Humboldt

Pode-se dizer que o iniciador da linguística moderna foi Wilhelm von Humboldt (1767-1835). Herder sustentara que devia haver nexo íntimo entre língua e caráter nacional. Pois bem, Humboldt precisou a ideia de Herder, afirmando que toda língua tem a sua própria estrutura, típica e distintiva, que por um lado reflete e por outro condiciona o modo de pensar e de se expressar das pessoas que a usam.

Herder também dissera que “a cadeia de pensamentos torna-se cadeia de palavras”. Humboldt estudara muitas línguas que, como o chinês, o malaio, o basco, o hebraico e também as línguas ameríndias, não pertencem à esfera indo-europeia. Impressionado com as grandes diversidades estruturais entre os diferentes idiomas, Humboldt pensava que era possível instituir uma relação tão estreita entre a língua e a mentalidade de um povo que facilitasse deduzir uma da outra.

Para Humboldt, a língua é contínua criação do espírito humano. Ela é uma enérgeia e não um érgon. E é ela, precisamente, que cria o pensamento: assim como os números servem para calcular, do mesmo modo as palavras nos servem para pensar. Escreve Humboldt: “A natureza da língua consiste em derramar a matéria do mundo sensível no molde dos pensamentos. Ou ainda: as línguas não são o meio para representar uma realidade já conhecida (…), mas (são o meio) para descobrir uma realidade antes desconhecida. Sua diversidade não é de sons e sinais, mas de óticas do mundo”. A ideia humboldtiana de ligação entre língua nacional e raça foi transformada sob o nazismo em justificação (pseudoscientífica) da superioridade da raça “ariana”.

Humboldt exerceu profunda influência sobre a ciência alemã da primeira metade do século XLX. E seus ensinamentos tiveram efeitos benéficos sobre os estudiosos de gramática comparada. Com efeito, por volta de fins do século XVIII descobrira-se que a antiga língua sagrada da índia, isto é, o sânscrito, era aparentada com o latim, com o grego e com outras línguas europeias. Sir William Jones (o orientalista inglês que, independentemente de outros, realizou essa descoberta), falando sobre o parentesco entre o sânscrito e as línguas europeias, fez questão de dizer, em 1786, que se tratava de “afinidade tão forte que nenhum filólogo poderia examinar tais línguas sem pensar que elas foram originadas do mesmo tronco, que talvez não exista mais”. [Reale]