LEIBNIZ (Gottfried Wilhelm), filósofo e matemático alemão (Leipzig 1646 — Hanôver 1716). Gênio precoce, com quinze anos era iniciado na filosofia escolástica e lera obras das literaturas grega e latina. Foi estudar matemática em Iena, onde entreviu os princípios do cálculo diferencial. De lá, passou para Altdorf, onde estudou jurisprudência. Sua vida foi marcada não só por suas obras filosóficas, mas também por suas descobertas matemáticas e uma intensa atividade política: em 1672, vai a Paris e esforça-se para obter o apoio de Louis XIV para a ideia de conquistar o Egito; apoia em 1678 os direitos dos príncipes alemães no Império e expõe a Pedro, o Grande, um plano para introduzir a cultura ocidental entre seus povos, achando-se envolvido em todas as negociações diplomáticas. Suas descobertas matemáticas determinam a forma de sua filosofia. O Novo método para a determinação dos máxima e dos minima (1684) enuncia os princípios do cálculo infinitesimal e funda a ciência do movimento, ou “dinâmica”. Pensava Leibniz que o movimento que percebemos exprime uma força de natureza espiritual, e que só uma reflexão sobre o movimento pode iniciar-nos nas realidades metafísicas, na presença de Deus no universo. É notadamente autor das Meditações sobre o conhecimento, a verdade e as ideias (1684), onde distingue sua filosofia da de Descartes; dos Novos ensaios sobre o entendimento humano (1704), onde expõe sua teoria sobre o conhecimento; de uma Teodiceia (1710), onde desenvolve seu otimismo metafísico, e de uma Monadologia (1714), onde expõe sua concepção geral do universo. (V. mônada) [Larousse]
Temos em Leibniz um desses gênios universais que surgem de tempos em tempos, como para testemunhar a capacidade intelectual do homem. Com efeito, a tudo em que toca ou que pede emprestado ele imprime o seu cunho próprio; e a sua concepção das coisas é tal que a partir dele toda a especulação futura deverá levá-la em conta.
Nasceu em Leipzig no ano de 1646 e fez os seus estudos no Ginásio São Nicolau, depois na universidade dessa cidade, onde seu pai, jurisconsulto, era professor de moral. De origem eslava não tem ele senão o nome, pois sua família, radicada na Saxônia, onde ocupara posições de relevo, era de pura raça alemã. O próprio Gottfried Wilhelm se distinguiu na vida política e social, granjeando a consideração dos contemporâneos pela sua atuação nos negócios públicos antes de ser conhecido como filósofo.
Todavia, desde a juventude havia entrado em contato com os pensadores da época, Descartes, Gassendi, Locke, interessando-se apaixonadamente pela filosofia. Seu mestre, Thomasius, iniciou-o na leitura de Aristóteles. Enquanto cursava direito entregava-se a pesquisas científicas já bastante avançadas, estudando, a propósito desse mesmo Gassendi, a figura e o movimento dos astros. Passou os anos de 1672 a 1676 em Paris, encarregado de uma missão diplomática em que aliás fracassou e, nomeado bibliotecário de Hanovre pelo Príncipe de Brunswick-Luneburgo, regressou por via de Londres e Amsterdão. Conselheiro muito acatado pelos soberanos desse principado, entre outros por Jorge Luís, o futuro Jorge I da Inglaterra, esteve íntima e ativamente associado aos negócios de estado. Chamado a Viena pelo Imperador, ali permaneceu dois anos, de 1712 a 1714, e, tendo retornado mais uma vez ao Hanovre, morreu em 1716.
Não se pense entretanto que essa vida pública, tão ativa e eficiente, tenha prejudicado muito a do filósofo e que Leibniz não o tenha sido senão acidentalmente. Era um especulativo por natureza e a elaboração do seu sistema, sem o absorver por completo, preocupava-o muito mais do que os afazeres políticos — aos quais, aliás, não se poupava. Aos quinze anos, no Rosental, o parque de Leipzig, conforme ele mesmo relata, ponderava os argumentos de Demócrito e de Aristóteles; e não lhe pareceu que tivesse levado a cabo a elaboração dos seus princípios senão “após uma deliberação de vinte anos”. Vê-lo-emos envolvido, com muito mais paixão do que nas lutas da diplomacia, nas controvérsias do seu tempo, conversando com Arnauld sobre a transubstanciação, a propósito de Descartes, e sobre a reunião das igrejas com Bossuet.
Não construiu, todavia, um desses vastos monumentos tais como a Ética de Spinoza, em que um homem encerra todo o seu pensamento. As duas únicas grandes obras que possuímos dele, os Novos ensaios sobre o entendimento humano, escritos em 1704, e a Teodiceia, em 1710, visam pontos especiais, embora os problemas gerais também sejam ai formulados; a primeira dirige-se contra o sistema de Locke e a segunda trata expressamente da “liberdade do homem” e da “origem do mal”. O restante do pensamento de Leibniz, sobretudo em metafísica, deve ser procurado em escritos menores disseminados aqui e ali, e na sua Correspondência. Um opúsculo célebre, porém, a Monadologia, escrita em francês, em 1714, para o Príncipe Eugênio da Saboia, encerra de maneira caótica, bastante confusa e por vezes contraditória, a essência da doutrina. É daí que convém partir, embora não nos devamos ater a ele, para formar um ideia geral desta doutrina. [Truc]
Muitos aspectos da filosofia de Gottfried Wilhelm Leibniz (1648-1716) já foram estudados por nós. Aceitava Leibniz que a natureza não dá saltos. Um estado passa ao outro subsequente, por meio de uma série infinita de intermediários. Há, assim, uma perfeita continuidade na natureza. E essa continuidade só poderia ser expressada através de uma análise do infinito. Opõe-se Leibniz à física cartesiana, sobretudo à concepção de que o corpo seja apenas extensão. O mecanismo de Descartes é por ele substituído por um dinamismo, que o seu conceito novo de força iria oferecer.
O universo é harmônico, e foi preestabelecido assim por Deus (harmonia preestabelecida). Tudo quanto sucede acontece por uma disposição já previamente determinada pelo Criador. [MFS]
Leibniz é um grande espírito. É um dos filósofos mais consideráveis que conheceu a humanidade. É um dos homens de quem com maior razão se pode dizer que são cabeças enciclopédicas. Está realmente à altura de um Aristóteles ou de um Descartes. No seu tempo teve uma autoridade científica indiscutida, não somente em filosofia, mas também em física, em matemática, em jurisprudência em teologia. Em tudo aquilo em que ele pôs a mão alcançou os mais altos cumes do saber, da meditação, da percepção lógica no desenvolvimento do seu pensamento.
Pois bem: Leibniz, que viveu na segunda metade do século XVII, teve a percepção claríssima de onde se encontrava a falha, ou defeito, o ponto fraco do empirismo inglês; e isso apesar de não conhecer do empirismo inglês nada mais que a obra de Locke. Todavia, bastou-lhe o conhecimento da obra de Locke para chegar logo logo ao ponto central onde estava a originalidade, mas ao mesmo tempo a falha, o perigo do empirismo inglês. Viu imediatamente que o erro do empirismo consistia no seu intento de reduzir o racional a fático; a razão a puro fato. Porque há uma contradição fundamental nisso: se a razão se reduz a puro fato, deixa de ser razão; se o racional se converte em fático, deixa de ser racional, porque o fático é aquilo que é sem razão de ser, enquanto que o racional é aquilo que é razoavelmente; quer dizer, não podendo ser de outra maneira. Por conseguinte, viu imediatamente, com uma grande clareza, que o defeito fundamental de todo psicologismo, ao considerar o pensamento como vivência pura, é que o racional se convertia em puro fato, quer dizer, deixava cair sua racionalidade como um adminículo inútil. Porém não existe nada mais contraditório que isso: que o racional deixe cair sua racionalidade, porque então o que resta é o irracional. [Morente]