(gr. tapeinophrosyne; lt. humilitas; in. Humility; fr. Humilité, al. Demut; it. Umiltà).
Atitude de abjeção voluntária, típica da religiosidade medieval, sugerida pela crença na natureza miserável e pecaminosa do homem. Neste sentido, a humildade é ilustrada e exaltada por Bernard de Clairvaux: “A humildade é a virtude graças à qual o homem se avilta com verdadeiro reconhecimento de si mesmo” (De gradibus humilitatis et superbiae, em P. L., 182B, col. 942). Nesse sentido, a humildade era desconhecida do mundo antigo. S. Paulo, que foi o primeiro a empregar essa palavra, entendeu-a como falta de espírito de competição e de vangloria (Pbilipp., II), vendo seu modelo em Cristo, que, com a encarnação, rebaixou-se até o homem (Ibid., II, 3-11). Da mesma forma, S. Agostinho fala da humildade sobretudo a propósito da via humilitatis, que é a encarnação do Verbo para a redenção dos homens: nesse sentido, contrapõe a humildade cristã à soberba dos platônicos, que sabiam tantas coisas, mas ignoravam a encarnação (Conf., VII, 9). Tomás de Aquino considerava a humildade como a parte da virtude “que tempera e freia o ânimo, a fim de que ele não tenda desmesuradamente às coisas mais altas” e veja nelas o complemento da magnanimidade que “fortalece o ânimo contra o desespero e impele-o a perseguir as grandes coisas, de acordo com a reta razão” (S. Th., II, 2, q. 161, a. 1). Mas é óbvio que, neste sentido, a humildade nada mais é que a magnanimidade em significado aristotélico (v. Magnanimidade) e nada tem a ver com a humildade no sentido atribuído por S. Bernardo.
É frequente a oposição dos filósofos ao significado medieval de humildade; outras vezes procuram reconduzi-la a um significado compatível com a ética clássica. Spinoza negava que a humildade fosse uma virtude e julgava-a uma emoção passiva, porquanto ela nasce do fato de “o homem contemplar sua própria impotência”. Entretanto, se ele pensa nessa impotência em relação a um ser mais perfeito, esse pensamento favorece sua potência de ação e por isso não é humildade, mas virtude (Et., IV, 53). Kant distingue a humildade moral, que é “o sentimento da pequenez do nosso valor, comparado com a lei”, da humildade espúria, que é “a pretensão de, por meio da renúncia, adquirir algum valor rhoral de si mesmo, um valor moral oculto”. A pretensão de superar os outros rebaixando-se é uma ambição oposta ao dever para com os outros; utilizar esse meio para obter o favor dos outros (Deus ou homem que seja) é hipocrisia e adulação (Met. derSitten, II, § 11). Hegel afirmava que a humildade “é a consciência de Deus e da sua essência como amor” (Philosophische Propädeutik, § 207, cf. Philosophie der Religion, ed. Glockner, II, p. 553). Entretanto, por outro lado, o protesto de Nietzsche, que vê na humildade simplesmente um aspecto da “moral dos escravos”, obviamente é dirigido ao típico conceito medieval de humildade (cf. Werke, VII, pp. 348 ss.). [Abbagnano]