hermetismo

(in. Hermetism; fr. Hermétisme; al. Hermetismus; it. Ermetismó).

Indica-se com este termo a doutrina filosófica contida em alguns textos místicos que apareceram no séc. I d.C. e chegaram até nós com o nome de Hermes Trismegisto. Esses escritos tendem a reintegrar a filosofia grega na religião egípcia. Hermes é identificado com o deus egípcio Theut ou Thot. Esses textos são escritos em tom místico e defendem contra o cristianismo o paganismo e as religiões orientais. No séc. XV, foram traduzidos para o latim por Marsílio Ficino e impressos pela primeira vez em 1471 (Mercuri trismegisti liber de potestate et sapientia Dei, Treviso, 1471) .

O substantivo hermetismo e o adjetivohermético” passam, pois, a designar qualquer doutrina abstrusa, difícil ou acessível apenas a quem possua uma chave para interpretá-la. (Abbagnano)


A qualidade do que é difícil de compreender. — O hermetismo designava primitivamente a doutrina secreta dos alquimistas na Idade Média: seu objetivo era a transmutação dos metais e a medicina universal. O termo é atualmente sinônimo de “ciência oculta” e engloba as experiências dos faquires, videntes, radiestesistas e outros profissionais do mistério. (V. ciências ocultas) (Larousse)


a) Doutrina esotérica dos primitivos gregos, ensinada a iniciados, cuja origem se atribui a Hermes. Entre suas ideias fundamentais estão a crença na existência de formas separadas e de muitas das ideias fundamentais do platonismo, da paz entre os homens, do exame dialético dos contrários. Hermes, na mitologia grega, corresponde ao Mercúrio dos romanos.

b) O nome hermetismo passou, no Ocidente, a significar todas as práticas secretas da magia e da alquimia.

c) Os herméticos mantiveram os seus rituais, dentro do maior segredo. Daí a palavra tomar, além do sentido de referir-se aos seus seguidores, também o de indicar tudo quanto é secreto, tudo quanto está totalmente fechado (hermeticamente fechado). O hermetismo tem sua origem nos livros egípcios de Thot Trimegistos, que são conhecidos apenas na versão grega.

d) Na Idade Média e na Moderna o termo foi usado para referir-se aos alquimistas.

e) Também refere-se a certas seitas esotéricas, que se consideram fiéis continuadoras do pensamento hermético, cuja obra tradicional é o Corpus Hermeticum. [MFSDIC]


São conhecidas as muitas influências, em parte árabes, exercidas durante a Idade Média pelas ideias de poderes do mundo ou de “inteligências” (entendidas por uns como pensamentos de Deus, por outros, como anjos) na filosofia cristã da natureza; mas é conhecida sobretudo a preocupação que, continuando esse gênero de especulação, tiveram os melhores espíritos da Renascença de transpor novamente para o domínio cristão a cabala mágica e mística dos judeus. Notou-se, nessa época, que um bom número de Padres da Igreja tinham arranjado para o misterioso Hermes Trismegisto um lugar de honra entre os profetas e os sábios pagãos, e que livros herméticos tinham circulado desde o começo da Idade Média até a baixa Idade Média. A Renascença, por seu lado, celebra em Hermes Trismegisto o grande contemporâneo de Moisés e o ancestral da sabedoria grega (lembremos a sua venerável figura incrustada no pavimento da catedral de Sena). Se, por meio dele e de outros pensadores pagãos, os poetas, os artistas e os teólogos, com um entusiasmo respeitoso, fazem voltar para seu foco cristão os raios dispersos da luz divina, muito mais peso tem o outro repatriamento, o da cabala, cuja tradição oral secreta é feita remontar aos tempos de Moisés. As primeiras discussões defendendo ou contestando as doutrinas esotéricas da cabala são atribuídas aos judeus espanhóis do século XII, convertidos ou não; três séculos mais tarde foi tentado o contato com ela por Reuchlin, na Alemanha, por Ficino e principalmente por Pico della Mirandola; e o surpreendente cardeal Egídio de Viterbo (1469-1555) procurou usar a cabala na exegese da Sagrada Escritura, non peregrina, sed domestica methodo, “empregando um método que não lhe é estranho, mas de acordo com o seu espírito”. Por ordem de Clemente VII, esse príncipe da Igreja redigiu seu turbulento tratado da Shekinah, dedicado a Carlos V. Seria fácil citar, além desses poucos nomes célebres, uma multidão de precursores e imitadores de menor envergadura; o que importa aqui é que essa penetração do esoterismo pagão e judaico correspondia inegavelmente ao espírito do humanismo, que esperava insuflar uma vida nova na teologia cristã estagnada, reunindo assim raios dispersos da revelação, sem duvidar, um só instante, da possibilidade de reunir todos esses elementos contrastantes na cristã autêntica. Pico della Mirandola, de modo particular, afirmou claramente que não procurava nenhum sincretismo: “Trago em minha fronte o nome de Jesus, e morrerei com alegria pela te que tenho nele. Não sou mágico, nem judeu, nem ismaelita, nem herege; é a Jesus que rendo culto, é a sua cruz que trago em meu corpo”. Também nosso autor subscreveria essa afirmação.

De modo análogo, houve outras “repatriações” notáveis de sabedoria hermética e cabalística para o pensamento bíblico e cristão como, de modo especial, as transposições, feitas por Martin Buber, do hassidismo, que era profundamente marcado pela cabala, para o nível da percepção moderna, e a transformação, de um vigor igualmente tão criativo, operada pelo filósofo Franz von Baader, incorporando a cristosofia de Jacob Boehme à concepção católica do mundo. Mencionaremos ainda, brevemente, uma terceira transposição, menos clara, porém, a saber, a da alquimia e a da magia antigas para as esferas da psicologia das profundezas, feita por C. G. Jung. Quanto às presentes meditações, elas vão todas no mesmo sentido que as grandes contribuições de Pico della Mirandola e Baader, apesar de não decorrerem delas diretamente. Os afluentes místicos, mágicos e ocultos que alimentam o rio de suas reflexões são bastante variados, mas isso não impede que essas águas, misturando-se, cheguem a uma contemplação cristã multiforme, mas unida em seu fundo. (Hans Urs von Balthasar)


São conhecidas as muitas influências, em parte árabes, exercidas durante a Idade Média pelas ideias de poderes do mundo ou de “inteligências” (entendidas por uns como pensamentos de Deus, por outros, como anjos) na filosofia cristã da natureza; mas é conhecida sobretudo a preocupação que, continuando esse gênero de especulação, tiveram os melhores espíritos da Renascença de transpor novamente para o domínio cristão a cabala mágica e mística dos judeus. Notou-se, nessa época, que um bom número de Padres da Igreja tinham arranjado para o misterioso Hermes Trismegisto um lugar de honra entre os profetas e os sábios pagãos, e que livros herméticos tinham circulado desde o começo da Idade Média até a baixa Idade Média. A Renascença, por seu lado, celebra em Hermes Trismegisto o grande contemporâneo de Moisés e o ancestral da sabedoria grega (lembremos a sua venerável figura incrustada no pavimento da catedral de Sena). Se, por meio dele e de outros pensadores pagãos, os poetas, os artistas e os teólogos, com um entusiasmo respeitoso, fazem voltar para seu foco cristão os raios dispersos da luz divina, muito mais peso tem o outro repatriamento, o da cabala, cuja tradição oral secreta é feita remontar aos tempos de Moisés. As primeiras discussões defendendo ou contestando as doutrinas esotéricas da cabala são atribuídas aos judeus espanhóis do século XII, convertidos ou não; três séculos mais tarde foi tentado o contato com ela por Reuchlin, na Alemanha, por Ficino e principalmente por Pico della Mirandola; e o surpreendente cardeal Egídio de Viterbo (1469-1555) procurou usar a cabala na exegese da Sagrada Escritura, non peregrina, sed domestica methodo, “empregando um método que não lhe é estranho, mas de acordo com o seu espírito”. Por ordem de Clemente VII, esse príncipe da Igreja redigiu seu turbulento tratado da Shekinah, dedicado a Carlos V. Seria fácil citar, além desses poucos nomes célebres, uma multidão de precursores e imitadores de menor envergadura; o que importa aqui é que essa penetração do esoterismo pagão e judaico correspondia inegavelmente ao espírito do humanismo, que esperava insuflar uma vida nova na teologia cristã estagnada, reunindo assim raios dispersos da revelação, sem duvidar, um só instante, da possibilidade de reunir todos esses elementos contrastantes na cristã autêntica. Pico della Mirandola, de modo particular, afirmou claramente que não procurava nenhum sincretismo: “Trago em minha fronte o nome de Jesus, e morrerei com alegria pela te que tenho nele. Não sou mágico, nem judeu, nem ismaelita, nem herege; é a Jesus que rendo culto, é a sua cruz que trago em meu corpo”. Também nosso autor subscreveria essa afirmação.

De modo análogo, houve outras “repatriações” notáveis de sabedoria hermética e cabalística para o pensamento bíblico e cristão como, de modo especial, as transposições, feitas por Martin Buber, do hassidismo, que era profundamente marcado pela cabala, para o nível da percepção moderna, e a transformação, de um vigor igualmente tão criativo, operada pelo filósofo Franz von Baader, incorporando a cristosofia de Jacob Boehme à concepção católica do mundo. Mencionaremos ainda, brevemente, uma terceira transposição, menos clara, porém, a saber, a da alquimia e a da magia antigas para as esferas da psicologia das profundezas, feita por C. G. Jung. Quanto às presentes meditações, elas vão todas no mesmo sentido que as grandes contribuições de Pico della Mirandola e Baader, apesar de não decorrerem delas diretamente. Os afluentes místicos, mágicos e ocultos que alimentam o rio de suas reflexões são bastante variados, mas isso não impede que essas águas, misturando-se, cheguem a uma contemplação cristã multiforme, mas unida em seu fundo. (Hans Urs von Balthasar)