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Assim, a compreensão de ser, própria da presença (Dasein), inclui, de maneira igualmente originária, a compreensão de “MUNDO” e a compreensão do ser dos entes que se tornam acessíveis dentro do mundo. STMSC: §4
Ao contrário, de acordo com um modo de ser que lhe é constitutivo, a presença (Dasein) tem a tendência de compreender seu próprio ser a partir daquele ente com quem ela se relaciona e se comporta de modo essencial, primeira e constantemente, a saber, a partir do “MUNDO” {CH: isto é, aqui, a partir do que é simplesmente dado}. STMSC: §5
A ontologia grega e sua história, que ainda hoje determina o aparato conceitual da filosofia, através de muitas filiações e distorções, é uma prova de que a presença (Dasein) se compreende a si mesma e o ser em geral a partir do “MUNDO”. STMSC: §6
Torna-se, assim, evidente que a interpretação antiga do ser dos entes se orienta pelo “MUNDO” e pela “natureza” em seu sentido mais amplo, retirando de fato a compreensão do ser a partir do “tempo”. STMSC: §6
E, no caso de “MUNDO” já ser em sisi mesmo um constitutivo da presença (Dasein), a elaboração conceitual do fenômeno do mundo requer uma visão penetrante das estruturas básicas da presença (Dasein). STMSC: §11
O “em-um-mundo”; com relação a este momento, impõe-se a tarefa de indagar sobre a estrutura ontológica de “MUNDO” e determinar a ideia de mundanidade como tal (cf cap. STMSC: §12
Não há nenhuma espécie de “justaposição” de um ente chamado “presença (Dasein)” a um outro ente chamado “MUNDO”. STMSC: §12
Sendo essencialmente desse modo, a presença (Dasein) pode, então, descobrir explicitamente o ente que lhe vem ao encontro no mundo circundante, saber algo a seu respeito, dele dispor, ter “MUNDO”. STMSC: §12
Ao contrário, deve pressupô-la e dela a fazer {CH: será que aqui se trata mesmo de “MUNDO”? STMSC: §12
Por isso, conhecer o mundo (noein), dizer e discutir o “MUNDO” (logos) funcionam como modo primário de ser-no-mundo, embora este último não seja concebido como tal. STMSC: §12
Em primeiro lugar, deve-se tornar visível o ser-no-mundo no tocante ao momento estrutural “MUNDO”. O cumprimento desta tarefa parece tão fácil e trivial que sempre se acredita poder-se dela prescindir. O que poderia significar descrever o “MUNDO” como fenômeno? Seria deixar e fazer ver o que se mostra no “ente” dentro do mundo. O primeiro passo consistiria, então, em elencar tudo o que se dá no mundo: casas, árvores, homens, montes, estrelas. Podemos retratar a “configuração” desses entes e contar o que neles e com eles ocorre. Mas é evidente que tudo isso permanecerá um “ofício” pré-fenomenológico que, do ponto de vista fenomenológico, não pode ser relevante. A descrição fica presa aos entes. É ôntica. O que, porém, se procura é o ser. Em sentido fenomenológico, determinou-se a estrutura formal de “fenômeno” como o que se mostra enquanto ser e estrutura de ser. STMSC: §14
Descrever fenomenologicamente o “MUNDO” significa: mostrar e fixar numa categoria conceitual o ser dos entes que simplesmente se dão dentro do mundo. Os entes dentro do mundo são as coisas, as coisas naturais e as coisas “dotadas de valor”. O seu caráter de coisa torna-se problema; e como o caráter de coisa das coisas dotadas de valor se edifica sobre o caráter da coisa natural, o tema primário é o ser das coisas naturais, a natureza como tal. A substancialidade é o caráter ontológico das coisas naturais, das substâncias. Esse caráter é o fundamento de tudo. O que constitui o seu sentido ontológico? Com isso damos à investigação uma direção unívoca de questionamento. STMSC: §14
Mas será que, investigando desse modo, questionamos ontologicamente o “MUNDO”? A problemática assim caracterizada é, sem dúvida, ontológica. Entretanto, mesmo que se lograsse a mais pura explicação do ser da natureza, através das afirmações fundamentais da física matemática, esta ontologia nunca alcançaria o fenômeno “MUNDO”. Em si mesma, a natureza é um ente que vem ao encontro dentro do mundo e que pode ser descoberto, seguindo-se caminhos e graus diferentes. STMSC: §14
Não deveríamos, então, ater-nos primeiro aos entes em que, numa primeira aproximação e na maioria das vezes, a presença (Dasein) se detém, isto é, às coisas “dotadas de valor”? Não serão elas que mostram “propriamente” o mundo em que vivemos? Talvez elas mostrem de fato o “MUNDO” de forma mais penetrante. Essas coisas, no entanto, são também entes “dentro” do mundo. STMSC: §14
Nem um retrato ôntico dos entes intramundanos e nem a interpretação ontológica do ser desses entes alcançariam, como tais, o fenômeno do “mundo “. Em ambas as vias de acesso para o ser “objetivo” já se “pressupõe”, e de muitas maneiras, o “MUNDO”. STMSC: §14
Não será então que, em última instância, se poderia dizer “MUNDO” simplesmente como determinação desses entes? Na verdade, chamamos esses entes de seres intramundanos. Será o “MUNDO” um caráter do ser da presença (Dasein)? Toda presença (Dasein) não terá sempre seu mundo? Mas com isso “MUNDO” não seria algo “subjetivo”? Como, então, seria possível um mundo “comum” “em” que nós, sem dúvida, somos e estamos? E quando se coloca a questão do “MUNDO”, que mundo está subentendido? Nem este e nem aquele, e sim a mundanidade do mundo em geral. Através de que caminho deparamo-nos com tal fenômeno? STMSC: §14
“Mundanidade” é um conceito ontológico e significa a estrutura de um momento constitutivo de ser-no-mundo. Este, nós o conhecemos como uma determinação existencial da presença (Dasein). Assim, a mundanidade já é em si mesma um existencial. Quando investigamos ontologicamente o “MUNDO”, não abandonamos, de forma nenhuma, o campo temático da analítica da presença (Dasein). Do ponto de vista ontológico, “MUNDO” não é determinação de um ente que a presença (Dasein) em sua essência não é. “MUNDO” é um caráter da própria presença (Dasein). Isto não exclui que o caminho de investigação do fenômeno “MUNDO” deva seguir os entes intramundanos e seu ser. A tarefa de “descrição” fenomenológica do mundo é tão pouco clara que já a sua determinação suficiente exige esclarecimentos ontológicos essenciais. STMSC: §14
A polissemia da palavra “MUNDO” salta aos olhos em seu uso frequente, bem como nas considerações tecidas até aqui. Seu esclarecimento pode vir a ser uma indicação dos fenômenos e de seus nexos referidos nas diferentes significações. STMSC: §14
1. Mundo é usado como um conceito ôntico, significando, assim, a totalidade dos entes que se podem simplesmente dar dentro do mundo. STMSC: §14
2. Mundo funciona como termo ontológico e significa o ser dos entes mencionados no item 1. “MUNDO” pode denominar o âmbito que sempre abarca uma multiplicidade de entes, como ocorre, por exemplo, na expressão “MUNDO” usada pelos matemáticos, que designa o âmbito dos objetos possíveis da matemática. STMSC: §14
3. Mundo pode ser novamente entendido em sentido ôntico. Nesse caso, é o contexto “em que” uma presença (Dasein) fática “vive” como presença (Dasein), e não o ente que a presença (Dasein) em sua essência não é, mas que pode vir ao seu encontro dentro do mundo. Mundo possui aqui um significado pré-ontologicamente existenciário. Deste sentido, resultam diversas possibilidades: mundo ora indica o mundo “público” do nós, ora o mundo circundante mais próximo (doméstico) e “próprio”. STMSC: §14
4. Mundo designa, por fim, o conceito existencial-ontológico da mundanidade. A própria mundanidade pode modificar-se e transformar-se, cada vez, no conjunto de estruturas de “mundos” particulares, embora inclua em si o a priori da mundanidade em geral. Terminologicamente tomamos a expressão mundo para designar o sentido fixado no item 3. Quando, por vezes, for usada no sentido mencionado no item 2, marcaremos este sentido, colocando a palavra entre aspas, “MUNDO”. STMSC: §14
Terminologicamente, o adjetivo derivado mundano indica, portanto, um modo de ser da presença (Dasein) e nunca o modo de ser de um ente simplesmente dado “no” mundo. O ente simplesmente dado “no” mundo, nós o chamaremos de pertencente ao mundo {CH: justamente a presença (Dasein) é obediente ao mundo} ou intramundano. STMSC: §14
Um passar de olhos pela ontologia tradicional mostrará que, junto com a ausência da constituição da presença (Dasein) como ser-no-mundo, também se salta por cima do fenômeno da mundanidade. Em seu lugar, tenta-se interpretar o mundo a partir do ser de um ente intramundano e, ademais, de um ente intramundano não descoberto como tal, ou seja, a partir da natureza {CH: “natureza” aqui entendida kantianamente, no sentido da física moderna}. Entendida em sentido ontológico-categorial, a natureza é um caso limite do ser de um possível ente intramundano. A presença (Dasein) só pode descobrir o ente como natureza num determinado modo de seu ser-no-mundo. Esse conhecimento tem o caráter de uma determinada desmundanização do mundo. Enquanto conjunto categorial das estruturas de ser de um ente determinado, que vem ao encontro dentro do mundo, a “natureza” nunca poderá tornar {CH: mas o contrário!} compreensível a mundanidade. Do mesmo modo, o fenômeno “natureza”, no sentido do conceito romântico de natureza, só poderá ser apreendido ontologicamente a partir do conceito de mundo, ou seja, através da analítica da presença (Dasein). STMSC: §14
No que diz respeito ao problema de uma análise ontológica da mundanidade do mundo, a ontologia tradicional, mesmo quando dele se dá conta, movimenta-se num beco sem saída. Por outro lado, uma interpretação da mundanidade da presença (Dasein), das possibilidades e modos de sua mundanização, haverá de mostrar por que, em seu modo de conhecer o mundo, a presença (Dasein) salta por cima do fenômeno da mundanidade, tanto do ponto de vista ôntico como ontológico. Saltar por cima já indica também a necessidade de precauções especiais para se obter um ponto de partida fenomenal conveniente, que não salte por cima do fenômeno da mundanidade. STMSC: §14
As indicações metodológicas já foram assim apresentadas. O ser-no-mundo e com isso também o mundo deve tornar-se tema da analítica no horizonte da cotidianidade mediana enquanto modo de ser mais próximo da presença (Dasein). Para se ver o mundo é, pois, necessário visualizar o ser-no-mundo cotidiano em sua sustentação fenomenal. STMSC: §14
O mundo mais próximo da presença (Dasein) cotidiana é o mundo circundante. Para se chegar à ideia de mundanidade, a investigação seguirá o caminho que parte desse caráter existencial do ser-no-mundo mediano. Passando por uma interpretação ontológica dos entes que vêm ao encontro dentro do mundo circundante, poderemos buscar a mundanidade do mundo circundante (circumundanidade). A expressão mundo circundante aponta no “circundante” para uma espacialidade. O “circundar”, constitutivo do mundo circundante, não possui, de maneira nenhuma, um sentido primordialmente “espacial”. O caráter espacial que pertence indiscutivelmente ao mundo circundante há de ser esclarecido, ao contrário, a partir da estrutura da mundanidade. Somente a partir daí poder-se-á ver o fenômeno da espacialidade da presença (Dasein), esboçado no §12. Ora, a ontologia tentou justamente interpretar o ser do “MUNDO” como res extensa, partindo da espacialidade. É em Descartes que se mostra a tendência mais extremada para uma ontologia do “MUNDO” desta espécie, ontologia edificada em contraposição à res cogitans que, porém, não coincide, nem do ponto de vista ôntico, nem do ontológico, com a presença (Dasein). Pode-se esclarecer a análise da mundanidade aqui tentada, distinguindo-a desta tendência ontológica cartesiana. É o que se haverá de cumprir em três etapas: A. Análise da mundanidade circundante e da mundanidade em geral. B. Esclarecimento da análise da mundanidade por contraposição à ontologia do “MUNDO” de Descartes. C. O circundante do mundo circundante e a “espacialidade” da presença (Dasein). STMSC: §14
Aqui, o ente não é objeto de um conhecimento teórico do “MUNDO” e sim o que é usado, produzido, etc. STMSC: §15
Uma interpretação assim orientada desconsidera que, para tanto, o ente deveria ser previamente compreendido como algo pura e simplesmente dado e que, em decorrência, um modo de lidar com o “MUNDO” que o descobre e dele se apropria passa a ter primado e autoridade. STMSC: §15
O “MUNDO”, porém, não resulta da reunião desses entes como uma soma. STMSC: §15
Mas, presença (Dasein) e ser} referiu a um “MUNDO” que lhe vem ao encontro, pois pertence essencialmente a seu ser uma referencialidade. STMSC: §18
Não nos contentaremos apenas com uma exposição sumária das coordenadas fundamentais da ontologia do “MUNDO” de Descartes. STMSC: §18
Como, por um lado, a extensão é um dos constitutivos da espacialidade e, segundo Descartes, chega até a ser idêntica a ela, e como, por outro lado, a espacialidade constitui, em certo sentido, o mundo, a discussão da ontologia cartesiana de “MUNDO” propicia igualmente um ponto de apoio negativo para a explicação positiva da espacialidade do mundo circundante e da própria presença (Dasein). STMSC: §18
A determinação de “MUNDO” como res extensa (§19). STMSC: §18
A discussão hermenêutica da ontologia cartesiana de “MUNDO” (§21). STMSC: §18
A extensão em comprimento, altura e largura constitui o ser propriamente dito da substância corpórea que chamamos “MUNDO”. STMSC: §19
Correlativamente, a prova para a extensão e a substancialidade do “MUNDO” por ela caracterizada realiza-se, de maneira a se mostrar de tal modo que todas as outras determinações desta substância, principalmente divisio, figura, motus, só podem ser compreendidas como modos da extensio, ao passo que a extensio é compreensível sine figura vel motu. STMSC: §19
Sem dúvida, com relação a Deus, esse ente necessita de produção e conservação, mas, dentro do âmbito dos entes criados, do “MUNDO” no sentido de ens creatum, existe algo que “não necessita de um outro ente”, no tocante à produção e conservação das criaturas, por exemplo do homem. STMSC: §20
Assim, tornaram-se claros os fundamentos ontológicos da determinação de “MUNDO” como res extensa: a ideia de substancialidade não é esclarecida no sentido de seu ser, sendo, ademais, apresentada como o que não se deixa esclarecer quando se segue o desvio pela propriedade principal da respectiva substância. STMSC: §20
Impõe-se uma questão crítica: Será que esta ontologia de “MUNDO” investiga o fenômeno do mundo? STMSC: §21
Contudo, por mais que isso seja correto e por mais equivocada que seja a própria caracterização ontológica deste determinado ente intramundano (natureza) – tanto a ideia de substancialidade quanto o sentido de existit e ad existendum assumido em sua definição – subsiste a possibilidade de se colocar e desenvolver de algum modo o problema ontológico do mundo, através de uma ontologia fundada na distinção radical entre Deus, eu e “MUNDO”. STMSC: §21
Na discussão crítica do ponto de partida cartesiano teremos, pois, de perguntar: Que modo de ser da presença (Dasein) é fixado como a via de acesso adequada ao que, enquanto extensio, Descartes identifica com o ser do “MUNDO”? STMSC: §21
Assim, de uma determinada ideia de ser, inserida no conceito de substancialidade e a partir da ideia de um conhecimento relativo ao ente assim conhecido, dita-se, por assim dizer, ao “MUNDO” o seu ser. STMSC: §21
Essa orientação turvou-lhe a visão do fenômeno do mundo, forçando a ontologia do “MUNDO” a entrar na ontologia de um ente intramundano determinado. STMSC: §21
A análise cartesiana de “MUNDO” possibilita, pela primeira vez, uma construção segura da estrutura da manualidade; necessita apenas de uma complementação, facilmente exequível, da coisa natural para transformá-la numa perfeita coisa de uso. STMSC: §21
Como a reconstrução e a “complementação” da ontologia tradicional do “MUNDO” chegam, em seu resultado, ao mesmo ente do qual partiu a análise acima referida da manualidade de instrumental e da totalidade conjuntural, surge a impressão de se ter esclarecido, de fato, o ser deste ente ou, ao menos, de tê-lo tomado como problema. STMSC: §21
Quando, porém, lembramos que a espacialidade manifestamente também constitui o ente intramundano, torna-se, enfim, possível “salvar” a análise cartesiana do “MUNDO”. STMSC: §21
O ponto de partida da extensão como determinação fundamental do “MUNDO” possui a sua razão fenomenal, embora nem a espacialidade do mundo, nem a espacialidade primeiramente descoberta dos entes que vêm ao encontro no mundo circundante e, sobretudo, a espacialidade da própria presença (Dasein) possam por ela ser compreendidas ontologicamente. STMSC: §21
Assim, por exemplo, com a “radiodifusão”, a presença (Dasein) cumpre hoje o dis-tanciamento do “MUNDO” através de uma ampliação e destruição do mundo circundante cotidiano, cujo sentido para a presença (Dasein) ainda não se pode totalmente avaliar. STMSC: §23
Enquanto ser-no-mundo, a presença (Dasein) já descobriu a cada passo um “MUNDO”. STMSC: §24
O “MUNDO” como um todo instrumental à mão perde o seu espaço, transformando-se em um contexto de coisas extensas simplesmente dadas. STMSC: §24
Não se indica nesta doação que se deve abstrair não apenas do “MUNDO” real e do ser dos outros “eus”, mas também de tudo o mais, com vistas à sua elaboração originária? STMSC: §25
Ao se querer identificar o mundo em geral com o ente intramundano, dever-se-ia então dizer: “MUNDO” é também presença (Dasein). STMSC: §26
Quando a presença (Dasein) descobre o mundo e o aproxima de si, quando abre para si mesma seu próprio ser, este descobrimento de “MUNDO” e esta abertura da presença (Dasein) se cumprem e realizam como uma eliminação das obstruções, encobrimentos, obscurecimentos, como um romper das distorções em que a presença (Dasein) se tranca contra si mesma. STMSC: §27
E não somente isto; a ontologia “mais imediata” da presença (Dasein) recebe previamente do “MUNDO” o sentido do ser em virtude do qual estes “sujeitos” se compreendem. STMSC: §27
A resposta encontra-se, quando se recorda o que, na indicação do fenômeno, já foi confiado a visão fenomenológica: o ser-em difere da interioridade de algo simplesmente dado “em” um outro; o ser-em não é propriedade de um sujeito simplesmente dado, separada ou apenas provocada pelo ser simplesmente dado do “MUNDO”; ao contrário, o ser-em é um modo de ser essencial do próprio sujeito. STMSC: §28
A disposição é tão pouco trabalhada pela reflexão que faz com que a presença (Dasein) se precipite para o “MUNDO” das ocupações numa dedicação e abandono irrefletidos. STMSC: §29
Que a circunvisão cotidiana se equivoque, devido à abertura primordial da disposição e esteja amplamente sujeita a ilusão, isto é, segundo a ideia de um conhecimento absoluto de “MUNDO”, um me ón. STMSC: §29
É justamente na visão instável e de humor variável do “MUNDO” que o manual se mostra em sua mundanidade específica, a qual nunca é a mesma. STMSC: §29
A disposição não apenas abre a presença (Dasein) em seu estar-lançado e dependência do mundo já descoberto em seu ser, mas ela própria e o modo de ser existencial em que a presença (Dasein) permanentemente se abandona ao “MUNDO” e por ele se deixa tocar de maneira a se esquivar de si mesma. STMSC: §29
A possibilidade essencial da presença (Dasein) diz respeito aos modos caracterizados de ocupação com o “MUNDO”, de preocupação com os outros e, nisso tudo, a possibilidade de ser para si mesma, em virtude de si mesma. STMSC: §31
Existencialmente, a fala é linguagem porque aquele ente, cuja abertura se articula em significações, possui {CH: para a linguagem, estar-lançado é essencial} o modo de ser-no-mundo, de ser lançado e remetido a um “MUNDO”. STMSC: §34
Que escutamos primeiramente motocicletas e carros, isso constitui, porém, um testemunho fenomenal de que a presença (Dasein), enquanto ser-no-mundo, já sempre se detém junto ao que está à mão dentro do mundo e não junto a “sensações”, cujo turbilhão tivesse de ser primeiro formado para propiciar o trampolim de onde o sujeito pudesse saltar para finalmente alcançar o “MUNDO”. STMSC: §34
Não é possível uma presença (Dasein), que não sendo tocada nem desviada pela interpretação mediana, pudesse colocar-se diante da paisagem livre de um “MUNDO” em si, para apenas contemplar o que lhe vem ao encontro. STMSC: §35
Ela se mantém oscilante e, desse modo, sempre é e está junto ao “MUNDO”, com os outros e consigo mesma. STMSC: §35
Repousando e permanecendo, a cura transforma-se em ocupação das possibilidades de ver o “MUNDO” somente em seus aspectos. STMSC: §36
Pretende apenas indicar que, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença (Dasein) está junto e no “MUNDO” das ocupações. STMSC: §38
Por si mesma, em seu próprio poder-ser si mesmo mais autêntico, a presença (Dasein) já sempre caiu de si mesma e decaiu no “MUNDO”. STMSC: §38
Decair no “MUNDO” indica o empenho na convivência, na medida em que esta é conduzida pela falação, curiosidade e ambiguidade. STMSC: §38
Ao contrário, constitui justamente um modo especial de ser-no-mundo em que é totalmente absorvido pelo “MUNDO” e pela co-presença (Dasein) dos outros no impessoal. STMSC: §38
O decair no “MUNDO” já não tem mais repouso. STMSC: §38
Pode-se, portanto, determinar a cotidianidade mediana da presença (Dasein) como ser-no-mundo aberto na decadência que, lançado, projeta-se e que, em seu ser junto ao “MUNDO” e em seu ser-com os outros, está em jogo o seu poder-ser mais próprio. STMSC: §39
Porque, na tradição, a problemática ontológica compreendeu primariamente o ser no sentido de ser simplesmente dado (“realidade”, “mundo”-real) e, por outro lado, o ser da presença (Dasein) permaneceu indeterminado do ponto de vista ontológico, é preciso discutir o nexo ontológico entre cura, mundanidade, manualidade e ser simplesmente dado (realidade). STMSC: §39
Imergir no impessoal junto ao “MUNDO” das ocupações revela algo como uma fuga de si mesmo da presença (Dasein), e isso enquanto seu próprio poder-ser propriamente. STMSC: §40
Chamamos de “fuga” de si mesmo o decair da presença (Dasein) no impessoal e no “MUNDO” das ocupações. STMSC: §40
O “MUNDO” não é mais capaz de oferecer alguma coisa, nem sequer a co-presença (Dasein) dos outros. STMSC: §40
A angústia retira, pois, da presença (Dasein) a possibilidade de, na decadência, compreender a si mesma a partir do “MUNDO” e da interpretação pública. STMSC: §40
A angústia, ao contrário, retira a presença (Dasein) de seu empenho decadente no “MUNDO”. STMSC: §40
Como a angústia já sempre determina, de forma latente, o ser-no-mundo, este, enquanto ser que vem ao encontro na ocupação junto ao “MUNDO”, pode sentir medo. STMSC: §40
Medo é angústia imprópria, entregue à decadência do “MUNDO” e, como tal, angústia nela mesma velada. STMSC: §40
O acoplamento da totalidade referencial, das múltiplas remissões do “para-quê” ao que está em jogo na presença (Dasein) não significa a fusão de um “MUNDO” simplesmente dado de objetos com um sujeito. STMSC: §41
A interpretação do compreender mostrou, ao mesmo tempo, que, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, ela já se colocou na compreensão de “MUNDO”, segundo o modo de ser da decadência. STMSC: §43
Confunde-se e não se chega a distinguir mundo enquanto o contexto do ser-em e “MUNDO” enquanto ente intramundano em que se empenham as ocupações. STMSC: §43
No entanto, com o ser da presença (Dasein), o mundo já se abriu de modo essencial; com a abertura de mundo, já se descobriu o “MUNDO”. STMSC: §43
Tais expectativas, intenções e esforços nascem da pressuposição, ontologicamente insuficiente, de algo com relação ao qual um “MUNDO” simplesmente dado deve comprovar-se independente e exterior. STMSC: §43
Após a desagregação do fenômeno originário do ser-no-mundo, desdobra-se, com base no que resta, ou seja, no sujeito isolado, a correlação com um “MUNDO”. STMSC: §43
Ela se diferencia, porém, em seus fundamentos de todo realismo porque o realismo toma a realidade do “MUNDO” como algo que necessita de prova e, ao mesmo tempo, como algo que pode ser comprovado. STMSC: §43
Como um em compreendendo, a presença (Dasein) pode compreender-se tanto a partir do “MUNDO” e dos outros entes quanto a partir de seu poder-ser mais próprio. STMSC: §44
Numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença (Dasein) se perdeu em seu “MUNDO”. STMSC: §44
O finado deixou nosso “MUNDO” e o deixou para trás. STMSC: §47
Com relação a esse ser, ser do empenho cotidiano numa convivência junto ao “MUNDO” ocupado, não apenas a substituição é possível, como chega a constituir o conviver. STMSC: §47
Caso contrário não – “MUNDO”} como uma espécie de ser ao qual pertence um ser-no-mundo. STMSC: §49
Pois existir faticamente não é somente um poder-ser-lançado no mundo, genérico e indiferente, já sendo também um empenhar-se no “MUNDO” das ocupações. STMSC: §50
Com o seu mundo, ele é, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, uma presença (Dasein) para si mesmo, e isso de tal modo que, a partir do “MUNDO” das ocupações, ele já abriu para si mesmo o poder-ser. STMSC: §55
O que poderia ser mais estranho para o impessoal, perdido no “MUNDO” das múltiplas ocupações, do que o si-mesmo singularizado na estranheza de si e lançado no nada? STMSC: §57
Lançada em seu “pre” (das Da), a presença (Dasein) já está sempre faticamente remetida a um “MUNDO” determinado, o seu. STMSC: §60
Essa abertura própria, porém, modifica, de forma igualmente originária, a descoberta do “MUNDO” e a abertura da co-presença (Dasein) dos outros nela fundada. STMSC: §60
Quanto a seu “conteúdo”, o “MUNDO” à mão não se torna um outro mundo, o círculo dos outros não se modifica, embora, agora, o ser-para o que está à mão, no modo de compreender e ocupar-se, e o ser-com da preocupação com os outros sejam determinados a partir de seu poder-ser mais próprio. STMSC: §60
O ser decadente junto às ocupações imediatas do “MUNDO” guia a interpretação cotidiana da presença (Dasein) e encobre, onticamente, o ser próprio da presença (Dasein), a recusando {CH: equívoco! STMSC: §63
Na descoberta de “MUNDO”, guiada pela circunvisão nas ocupações, visualiza-se conjuntamente a ocupação. STMSC: §63
E se, na maior parte das vezes, a presença (Dasein) se interpreta a partir da perdição no “MUNDO” das ocupações? STMSC: §63
A auto-interpretação cotidiana, porém, tem a tendência de se compreender a partir do “MUNDO” das ocupações. STMSC: §64
A atualização só se esclarecerá mediante a interpretação temporal da decadência no “MUNDO” das ocupações que nela encontra o seu sentido existencial. STMSC: §68
No estar-lançado, a presença (Dasein) também se esgarça, ou seja, lançada no mundo, ela se perde no “MUNDO”, em referindo-se faticamente àquilo de que se ocupa. STMSC: §68
Chamamos de modo de lidar no e com o mundo circundante o ser que se ocupa junto ao “MUNDO”. STMSC: §69
Somente porque se descobre o que opõe resistência com base na temporalidade ekstática da ocupação é que a presença (Dasein) pode faticamente compreender-se em seu abandono a um “MUNDO” que ela nunca domina. STMSC: §69
E é por isso que a presença (Dasein) faticamente existente, de algum modo, já sempre se reconhece também num “MUNDO” estranho. STMSC: §69
Neste intuito, observaremos o “surgimento” da atitude teórica frente ao “MUNDO” a partir da ocupação do manual, guiada pela circunvisão. STMSC: §69
Lançada, ela está referida a um “MUNDO” e existe faticamente com os outros. STMSC: §74
O “MUNDO” é, ao mesmo tempo, solo e palco, pertencendo, como tal, à ação e à transformação cotidianas. STMSC: §75
Lançada, ela se entrega ao “MUNDO” e decai, ocupando-se dele. STMSC: §79
Como a ocupação cotidiana se compreende a partir do “MUNDO” das ocupações, ela conhece o “tempo” que ela toma não como o seu. STMSC: §79
Entregue ao “MUNDO” descoberto em seu pre (das Da) e dependente de suas ocupações, a presença (Dasein) aguarda seu poder-ser-no-mundo. STMSC: §80
Isso implica que: com a temporalidade da presença (Dasein) que, lançada e entregue ao “MUNDO”, dá a si mesma tempo, também já se descobriu o “relógio”, ou seja, um manual que, retornando regularmente, se fez acessível na atualização que aguarda. STMSC: §80