hierogamia

Perenialistas
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A hierogamia neolítica e o rito de separação, como origem do cosmo

A Criaçãocriação do mundo, por exemplo, não determinava nenhuma perplexidade. Nada parecia mais límpido. O grande ritual de criação partia, com efeito, ao final da neolítico – era neolítica, de um homem e de uma mulher sexualmente acoplados: estava aí o céu e a terra, primitivamente confundidos, e não formando senão um só bloco; um terceiro oficiante, que representava o ser humano, intervinha de repente para separá-los; ele levantava por seus braços aquele dos dois primeiros atores sagrados que se encontrava sobre o outro; tinha-se assim, por causa do homem, uma cisão entre o céu e a terra; se a mulher, na união hierogâmica, ocupava a posição superior, alcançava-se ao Céu-Mãe e à Terra-Pai (tal como no Antigo Egito, onde Nout, a deusa do céu, é frequentemente figurada como desacoplada do deus terra, Geb, para o qual ela estende os braços e as pernas; é Shou, o espaço-atmosfera, que efetua a disjunção); quando, ao contrário, o lugar de cima era atribuído ao elemento masculino, o rito de separação conduzia ao Céu-Pai e à Terra-Mãe.

O problema do começo do mundo físico se encontrava desde então, graças a esta liturgia, totalmente elucidado. No princípio se encontrava o que se chamará mais tarde, por incompreensão, o Caos, que nada mais era, a princípio, que o universo do dinamismo — diríamos atualmente o universo da energia radiante — quer dizer um cosmos qualitativo, onde os seres e os objetos não aparecem como distintos uns dos outros. A violência do homem rompe esta unidade primordial e introduz a separação – segregação espacial e temporal. Os seres foram doravante cindidos e parecem deter cada um uma parcela autônoma de existência. Eles não se integram mais em um só e mesmo Ser. Houve doravante um domínio divino e um domínio humano. O Céu e a Terra constituíram dois polos em aparência independentes, embora complementares. O primeiro homem tinha, verdadeiramente, feito nascer, por seu pecado, o mundo que temos sob os olhos; tinha-se aí a causa do universo.

Teríamos, certamente, nos equivocado muito em desdenhar estas concepções, pois não descobrimos nada melhor para explicar que o cosmos da energia radiante, que é o único real e eterno, seja apreendido pelo ser humano não em sua essência, mas sob o aspecto de um cosmos de mecanismos espaço-temporais e de matéria opaca. Ao final do neolítico estas visões ofereciam além do mais a vantagem de se associar estreitamente ao ritual fálico, o qual se propunha restabelecer, pela união sexual praticada de uma maneira santa, de como sacramento, a unidade primitiva do céu e da terra; a integração de um sexo no outro, efetuada em certas condições, suprimia o Múltiplo e elevava o casal humano à existência divina primordial. Tal é a significação, extremamente profunda e nobre, dos cultos fálicos, nos quais os historiadores das religiões veem tão tolamente, com desprezo, uma «magia da fecundidade»: aquilo que estas práticas só se tornaram ao cabo de muitos milênios, quando, a ascese iniciática tendo cedido, sua grandeza cessou de ser entendida.

Esta cosmogonias demiurgicas – liturgia de criação punha em relevo, por outro lado, o papel de demiurgo que foi aquele do primeiro homem no advento do mundo apreendido como mundo físicofísico. Ela fez aparecer que este universo, em seu elemento inferior, quer dizer espaçotemporal, se encontra totalmente dependente do estado de decadência do pensamento humano, e que a restauração do potencial mental primitivo marca o retorno ao super-homemestado sobre-humano, dito de outra maneira, à anulação do cosmos fenomenal. — Ela mostrou, por outro lado, que na origem de tudo se descobre o Amor: o amor total e integralmente unificador, no mundo de radiância; em seguida, por degradação, ao estado de decadência, no mundo espaçotemporal da separação, o amordesejo. De tais noções não resultaram, repitamos, investigações especulativas. Elas foram a expressão direta das ritos – cerimônias rituais. Elas se referiam, como dissemos acima, à liturgiaexperiência litúrgica. Eis aí o que lhes deu força, sua tenacidade, e também sua magnificência.