formação do conceito

A formação do conceito, como elaboração de imagens cognitivas não intuitivas, conduz a apreender a “quididade”, inacessível aos sentidos, dos objetos de conhecimento. Como primeira apreensão intelectual de objetos (para a qual a potência intelectiva é imediatamente determinada), ela pode dar origem a conceitos primeiros ou primitivos ou (por combinação destes) a conceitos segundos derivados. — A origem dos conceitos primeiros não está numa intuição imediata das essências, como opinam as teorias intuicionistas. Nem ditos conceitos derivam de germes conceituais inatos (“ideias” inatas – inatismo ou nativismo: Platão, Leibniz), nem vemos as essências das coisas na visão imediata de ideias divinas ou do ato criativo de Deus (ontologismo: Malebranche, Gioberti), uma vez que a estrutura dos conceitos, só analogicamente manifestativos do super-empírico, mostra de modo inequívoco que, de fato, eles se originam na experiência. Uma visão imediata de Deus, realizada só com as forças naturais, é impossível para o espírito finito.

Os conceitos primeiros são adquiridos com a ajuda de dados da experiência externa ou interna. Surge aqui o problema desde há séculos debatido: como é possível elevar-se acima da imagem sensível (ou de um dado consciencial que apresenta a essência, mas só em sua singularidade concreta) à imagem essencial universal do entendimento ? A teoria da abstração, tal como Aristóteles a fundamenta, posteriormente elaborada e desenvolvida pela escolástica e discutida ainda hoje nalguns aspectos parciais, apela para uma espontaneidade ativa e produtiva do espírito. Aristóteles admitia, a par da potência cognitiva propriamente dita (o entendimento passivo que recebe a determinação: intellectus passibilis), uma potência espiritual ativa (o entendimento agente: intellectus agens) que, por assim dizer, “ilumina” a imagem sensível concreta, dela abstrai a essência e, mediante a imagem essencial desta (species intelligibilis), determina o entendimento passivo ao conhecimento conceptual. Segundo a interpretação de notáveis comentadores (e de modo idêntico o Averroísmo), Aristóteles concebia essa potência ativa como super-individual; ao passo que, mais tarde, a escolástica viu nela, com razão, uma faculdade peculiar a cada espírito humano individual. Partindo de seu hilemorfismo, segundo o qual cada coisa sensível consta de forma essencial e de matéria individualizante da forma essencial, Aristóteles (e, mais tarde, também S. Tomás de Aquino) concebe o conhecimento conceptual como um ato, no qual, por assim dizer, a forma essencial em si universal se desliga da matéria limitante e individuante, de sorte que o resultado da abstração é um conceito universal. Sobre este ponto, se os conceitos primeiros são particulares ou universais, como também na ulterior interpretação e esclarecimento das funções do entendimento agente, e finalmente na questão de saber se esta potência ativa espontânea se distingue realmente do entendimento cognoscente propriamente dito, divergem os pareceres dos filósofos escolásticos de todas as épocas. Comum a todos eles é, no entanto, a doutrina da formação dos conceitos primeiros pela colaboração da imagem primeira empírica, concreta e intuitiva e de uma espontaneidade ativa do espírito. Quanto aos conceitos segundos, elaboramo-los no pensar discursivo consciente, extraindo, mediante comparação e compreensão de relações, o elemento comum a vários conceitos previamente obtidos e expondo-o desprovido dos caracteres diferenciais. Também aqui assumem importância básica os complexos intuitivos e as complementações de complexos com que as representações intuitivas estorvam ou estimulam o progresso do pensamento. Para estimulá-lo, devem eles geralmente ser desarticulados sob a direção suprema do pensamento não intuitivo e de suas finalidades e de novo devem seus elementos ser combinados. Contudo no âmago do processo se encontra a compreensão relacionai ou inteligência relacionai que se dá na comparação e na iluminação da “relação de validade universal” do novo conceito elaborado (o conceito universal reflexo). A fixação do conteúdo conceptual [complexo de significação) mediante um termo (linguagem) que o designe, serve comumente para dar firmeza e persistência ao conceito obtido.

Embora o conceito signifique, para o conhecimento, um afastar-se da realidade concreta para penetrar no domínio do abstrato, todavia constitui importantíssimo progresso, visto como, em vez do conhecimento sensorial, sempre variável, acidental, circunscrito aos puros modos fenomênicos, permite compreender o permanente, de algum modo o absoluto, e o que nas coisas há de essencial, e além disso põe ordem no material do conhecimento. Não é minimização irracionalística do pensamento conceptual em favor de uma fraseologia empolada, mas treino para chegar a obter uma clara compreensão conceptual da verdade objetiva; constitui, por isso mesmo, importante tarefa da formação humana. — Willwoll. [Brugger]