VIDE teoria do conhecimento, gnosis
Entendendo-se por ‘conhecimento’ o que resulta do ato do conhecer no qual se aspira ao saber teórico das situações objetivas —, sendo portanto o ‘conhecer’ a apreensão teórica dos objetos, seus modos e relações, e o ‘conhecimento’ o resultado da atividade cognoscitiva —, sua indagação é tarefa da disciplina filosófica denominada ‘gnosiologia’ ou ‘teoria do conhecimento’, que é uma parte da teoria geral da ciência. O papel que a gnosiologia ocupa no conjunto da filosofia é o de teoria material da ciência ou teoria dos princípios materiais do conhecimento humano, diferentemente pois do papel da lógica, que estuda o pensamento e suas relações entre si e não a relação entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido.
Assim, enquanto a lógica investiga os princípios formais do conhecimento, isto é, as formas e as leis mais gerais do pensamento humano, a gnosiologia dirige-se aos supostos materiais mais gerais do conhecimento científico; enquanto a primeira prescinde da referência do pensamento aos objetos e considera aquele puramente em si mesmo, a última dirige-se justamente para a significação objetiva do pensamento, para a sua referência ao objeto; enquanto a lógica pergunta pela correção formal do pensamento, isto é, pela sua concordância consigo mesmo, pelas próprias formas e leis, a gnosiologia pergunta pela verdade do pensamento, isto é, pela sua concordância com o objeto. Nesse sentido, pode definir-se a gnosiologia como a teoria do pensamento verdadeiro, em oposição à lógica, que seria a teoria do pensamento correto. Isto esclarece a importância fundamental que a gnosiologia tem para a esfera total da filosofia.
É evidente que a gnosiologia terá que levar em conta as inevitáveis relações com as esferas científicas ou filosóficas circundantes e, em particular, com a psicologia, a lógica e a metafísica, mas, ao mesmo tempo, deverá distinguir-se rigorosamente delas. Psicologia, lógica e metafísica, com efeito, se ocupam do conhecimento, mas apenas à base da consideração exclusiva ou parcial de um de seus termos: a psicologia examina o sujeito cognoscente enquanto ser psicofísico; a lógica verifica os pensamentos e suas relações, isto é, os princípios formais do conhecer; a metafísica investiga em sua parte ontológica o objeto e as relações mais gerais entre os objetos como tais. Nenhuma delas, ao contrário, dilucida o que o conhecimento é propriamente enquanto relação peculiar de um sujeito com um objeto, termos cujo rigoroso enunciado deveria formular-se na oposição sujeito cognoscente-objeto do conhecimento, com o fim de separar o que pertence à esfera da psicologia e da teoria do objeto, e o que somente é próprio dá gnosiologia.
Feitas essas considerações se pode definir a gnosiologia. O vocábulo ‘gnosiologia’ — cujo sinônimo perfeito é ‘teoria do conhecimento’ —, consoante sua etimologia, é aplicado para definir aquela parte importante da filosofia que trata da teoria do conhecimento, isto è, da origem, da natureza, do valor e dos limites de nossa faculdade de conhecer. É, em suma, crítica do conhecimento no sentido da gnosiologia derivada do kantismo, ou seja, análise reflexiva do ato ou da faculdade de conhecer, estudada em geral e a priori por um método lógico análogo ao de Kant, e também teoria de todas as formas do saber na medida em que se apresentam sob o aspecto cognoscitivo.
A ‘gnosiologia’ e a ‘epistemologia’ não são sinônimos — não obstante ocorrer tal sinonímia nos países anglo-saxônicos, estando o primeiro vocábulo praticamente em desuso, substituído pelo segundo, — distinguindo-se um do outro. Assim, enquanto ‘gnosiologia’ — ou ‘teoria do conhecimento’ — é o nome genérico para todas as investigações filosóficas relativas à origem (não psicológica), essência, limites, validez etc., do conhecimento e, em rigor, de todo conhecimento enquanto tal, ‘epistemologia’, ao contrário, se refere à teoria do conhecimento do saber científico. Portanto, gnosiologia é equivalente a teoria do conhecimento, e epistemologia é a teoria do conhecimento científico–natural ou teoria do saber das ciências, cabendo à gnosiologia indagar das origens, do valor e dos limites da faculdade de conhecer, e à epistemologia o estudo crítico dos princípios, das leis, dos postulados e das hipóteses científicas. Em suma, a primeira é a teoria abstrata, a priori, do conhecimento; a segunda, a teoria concreta, a posteriori, do conhecimento, caracterizando-se a gnosiologia por ser mais “filosófica” e a epistemologia por ser mais “científica”. [LWVita]