Pertence à técnica a produção e o uso de ferramentas, aparelhos e máquinas, como a ela pertencem estes produtos e utensílios em si mesmos e as necessidades a que eles servem. (GA7, pag. 12)
4) a causa efficiens, o ourives que produz o efeito, o cálice realizado, pronto. Descobre-se a técnica concebida como meio, reconduzindo-se a instrumentalidade às quatro causas. (GA7, pag. 13)
Os três modos anteriores de responder devem à reflexão do ourives o fato e o modo em que eles aparecem e entram no jogo de pro-dução do cálice sacrificial. (GA7, pag. 15)
Platão nos diz o que é essa condução numa sentença do Banquete (2O5b): (citação em grego) “Todo deixar-viger o que passa e procede do não-vigente para a vigência é poiesis, é pro-dução”. (GA7, pag. 16)
Tudo agora depende de se pensar a pro-dução e o pro-duzir em toda a sua amplitude e, ao mesmo tempo, no sentido dos gregos. Uma pro-dução, poiesis, não é apenas a confecção artesanal e nem somente levar a aparecer e conformar, poética e artisticamente, a imagem e o quadro. Também a phusis, o surgir e elevar-se por si mesmo, é uma pro-dução, é poiesis. A phisis é até a máxima poiesis. Pois o vigente phusei tem em sisi mesmo (en eauto) o eclodir da pro-dução.
Enquanto o que é produzido pelo artesanato e pela arte, por exemplo, o cálice de prata, não possui o eclodir da pro-dução em sisi mesmo mas em um outro (en allo), no artesão e no artista.
Assim, os modos do deixar-viger, as quatro causas, jogam no âmbito da pro-dução e do pro-duzir. É por força deste último que advém a seu aparecimento próprio, tanto o que cresce na natureza como também o que se confecciona no artesanato e se cria na arte. Mas como é que se dá e acontece a pro-dução e o pro-duzir, seja na natureza, seja no artesanato, seja na arte? O que é a pro-dução e o pro-duzir em que jogam os quatro modos de deixar-viger? O deixar-viger concerne à vigência daquilo que, na pro-dução e no pro-duzir, chega a aparecer e apresentar-se. A pro-dução conduz do encobrimento para o desencobrimento. Só se dá no sentido próprio de uma pro-dução, enquanto e na medida em que alguma coisa encoberta chega ao des-encobrir-se. (GA7, pag. 16)
Pois é no desencobrimento que se funda toda a pro-dução. Esta recolhe em si, atravessa e rege os quatro modos de deixar-viger a causalidade. À esfera da causalidade pertencem meio e fim, pertence a instrumentalidade. Esta vale como o traço fundamental da técnica. Se questionarmos, pois, passo a passo, o que é propriamente a técnica conceituada, como meio, chegaremos ao desencobrimento. Nele repousa a possibilidade de toda elaboração produtiva. (GA7, pag. 17)
A techne pertence à pro-dução, a poiesis, é, portanto, algo poético. (GA7, pag. 17)
A techne é uma forma de aletheia. Ela des-encobre o que não se produz a si mesmo e ainda não se dá e propõe, podendo assim apresentar-se e sair, ora num, ora em outro perfil. (GA7, pag. 17)
Quem constrói uma casa ou um navio, quem funde um cálice sacrificial desencobre o a ser produzido nas perspectivas dos quatro modos de deixar-viger. (…) É neste desencobrimento e não na elaboração que a techne se constitui e cumpre em uma pro-dução. (GA7, pag. 17)
O desencobrimento dominante na técnica moderna não se desenvolve, porém, numa pro-dução no sentido de poiesis. (GA7, pag. 18)
A usina hidroelétrica posta no Reno dis-põe o rio a fornecer pressão hidráulica, que dis-põe as turbinas a girar, cujo giro impulsiona um conjunto de máquinas, cujos mecanismos produzem corrente elétrica. (GA7, pag. 20)
Ora, montagem integra, com todas as suas partes, o âmbito do trabalho técnico. Este sempre responde à ex-ploração da com-posição, embora jamais constitua ou produza a com-posição. (GA7, pag. 24)
O verbo “pôr” (stellen), inscrito no termo com-posição, “Gestell”, não indica apenas a ex-ploração. Deve também fazer ressoar o eco de um outro “pôr” de onde ele provém, a saber, daquele pro-por e ex-por que, no sentido da poiesis, faz o real vigente emergir para o desencobrimento. Este pro-por produtivo (por exemplo, a posição de uma imagem no interior de um templo) e o dispor explorador, na acepção aqui pensada, são, sem dúvida, fundamentalmente diferentes e, não obstante, preservam, de fato, um parentesco de essência. (GA7, pag. 24)
Agora a natureza já não demonstra nem o caráter de um deixar-viger produtivo nem o modo de ser da causa efficiens ou até da causa formalis. (GA7, pag. 26)
No desafio da dis-posição, a com-posição remete a um modo de desencobrimento. Como modo de desencobrimento, a com-posição é um envio do destino. Destino, neste sentido, é também a pro-dução da poiesis. (GA7, pag. 27)
Assim, pois, a com-posição provocadora da ex-ploração não encobre apenas um modo anterior de desencobrimento, a pro-dução, mas também o próprio desencobrimento, como tal, e, com ele, o es paço, onde acontece, em sua propriedade o desencobrimento, isto é, a verdade. (GA7, pag 30)
A com-posição é um modo destinado de desencobrimento, a saber, o desencobrimento da ex-ploração e do desafio. Um e outro modo destinado é o desencobrimento da pro-dução, da poiesis. Esses modos não são, porém, espécies que, justapostas, fossem subsumidas no conceito de desencobrimento. O descobrimento é o destino que, cada vez, de chofre e inexplicável para o pensamento, se parte, ora num des-encobrir-se pro-dutor ora num des-encobrir-se explorador e, assim, se reparte ao homem. O desencobrimento explorador tem a proveniência de seu envio no descobrimento pro-dutor, ao mesmo tempo em que a com-posição depõe num envio do destino a poiesis. (GA7, pag. 33)
Outrora, chamava-se também de techne a pro-dução da verdade na beleza. (GA7, pag. 36)
Por que a arte tinha o nome simples e singelo de techne? Porque era um des-encobrir pro-dutor e pertencia à poiesis. O último desvelo, que atravessa toda arte do belo, era poiesis, era poesia. (GA7, pag. 36)