(gr. doxa; lat. opinio; in. Opinion; fr. Opinion; al. Meinung; it. Opinioné).
Este termo tem dois significados: o primeiro, mais comum e restrito, designa qualquer conhecimento (ou crença) que não inclua garantia alguma da própria validade; no segundo, designa genericamente qualquer asserção ou declaração, conhecimento ou crença, que inclua ou não uma garantia da própria validade. Este segundo significado é mais usado do que explicitamente definido. No primeiro significado, opinião contrapõe-se à ciência .
O primeiro significado já se encontra em Parmênides, que contrapõe “as opiniões dos mortais” à verdade (Fr., 1, 29-30), mas ambos os significados já se encontram em Platão. Este, por um lado, considera a opinião como algo intermediário entre o conhecimento e a ignorância (Rep., 478 c), incluindo nela a esfera do conhecimento sensível (conjetura e crença) (Ibid., VI, 510 a); deste ponto de vista, afirma que nem a opinião verdadeira fica imóvel na alma, “até se ligar a um raciocínio causal” e tornar-se ciência (Men., 98 a; cf. Fil., 59 a). Por outro lado, considera a opinião como a conversa que a alma tem consigo mesma, em que consiste o pensamento (Teet., 190 a-c); neste sentido a própria ciência nada mais é que uma espécie de opinião. Os dois significados também se encontram em Aristóteles, que por um lado afirma, como Platão, que, ao contrário da demonstração e da definição, as opinião estão sujeitas a mudar e portanto não constituem ciência (Met., VII, 15, 1039 b 31); por outro lado declara: “Por princípio entendo as opinião comuns nas quais todos os homens baseiam suas demonstrações; p. ex.: que uma asserção deve ser afirmativa ou negativa, que nada pode simultaneamente ser e não ser, etc.” (Ibid., III, 2, 996 b 27).
Na tradição posterior, o significado genérico perdeu-se, permanecendo o outro. Os estoicos definiram a opinião como “assentimento fraco e ilusório” (Sexto Empírico, Adv. math., VII, 151; cf. Cícero, Tusc, IV, 7, 15), e, no mesmo sentido, Epicuro chamou de opinião “uma assunção que pode ser verdadeira ou falsa” (Diógenes Laércio, X, 33). Com outras palavras, Tomás de Aquino de Aquino expressava a mesma coisa: “A opinião é o ato do intelecto que se dirige para um lado da contradição por medo do outro” (S. Th., I, q.79, a.9). Wolff chamava de opinião “a proposição insuficientemente provada” ÍLog., § 602), e Spinoza identificava a opinião com o conhecimento do primeiro gênero, que é o menos elevado e seguro e provém de signos (Et., II, 40, Scol. II). Da mesma forma Kant diz: “A opinião é uma crença insuficiente tanto subjetiva quanto objetivamente, de que se está cônscio”. Estar cônscio consiste em “não poder presumir opinar sem pelo menos saber algo por meio do qual o juízo problemático tenha certa conexão com a verdade”; de outro modo, “tudo não passa de jogo da imaginação, sem a menor relação com a verdade” (Crít. R. Pura, Doutr. do Método, cap. 2, seç. 3)- Kant afirmava também (loc. cit.} que “nos juízos que derivam da razão pura não é absolutamente permitido opinar”, e que, portanto, não se pode opinar nem no domínio da matemática nem no domínio moral. Mas Hegel negava que houvesse opiniões, mesmo no domínio da filosofia: “Uma opinião é uma representação subjetiva, um pensamento casual, uma imaginação que crio desta ou daquela maneira e que outro pode criar de modo diferente; a opinião é um pensamento meu, não um pensamento em si universal, que seja em si e por si. Mas a filosofia não contém opiniões, já que não existem opiniões filosóficas” (Geschichte der Philosophie, em Werke, ed. Glockner, XVII, p. 40; trad. it., vol. I, p. 21). Este ponto de vista foi compartilhado, e ainda é, por todas as filosofias absolutistas; na realidade, é o ponto de vista da metafísica tradicional. O ponto de vista expresso por Kant, a respeito da impossibilidade de opiniões em campo científico, foi compartilhado pela ciência positivista do séc. XIX. Mas o falibilismo que prevalece hoje, tanto em ciência como em filosofia, torna-nos menos desdenhosos e depreciativos em relação à opinião Por um lado, não se considera que a opinião seja tão pessoal ou incomunicável quanto afirmara Hegel. Uma opinião científica ou filosófica pode ser compartilhada por muitos, precisamente como opinião, sem o disfarce ilusório ou sub-reptício de verdade, ainda que represente em determinada fase da investigação a hipótese mais racional ou a teoria mais apoiada pelos fatos. Dewey diz: “Na solução de problemas que pretendem menor exatidão que os casos jurídicos, os juízos são chamados de opinião, para distingui-los dos juízos ou asserções justificadas. Porém, se a opinião professada tem fundamento, é produto da investigação e, em tal medida, é um juízo” (Logic, 1939, VII; trad. it., p. 179). Por outro lado, mesmo as hipóteses ou teorias mais consolidadas apresentam certa amplitude de interpretações possíveis, que deixa grande margem à diversidade de opinião Finalmente a repugnância compartilhada (e com boas razões) por cientistas e filósofos a considerar a verdade científica ou filosófica como absoluta e necessária, diminui a diferença entre a verdade e a opinião, entre a opinião e a ciência. O conceito de opinião hoje não é diferente da definição dos antigos: compromisso frágil e sujeito a revisão, ausência de garantia de validade constituem hoje também as características da opinião, mas seu campo estendeu-se muito mais do que os antigos imaginariam ou do que imaginaram e imaginam os filósofos absolutistas; acima de tudo, perdeu-se nitidez dos limites entre ciência e opinião, visto não haver lugar ou região da ciência em que não haja intersecção entre opinião e verdade. [Abbagnano]
Maneira de pensar. — A opinião caracteriza um sentimento subjetivo que não está baseado num conhecimento científico das coisas. A opinião baseia-se simplesmente num sentimento vago que temos da realidade. Nesse sentido, a opinião contrapõe-se à ciência (Platão). Distinguem-se diferentes graus da opinião, segundo exprime um julgamento provável, uma possibilidade ou uma verdade. Em matéria de julgamento histórico e político a opinião é rainha, e só conta a opinião do “maior número”; pois onde não existe a certeza da ciência, todas as opiniões valem o mesmo. Ao contrário, não se fala da opinião de um matemático quando êle enuncia um resultado de um problema numérico: fala-se de “saber” ou de “ciência”. Seja qual fôr a franqueza lógica de uma simples opinião, o respeito às opiniões diversas é um princípio de moral e se denomina tolerância; esta é o princípio de todas as democracias verdadeiras. A ciência das opiniões, ou ciência estatística (enquête Gallup), permite determinar o estado de espírito de uma nação ou de um grupo. [Larousse]
Platão afirma que aquilo que é absolutamente é também cognoscível absolutamente, e que aquilo que não existe absolutamente não é de modo algum cognoscível. Mas havendo coisas que simultaneamente são e não são, isto é, coisas cujo ser é o estarem situadas entre o ser puro e o puro não ser, há que postular para a sua compreensão a existência de algo intermédio entre a ignorância e a ciência. O que corresponde a esse saber intermédio das coisas também intermédias é a opinião. Trata-se segundo Platão, de uma faculdade própria, distinta da ciência, de uma faculdade que nos torna capazes de fazer juízos sobre a aparência. Como conhecimento das aparências, a opinião é o modo natural de acesso ao mundo do dever e, portanto, não pode ser simplesmente posta de lado. contudo, o que carateriza o filósofo é o não ser “amigo da opinião”, isto é, o estar continuamente agarrado ao conhecimento da essência. O caráter provável da opinião perante a segura certeza da visão intelectual do inteligível tornou lentamente possível a passagem ao conceito atual de opinião como algo distinto do saber e da dúvida; na opinião não há propriamente um saber, nem tão pouco uma ignorância, mas um modo particular de asserção.. Esta asserção está tanto mais próxima do saber quanto mais prováveis são as razões em que se apoia; uma possibilidade absoluta destas razões faria coincidir, imediatamente, a opinião com o verdadeiro conhecimento. Na opinião há sempre, como assinalaram os escolásticos, um assentimento, mas existe sempre o temor do sustentado pela asserção contrária. [Ferrater]