(in. Jewish philosophy; fr. Philosophy judaique; al. Jüdischen Philosophie; it. Filosofia giudaica).
A filosofia judaica é de tipo escolástico (v. filosofia escolástica); consiste essencialmente na tentativa de interpretar a tradição religiosa judaica em termos de filosofia grega, mais precisamente de neo-platonismo ou de aristotelismo. A filosofia judaica nasceu, portanto, quando o judaísmo entrou em contato com o helenismo no séc. II a.C. Uma de suas primeiras manifestações é a seita dos essênios, dos quais nos falam Fílon, Josefo e Plínio, à qual parecem pertencer os documentos encontrados nas proximidades do Mar Morto em 1947, que costumam ser chamados de “manuscritos do Mar Morto”, (cf. Burrows, The Dead Sea Scrolls, Nova York, 1956). Essa seita mostra profunda afinidade com o neopitagorismo, supondo-se que se tenha desenvolvido sob a influência dos mistérios órfico-pitagóricos. Era constituída por várias comunidades submetidas a disciplina severa, com certo número de regras ascéticas. Do ponto de vista doutrinal, os essênios interpretavam alegoricamente o Antigo Testamento de acordo, segundo tradição que atribuíam a Moisés; acreditavam na preexistência da alma e na vida depois da morte, admitiam divindades intermediárias ou demônios, bem como a possibilidade de profetizar o futuro. Fílon de Alexandria (que viveu na primeira metade do séc. I d.C.) é a maior personalidade filosófica desse período da filosofia judaica: sua intenção é interpretar alegoricamente as doutrinas do Antigo Testamento mediante conceitos da filosofia grega. O resultado dessa interpretação é uma forma de neopla-tonismo muito semelhante àquela que se desenvolverá em Alexandria por obra do neoplatonismo .
A segunda fase ocidental da filosofia judaica desenvolveu-se na Idade Média, principalmente na Espanha, durante o domínio árabe. A essa fase pertencem Isaac (que viveu no Egito entre os sécs. IX e X); Saadja (séc. X); Ibn-Gebirol, que os escolásticos latinos conheceram com o nome de Avicebron, autor de uma obra famosa intitulada Fonte da vida (séc. XI), e Moisés Ben Maimoun, denominado Maimônides (séc. XII), autor do Guia dos perplexos. Os temas fundamentais dessa segunda fase da escolástica judaica são os seguintes: 1) utilização do neoplatonismo árabe, especialmente da filosofia de Avicena, para a demonstração da existência de Deus; 2) negação do necessarismo característico da filosofia árabe e, portanto, crítica das duas doutrinas decorrentes desse necessarismo: a) da eternidade do mundo e consequente defesa da criação como início das coisas no tempo por obra de Deus; b) do rigoroso determinismo astrológico, com a reafirmação da liberdade humana. Estas teses aproximam muito a escolástica judaica da escolástica cristã, que defende filosoficamente crenças religiosas análogas. Portanto, a escolástica cristã empregou muito a filosofia judaica, e especialmente a de Maimônides (cf. judaica Guttmann, Die Phil. des Judentums, Munique, 1933). [Abbagnano]