geração

(gr. genesis; lat. generatio; in. Generation; fr. Génération; al. Erzeugung; it. Generazioné).

Segundo Aristóteles, “a mudança que vai do não-ser ao ser do sujeito, segundo a contradição”: a passagem da negação da coisa à coisa. A geração pode ser absoluta, e nesse caso é a passagem do não-ser ao ser da substância, ou qualificada, e nesse caso é a passagem do não-ser ao ser de uma qualidade da substância (Fís., V, I 225 a I2 ss.).0 oposto de geração é corrupção . geração e corrupção constituem a primeira das quatro espécies de mudança, mais precisamente a mudança substancial (Ibid, 225 a 1) (v. devir). [Abbagnano]

Em muitos dos seus escritos, tratou Aristóteles do problema da geração juntamente com o seu oposto, o da corrupção. Assim, na sua metafísica, diz: “a mudança de um não-ser para um ser, que é o seu contraditório, é a geração, que para a mudança absoluta é a geração absoluta e para a mudança relativa é a geração relativa. A mudança de um ser para um não-ser é a corrupção, que para a mudança absoluta é a corrupção absoluta e para a mudança relativa é a corrupção relativa”. absoluto e relativo têm aqui os sentidos de não qualificado e qualificado, respectivamente. Aristóteles estuda o “chegar a ser” e o “deixar de ser” enquanto são por natureza e podem predicar-se uniformemente em todas as coisas naturais. Este chegar a ser (geração) e deixar de ser (corrupção) são espécies de mudança estreitamente relacionadas com as mudanças de qualidade e as mudanças de tamanho. Aristóteles opõe-se às teorias dos filósofos anteriores, sublinhando as dificuldades que encontra em cada uma delas. Em seu entender, não se pode falar de uma geração absoluta e de uma corrupção absoluta (ou não qualificada) se isto equivale a afirmar que uma substância procede do nada e se converte em nada. Mas pode introduzir-se o conceito de geração, e o de corrupção em relação com a ideia de privação e, por conseguinte, com referência a alguma forma de não-ser – pelo menos enquanto “não ser qualquer coisa determinada”. Mais propriamente se fala de geração e corrupção relativas ou qualificadas, porquanto assume a existência de uma matéria ou substrato que adota diversas formas substanciais. A maioria dos autores antigos tratou a questão da geração e corrupção dos corpos e das substâncias do mundo sensível.

Os autores medievais, e em particular os escolásticos, tenderam a distinguir entre diversas noções de geração. O mais comum foi distinguir antes de tudo entre geração e criação. A primeira é produção a partir de algo, e especialmente pela introdução de uma nova forma na matéria. Entende-se sempre a geração como mudança, não como movimento. A mudança em questão é súbita, pois não se pode dizer que entre duas coisas, a e b, há uma terceira, c, que se interpõe de maneira que a produz c e depois b; isto equivaleria a três coisas, e não só a duas. Deve advertir-se que a geração não afeta propriamente nem a forma nem a matéria, mas apenas o composto; com efeito, matéria e forma não podem mudar em si mesmas.

Em sentido diferente se fala de geração como uma realidade primária para compreender o processo histórico. A tese das gerações foi fundamentada e consequentemente desenvolvida por Ortega y Gasset. Para ele a história compõe-se de gerações, as quais constituem dados culturais próprias que seguem um ritmo específico e perfeitamente determinável. A geração é “uma e a mesma coisa com a estrutura da vida humana em cada momento”, de modo que “não se pode tentar perceber o que na verdade se passou em tal ou tal data se não se averiguar antes em que geração se passou, isto é, dentro de que figura de existência humana aconteceu” (ESQUEMA DAS CRISES). A teoria das gerações forma assim uma parte essencial da historiologia que não é nem uma filosofia construtiva em história nem uma mera técnica historiográfica. A geração torna-se, segundo ele, o único substantivo na história e o que permite articulá-la numa continuidade que rompe os quadros de qualquer classificação formal. [Ferrater]