genética

(in. Genetics; fr. Génétique; al. Genetik; it. Genética).

Uma das ciências biológicas mais recentes e mais bem organizadas, que contribuiu decisivamente para o progresso dos estudos biológicos. Seu objeto específico é a transmissão das características hereditárias dos organismos de uma geração para outra e, por conseguinte, a mutação que os organismos sofrem em suas características hereditárias. O fundador da genética moderna foi o abade austríaco Gregor Mendel, que em 1866 publicou os resultados de algumas de suas experiências sobre a hibridação de diferentes espécies de ervilhas e formulou as leis que até hoje recebem seu nome. Essas leis exprimem um fato experimental que desmentia as crenças universalmente aceitas até aquele momento. Acreditava-se, p. ex., que dois indivíduos, um genitor de pele branca e um outro de pele negra, gerassem filhos de pele morena, e que estes indivíduos, unidos com outros de pele morena, gerassem filhos morenos, como se os dois caracteres ou tipos de “sangue” se houvessem misturado para sempre, assim como o leite se mistura ao café e não podem mais ser separados. As leis de Mendel afirmam que os filhos provenientes da união de indivíduos que têm caracteres diferentes apresentam, pois, uma mistura de tais caracteres, mas não os transmitem a seus descendentes, nos quais esses caracteres vão se separando em proporções estatísticas bem definidas. A genética moderna indica com o nome de gene o corpúsculo germinal portador de determinada característica física. O gene é uma unidade, ou seja, não se mescla. As características herdadas de um organismo representam o resultado da ação recíproca de seus genes. Habitualmente um ou dois pares de genes são os principais responsáveis pelas variações que se observam em determinados caracteres do organismo. Os genes dispõem-se em ordem definida nas partes da célula chamadas cromossomos.

Nem todas as características de um organismo apto são determinadas pelos genes; por outro lado, em decorrência da ação recíproca entre os genes alguns caracteres tendem a desaparecer (são chamados recessivos) e outros a fortalecer-se (são chamados dominantes). Portanto, um único gene pode exercer efeitos díspares sobre o organismo, e o mesmo efeito pode ser produzido por combinações díspares de genes. Estas duas verificações privam a transmissão das características orgânicas do caráter de necessidade. Os geneticistas usam a palavra expressividade para indicar a medida em que o efeito de determinado gene se manifesta no indivíduo que o possui, e a palavra penetração do gene para indicar a porcentagem de indivíduos que, possuindo o gene, manifestam seus efeitos. O emprego desses termos demonstra que, entre a posse do gene e seu efeito (uma característica física), não há relação de necessidade, mas só uma relação estatística, cujas condições podem ser determinadas em cada caso. O gene não age como causa infalível, como força que produz necessariamente determinados efeitos. As condições que delimitam seus efeitos são: 1) interação de todos os genes; 2) ambiente.

Esses conceitos da genética foram confirmados e desenvolvidos decisivamente pela bioquímica. Hoje se sabe que o principal componente dos cromossomos é o ácido desoxirribonuclêico (DNA), cuja estrutura molecular foi definida por Watson e Crick em 1953 como um par de espirais que, quando separadas, podem, individualmente, reunir em torno de si os resíduos moleculares necessários à reconstrução da espiral dupla original. O DNA é composto por quatro bases nucleotídicas que costumam ser indicadas com as letras C, T, G e A, consideradas um alfabeto genético. Assim como as formas, poucas das quais constituem palavras e frases significantes (capazes de comunicar informações), os elementos do alfabeto genético podem combinar-se em numerosas formas, algumas das quais transmitem a mensagem genética, ou seja, determinam com certa probabilidade a transmissão de caráter hereditário. Portanto, o material genético é semelhante a uma mensagem escrita que, uma vez recebida pelo organismo, dirige e controla seu desenvolvimento. Viu-se também que cada palavra do código genético é constituída por uma série de três de suas bases (tripletó); o gene é então concebido como uma sequência de tripletos no DNA, e a mutação consiste na substituição de uma das letras do tripletó por outra. Essas substituições ocorrem aleatoriamente e constituem a única origem possível das modificações do texto genético e, portanto, das estruturas hereditárias do organismo. Quando tais modificações são nocivas à adaptação do organismo ao ambiente, produzem em escala macroscópica a senescência ou a morte do organismo.

Contra a disseminação da genética moderna, um grupo de cientistas russos sustentou durante certo tempo a doutrina de Michurin, que, graças ao apoio de Lysenko, teve aprovação oficial da ciência soviética durante os anos de estalinismo. A doutrina de Michurin é uma forma de lamarckismo, pois parte da crença no poder criativo do ambiente biológico. “A herança”, diz Lysenko, “é efeito da concentração das condições externas, assimiladas pelo organismo durante uma série de gerações anteriores.” Isso nada mais é que o postulado da rigorosa causalidade do ambiente. A doutrina de Michurin nega, portanto, todos os instrumentos conceptuais do probabilismo mendeliano: a não-hereditariedade dos caracteres adquiridos e até a existência do gene. Contra a tese fundamental de Michurin, J. Huxley observou: “Os lamarckianos e os partidários de Michurin têm razão quando sustentam que há uma relação entre o ambiente e os caracteres da adaptação do organismo. Enganam-se, porém, quando supõem que essa relação é simples e direta. Ela é complexa e indireta: as mutações ocorrem aleatoriamente e a seleção conserva as poucas mutações que favorecem os indivíduos naquele ambiente específico. Este é um dado de fato científico, que nenhuma consideração apriori pode alterar” (Soviet Genetics and World Science, trad. it., p. 151). Os conceitos de mutação aleatória e de seleção continuam sendo fundamentais na genética moderna. Monod escreveu: “As alterações genéticas são acidentais, ocorrem aleatoriamente. E como constituem a única origem possível das modificações do texto genético, que, por sua vez, é o único depositário das estruturas hereditárias do organismo, segue-se necessariamente que o acaso é a única origem de qualquer novidade e de qualquer criação na biosfera” (Le hasard et la necessite, 1970, p. 127). [Abbagnano]


O que retraça o desenvolvimento gradual de um ser, de uma ideia, de um sentimento, de uma instituição. — Em psicologia, as teorias genéticas admitem que os caracteres de uma personalidade sejam formados gradualmente com o tempo (elas se opõem às teorias “ingênitas”, que as consideram como inatas); as teorias genéticas insistem, por exemplo, no papel da miséria no desenvolvimento da delinquência ou da criminalidade; recusam a ideia de “criminosos natos”. Opõe-se também à análise genética (da decisão voluntária por ex.) à análise eidética (da essência da vontade): a primeira descreve as “condições de exercício” (como nós decidimos e agimos); a segunda analisa as “condições de possibilidade” (qual é a natureza do homem que lhe permite agir voluntariamente: é uma análise metafísica da liberdade). Em filosofia, o método genético consiste em formar suas ideias no nível de sua consciência real (“a partir, como dizia Hegel, dos dados mais baixos da consciência para se elevar pouco a pouco às ideias mais elevadas”). O método de reflexão genética ou reflexão concreta, foi criado por Fichte (na Teoria da ciência): ele se opõe ao método analítico que consiste em analisar abstratamente uma ideia sem “se reconhecer” nela. Fala-se hoje mais comumente de método “fenomenológico” (a gênese correspondente à fenomenologia do “eu” ou fenomenologia do “espírito”). [Larousse]