neopositivismo

(in. Neo-positivism; fr. Néo-positivisme; al. Neupositivismus; it. Neo-positivismó).

1. O mesmo que empirismo lógico .

2. Nome dado algumas vezes à doutrina de Bergson (Le Roy, Un positivisme nouveau, 1901).


A. Origens e principais representantes.

A escola neopositivista, aliás a única que representa efetivamente o movimento empirista da atualidade, remonta ao positivismo clássico de Comte e de Mill e, para além destes, ao empirismo inglês do século XVIII. Mas, por via direta, procede do empiriocriticismo alemão. Foi Joseph Petzoldt (1862-1929), discípulo de Avenarius, quem passou à escola a direção da revista Annalen der Philosophie, donde surgiu em seguida a revista Erkenntnis (Conhecimento), o órgão mais importante da escola neopositivista entre 1930 e 1938. A par do empiriocriticismo, influíram também fortemente na escola neopositivista a “crítica da ciência” francesa, as doutrinas de Russell, bem como o desenvolvimento da lógica matemática e da física mais recente (Einstein).

A escola surgiu de um seminário de Moritz Schlick (1882-1936), e apresentou-se em público, no ano de 1929, sob o nome de “Círculo de Viena”, de maneira assaz brusca, com a publicação do folheto-programa Wissenschaftliche Weltauffassung. Der Wiener Kreis (Concepção cientifica do mundo. O Circulo de Viena). No ano seguinte, em 1930, começou a aparecer a revista Erkenntnis, que foi substituída em 1939 pelo Journal of Unified Science. Principiaram a ser celebrados congressos especiais com notável assiduidade: 1929 em Praga, 1930 em Konigsberg, 1934 novamente em Praga, 1935 em Paris, 1936 em Copenhague, 1937 de novo em Paris, 1938 em Cambridge (Inglaterra), 1939 em Cambridge (Mass.). Isto mostra o dinamismo da nova escola e seu caráter verdadeiramente internacional. Perseguidos pelo nacional-socialismo, os mais eminentes neopositivistas emigraram para Inglaterra e América do Norte. Na América, fundaram a Encyclopaedia of Unified Science, e hoje em dia exercem grande influência tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra. Neste último país tem saído, desde 1933, com o título Analysis, o órgão de um círculo muito chegado ao dos neopositivistas. No Congresso Internacional de Filosofia celebrado em Praga no ano de 1934, a escola neopositivista revelou-se uma das mais potentes. Desde então sofreu no continente europeu um certo recuo, sem contudo deixar de conservar sua importância considerável e, na atualidade, ela figura entre as escolas de maior monta da filosofia contemporânea.

Seus principais representantes são quase todos alemães. Entre eles citemos, em primeiro lugar, Rudolf Carnap (1891-1970), professor de filosofia sucessivamente em Viena, Praga e Chicago. Aparece como o lógico e, em certo sentido, como o chefe da escola. Ao lado dele, surge Hans Reichenbach (1891-1953), professor em Berlim, em Istambul e, por último, em Los Angeles. Participou na fundação do Círculo de Viena e colaborou na redação da revista Erkenntnis, mas, posteriormente, desligou-se do neopositivismo ortodoxo. Podemos ainda mencionar como representantes do Círculo de Viena: Moritz Schlick (1882-1936), conhecido especialmente por seus escritos sobre moral e que foi brutalmente assassinado por um estudante; Otto Neurath (1882-1945), que elaborou a ideia da ciência unitária, e Hans Hahn (1880-1934). Vários lógicos matemáticos, entre outros, Alfred Tarski e Karl Popper, estão muito próximos da escola neopositivista.

Fora da Alemanha, só na Inglaterra o neopositivismo logrou obter grande influência. Continua sendo neste país a escola filosófica predominante, a qual agrupa mais ou menos Intimamente toda uma série de filósofos, como o círculo da revista Analysis, com Susann L. Stebbing (1885-1943), A. E. Duncan Jones e C. A. Mace e outros; citemos ainda Alfred J. Ayer, o mais radical partidário do neopositivismo em geral, John Wisdom, e principalmente Gilbert Ryle, incontestavelmente o filósofo inglês .que maior influência exerce na atualidade. Na França, quase não encontramos representantes de mérito do neopositivismo, a não ser que contemos como tais Louis Rougier e o General Vouillemin, que procurou tornar conhecido o Círculo de Viena, e Maurice Boll. Bom número de positivistas mais ou menos declarados, como por exemplo John Wisdom na Inglaterra, mantêm amplas relações com a escola neopositivista.

B. Distintivos fundamentais e desenvolvimento.

Os neopositivistas formam uma escola propriamente dita: compartem em comum certas concepções básicas e abeiram-se de problemas comuns com métodos semelhantes. Desde o início davam mostras de extraordinário ardor, convencidos como estavam da verdade absoluta de suas próprias conceituações. Reichenbach, um de seus primeiros chefes, observa com razão que a atitude da escola é tipicamente religiosa e até sectária. Por outro lado, é mister também acrescentar que muito poucos filósofos alheios à escola são capazes de julgar com plena objetividade as doutrinas neopositivistas. Sem dúvida, tais doutrinas são a tal ponto revolucionárias que provocam necessariamente ou a adesão incondicional ou a franca hostilidade. Principalmente em seus inícios, o Círculo de Viena caracterizava-se por um proselitismo ardente, muito polêmico e agressivo.

A par desta feição sectária encontramos uma atitude rigorosamente racionalista, analítica e lógica, de sorte que as obras dos neopositivistas aparecem, do ponto de vista formal, como uma espécie de escolástica nova; em todo caso, pensamos que desde a Idade Média nunca se assistiu a um tal espetáculo de e de respeito ante a lógica. A escola neopositivista apresenta-se igualmente como extremamente cientista, em grau muito maior do que o neo-realismo e o materialismo dialético; para ela a filosofia outra coisa não é senão a análise da linguagem científica, e seu método é rigorosamente “científico-natural”.

Contudo, manifesta-se uma certa evolução no neopositivismo. Seus defensores criam inicialmente que a lógica nova lhes subministrava uma arma decisiva contra as demais filosofias. Porém, mais tarde, não lhes foi possível evitar o estudo das questões tradicionais da teoria do conhecimento nem se apoiaram mais exclusivamente na nova lógica, que, aliás, era empregada por outras escolas. Por último, assinala-se uma terceira fase na obra de Reichenbach, fase que se distingue da fase inicial do Círculo de Viena por sua maior tolerância e por seu caráter muito menos dogmático. [Bochenski]