reflexio, Überlegung
Subjetividade, objeto e reflexão pertencem entre si. Somente quando se faz a experiência da reflexão como tal, ou seja, como a referência que carrega para o ente, pode-se determinar ser como objetividade.
Enquanto essa referência, a experiência da reflexão traz, porém, a suposição de que a referência (Bezug) é experienciada como repraesentatio: como re-apresentação (vor-stellen).
Isso, no entanto, só se torna destinal quando idea se transforma em perceptio. Esse tornar-se repousa na transformação da verdade entendida como adequação em verdade entendida como certeza, na qual mantém sempre a adequatio. Como auto-asseguramento (querer a si mesmo), a certeza é iustitia, é justificação da referência ao ente e sua causa primeira e, assim, da copertinência ao ente. Na acepção conferida pela Reforma, a iustificatio e o conceito nietzscheano de justiça como verdade são o mesmo.
Em sua essência, a repraesentatio fundamenta-se na reflexio. Por isso, a essência da objetividade como tal só se abre manifestativamente se reconhece a essência e dá um acabamento próprio ao pensamento como o “eu penso alguma coisa”, isto é, como reflexão. (GA7)
No que concerne àquilo com que se lida, a análise do modo de lidar recebe a indicação de que o ser existente junto a entes de ocupação não se orienta por um instrumento isolado à mão, mas sim pelo todo instrumental. Também a REFLEXÃO sobre o caráter ontológico privilegiado do instrumento à mão, isto é, a conjuntura, obrigou a esta apreensão daquilo com que se lida, inerente a todo modo de lidar. O termo conjuntura é compreendido ontologicamente. Quando se diz: seu conjunto se deixa e se faz junto com alguma coisa, o que se pretende não é constatar onticamente uma conjuntura de fatos mas acenar para o modo de ser do que está à mão. O caráter remissivo da conjuntura, do “com… junto…”, indica que, do ponto de vista ontológico, um instrumento isolado é impossível. Sem dúvida, pode acontecer que um único instrumento esteja à mão e “falte” o outro. Mas o que isso anuncia é a pertinência deste manual a um outro. O modo de lidar da ocupação só pode deixar que um manual venha ao encontro numa circunvisão, caso já se compreenda a conjuntura, isto é, que sempre algo está junto com algo. O ser junto a… da ocupação, que descobre numa circunvisão, é um deixar e fazer em conjunto, ou seja, um projeto que compreende a conjuntura. Se o deixar e fazer em conjunto constitui a estrutura existencial da ocupação e esta, enquanto ser junto a…, pertence à constituição essencial da cura que, por sua vez, se funda na temporalidade, então se deve buscar a condição de possibilidade do deixar e fazer em conjunto num modo de temporalização da temporalidade. STMSC: §69
A circunvisão movimenta-se nas remissões conjunturais de um nexo instrumental à mão. Ela própria, por sua vez, é submetida à direção de uma supervisão, mais ou menos explícita, do todo instrumental de cada mundo de instrumentos e de seu correspondente mundo circundante público. A supervisão não é apenas um ajuntamento posterior de seres simplesmente dados. O essencial da supervisão é a compreensão primária da totalidade conjuntural, dentro da qual a ocupação de fato sempre se coloca. A supervisão, que ilumina a ocupação, recebe sua “luz” do poder-ser da presença (Dasein), em virtude do qual a ocupação existe como cura. Através de uma interpretação do que se vê, a circunvisão “supervisora”, própria da ocupação, coloca mais perto da presença (Dasein) aquilo que, em cada uso e manejo, está à mão. Chamamos de REFLEXÃO a aproximação específica que interpreta, numa circunvisão, aquilo de que se ocupa. O seu esquema característico é: “se-então”, se isto ou aquilo, por exemplo, deve-se produzir, deve ser retirado do uso ou guardado, então se faz necessário este ou aquele meio, caminho, circunstância e ocasião. A REFLEXÃO guiada pela circunvisão ilumina cada posição fática da presença (Dasein) em seu mundo circundante de ocupações. Ela nunca é, portanto, mera “constatação” do ser simplesmente dado de um ente ou de suas propriedades. A REFLEXÃO também pode realizar-se sem que aquilo mesmo que se aproxima numa circunvisão esteja ao alcance da mão ou vigente no campo mais próximo da visão. Este colocar mais perto o mundo circundante, na REFLEXÃO guiada pela circunvisão, tem o sentido existencial de uma atualização. Pois o tornar atual é somente um modo daquela. Nela, a REFLEXÃO visa diretamente às necessidades que não estão à mão. A circunvisão que torna atual não se refere a “meras representações”. STMSC: §69
A atualização, guiada pela circunvisão, é, no entanto, um fenômeno de múltiplos fundamentos. De início, ela sempre pertence a uma unidade ekstática plena da temporalidade. Seu fundamento é reter o nexo instrumental. Ocupando-se deste, a presença (Dasein) aguarda uma possibilidade. O que já se abriu, nesse reter que aguarda, coloca mais perto a atualização ou o tornar atual reflexivos. No entanto, para que a REFLEXÃO possa mover-se no esquema do “se-então”, é preciso que a ocupação já compreenda, “numa supervisão”, o nexo da conjuntura. Aquilo que é interpelado como o “se” já deve ser compreendido como isto ou aquilo. Para tanto, é necessário que a compreensão do instrumento se exprima numa predicação. O esquema “algo como algo” já está prelineado na estrutura do compreender pré-predicativo. A estrutura-como funda-se, ontologicamente, na temporalidade do compreender. Aguardando uma possibilidade, ou seja, aqui, aguardando um para quê, a presença (Dasein) volta a um ser para isso, o que significa: a presença (Dasein) retém um manual. Somente por isso é que, a partir do que foi retido, a atualização inerente a esse reter que aguarda pode, inversamente, colocá-lo, de modo explícito, mais perto em sua referencialidade ao para quê. No esquema da atualização, a REFLEXÃO aproximadora deve adequar-se ao modo de ser daquilo que deve ser aproximado. Pela REFLEXÃO, o caráter de conjuntura do que está à mão não é descoberto mas apenas aproximado, de tal maneira que a REFLEXÃO faz ver como tal, numa circunvisão, aquilo junto com o que algo está em conjunto. STMSC: §69
Mas em que a caracterização temporal da REFLEXÃO, guiada pela circunvisão, e de seus esquemas contribui para responder à questão em suspenso sobre a gênese da atitude teórica? Contribui apenas para esclarecer a situação, dotada do caráter de presença (Dasein), em que a ocupação, guiada pela circunvisão, transforma-se em descoberta teórica. A própria análise da transformação deve ser investigada sob o fio condutor de um enunciado elementar característico da REFLEXÃO, guiada pela circunvisão, e de suas possíveis modificações. STMSC: §69
No uso de uma ferramenta, guiado por uma circunvisão, podemos dizer: o martelo é muito pesado ou muito leve. Também a frase: o martelo é pesado, pode exprimir uma REFLEXÃO da ocupação e significar: ele não é leve, ou seja, exige força para o seu manejo ou ainda que ele dificulta o manejo. Mas a frase também pode dizer: o ente que aqui se encontra e que, numa circunvisão, já conhecemos como martelo, tem um peso, isto é, a “propriedade” de ser pesado; ele exerce uma pressão sobre o seu suporte; afastando-se do apoio, ele cai. Assim compreendida, esta fala não mais se pronuncia no horizonte do reter que aguarda, inerente a um todo instrumental e a suas remissões de conjuntura. O que se disse foi retirado, com vistas ao que é próprio de um ente “maciço” como tal. O que agora se vê já não é próprio do martelo como ferramenta de trabalho e sim do martelo como coisa corpórea, subordinada à lei da gravidade. A fala de “muito pesado” ou “muito leve”, guiada por uma circunvisão, não possui agora mais nenhum sentido, ou seja, o ente que agora vem ao encontro não oferece, nele mesmo, nada mais com referência a que algo possa ser “considerado” muito pesado ou muito leve. STMSC: §69
Por que, na fala modificada, aquilo sobre o que se fala, no caso o martelo pesado, se mostra diferentemente? Isto não se deve nem a um afastamento do manuseio e nem a uma mera desconsideração do caráter instrumental deste ente, mas sim a uma “nova” reconsideração do manual que vem ao encontro como algo simplesmente dado. A compreensão de ser, que orienta o modo de lidar na ocupação com o ente intramundano, transformou-se. Mas será que uma atitude científica já se constitui por se “conceber” como simplesmente dado algo que, numa REFLEXÃO guiada pela circunvisão, está à mão? Ademais, um manual pode também converter-se em tema de investigação e determinação científicas como, por exemplo, a pesquisa de um mundo circundante, do ambiente dentro de uma biografia histórica. O nexo instrumental à mão todos os dias, sua origem histórica, sua valorização e seu papel fático na presença (Dasein), faz-se objeto da economia como ciência. Para poder tornar-se “objeto” de uma ciência, o que está à mão não precisa perder o seu caráter instrumental. A modificação da compreensão de ser não parece ser um constitutivo necessário da gênese da atitude teórica “frente às coisas”. Certamente, caso modificação signifique: troca do modo de ser deste ente que aí se encontra tal como o compreender o compreende. STMSC: §69
E uma REFLEXÃO sobre si mesmo, que não se dirige a um eu abstrato mas à plenitude do meu si-mesmo, é que haverá de me encontrar historicamente determinado tal como a física me reconhece cosmologicamente determinado. STMSC: §77