau’ significa apenas que o homem está ciente da lei moral, mas acolheu o princípio de afastar-se ocasionalmente dessa lei. Dizer que ele é mau por natureza significa que isso vale para toda a espécie humana, não no sentido de que essa qualidade possa ser deduzida do conceito de espécie humana (do conceito de homem em geral) — porque então seria necessária —, mas no sentido de que o homem, do modo como é conhecido por experiência, não pode ser julgado de outra maneira ou no sentido de que se pode pressupor como objetivamente necessária a tendência ao mal em qualquer homem, até no melhor” (Religion, I, 3; trad. it., Durante, p. 18). Substancialmente idêntica a esta é a interpretação do pecado original dada por Kierkegaard, que discerniu a condição e a realidade psicológica dele na angústia: “A proibição de Deus angustia Adão porque desperta nele a possibilidade da liberdade. O que na inocência era o nada da angústia passou então a fazer parte da inocência, sendo aí também um nada, ou seja, a possibilidade angustiante de poder. Do que pode não tem a menor ideia; caso contrário, pressupor-se-ia, como acontece habitualmente, aquilo que segue, que é a diferença entre o bem e o mal. Em Adão só há a possibilidade de poder, como forma superior de ignorância, como expressão superior de angústia, porque em sentido mais elevado esta possibilidade é e não é, e Adão ama-a e foge dela” (Der Begriff Angst, I, § 5; trad. it., Fabro, p. 54). Também aqui, como se vê, não se trata da origem temporal, mas da origem racional do pecado original, e aqui também essa origem é vista numa possibilidade, indeterminada ou “indefinida”, como a chama Kierkegaard, que é também a possibilidade de agir contra a proibição divina. Para Kierkegaard, assim como para Kant, o pecado original consistiria, portanto, na perspectiva de uma possibilidade, que, como tal, pode implicar a infração à norma moral ou à proibição divina. (Abbagnano)


QUEDA — PECADO ORIGINAL

VIDE: HAMARTIA; PECADOS CAPITAIS; PECADO VENIAL
O que se denomina “pecado original” acusa um erro, uma falha, originária (mas não original), que não só inicia a ilusão de uma separação do divino, mas uma constituição simultânea do mundo, em que prevalece a dualidade homem-mundo. Os corpos são reconhecidos como sedes do humano ser; a multiplicidade “enche os olhos corporais”; o erro se consolida a ponto de se considerar um pecado que a humanidade doravante carrega para sempre. Somente o exame da separação, do simbolismo em Gênesis 2 e 3, pode oferecer algumas indicações da direção considerada no tocante à questão do chamado “pecado original”.

PERENIALISTAS
René Guénon: (Guenon Corpos|OS ENVELOPES DO «SI MESMO»; OS CINCO VAYUS OU FUNÇÕES VITAIS))

Visto deste ângulo, o pecado de Adão consistiu em açambarcar o gozo: atribuir a si mesmo o gozo como tal, embora o erro estivesse a um só tempo no roubo e na maneira de encarar o objeto do roubo, ou seja, um prazer substancialmente divino. Portanto, era usurpar o lugar de Deus, excluindo-se da subjetividade divina da qual o homem participava na origem; era não mais participar desta e se fazer a si mesmo sujeito absoluto. Fazendo-se praticamente Deus, o sujeito humano limitou e aviltou a um só tempo o objeto da sua felicidade e até todo o ambiente cósmico (v. separação).


PHILOKALIA
Jean-Claude Larchet: TERAPÊUTICA DAS DOENÇAS ESPIRITUAIS

Por el pecado original, Adán se desvió del camino donde Dios lo había ubicado en su creación. El hombre erró el fin que su misma naturaleza le asignaba. Habiendo dejado de tender con todo su ser hacia Dios y de abrir todas sus facultades a la gracia increada de Dios, el espejo de su alma se oscureció y dejó de reflejar a su Creador. Porque Adán dejó de participar de la Fuente de toda perfección, sus virtudes se opacaron y perdió la semejanza con Dios que había comenzado a realizar desde el momento de su creación. La imagen de Dios — que no puede perderse del todo — subsiste en el hombre caído (Orígenes) pero al no haberse desarrollado por la unión activa del hombre con Dios, no encontrando ya su cumplimiento en la realización de la semejanza que constituía su finalidad verdadera, se encuentra alterada (Gregório de Nazianzo) y velada (Macariana). Mientras que el camino del hombre hacia su perfección en la luz del Espíritu la volvía radiante, de pronto el pecado la oscureció. El hombre olvida entonces cuál es su naturaleza auténtica, ignora su verdadero destino, ya no sabe cuál es su verdadera vida y pierde casi toda noción de su salud original.

Aunque la humanidad haya podido luego, por las voces inspiradas de los profetas, reencontrar en cierta medida el sentido de Dios, no alcanzó «más que la sombra de los bienes venideros, no la substancia misma de las realidades» (Hch 10,1).

Sólo por la Encarnación de Cristo la humanidad es restaurada plenamente en su naturaleza original, y el hombre reencuentra la posibilidad de realizar la perfección a la cual el Creador lo ha destinado.


SIMBOLISMO
Jerônimo Bosch: A CARROÇA DE FENO — PECADO ORIGINAL