(trad. do alemão Gestalt), totalidade das partes. — A teoria das estruturas foi inicialmente introduzida na biologia por Kurt Goldstein (na Estrutura do organismo): reconhece a impossibilidade de isolar uma função sem modificar o conjunto do organismo. Foi estendida à psicologia, na teoria da percepção sob o nome de teoria da forma. (V. teoria da forma) [Larousse]
(in. Structure; fr. Structure; al. Strukture; it. Struttura).
1. Em sentido lógico, o mapa ou o plano de uma relação: assim, diz-se que duas relações têm a mesma estrutura quando o mesmo plano vale para ambas, ou seja, quando são análogas tanto quanto uma carta geográfica tem analogia com a região que representa. Nesse sentido, a estrutura é o “número–relação”, conceito generalíssimo que equivale a plano, construção, constituição, etc. (Russell, Introduction to Mathematical Philosophy, Vl; trad. it., pp. 74-75; Human Knowledge, IV, 3; trad. it., pp. 362 ss.). A descrição formal de Russell molda-se ao uso corrente do termo, p. ex., ao uso encontrado na terminologia de Marx e dos marxistas. Nessa terminologia, estrutura é a constituição econômica da sociedade em que se incluem as relações de produção e as relações de trabalho, ao passo que superestrutura é a constituição jurídica, estatal, ideológica da própria sociedade (Marx, Zur Kritik der politischen Ökonomie, 1859, Pref.; Deutsche Ideologie, I).
Nesse sentido, a palavra estrutura é, por um lado, sinônimo de forma, no sentido presente no gestaltismo, que, aliás, é também chamado estruturalismo ou psicologia estrutural (v. psicologia); por outro lado, é sinônimo de sistema (no significado 2) como conjunto ou totalidade de relações. Foi nesse último sentido que essa palavra passou para a linguística, para a estética e para os outros campos em que é hoje comumente usada. O próprio Saussure falara de sistema: “A língua é um sistema cujas partes todas devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica” (Cours de linguistique générale, III, § 3). Esse termo, enfim, tem o significado genérico de sistema e poderia ser substituído por ele sempre que se fala de estrutura como “um conjunto de elementos quaisquer, portanto abstratos, entre os, quais (ou entre alguns de seus subconjuntos) tiverem sido definidas relações igualmente abstratas” (Granger), ou como “um conjunto de elementos submetidos a determinadas relações” (Mouloud) (“La notion de structure” na Revue Intern. de Phil., 1965, pp. 254, 315) ou de modos análogos (Sens et usage du terme structure dans les sciences humaines et sociales, aos cuidados de R. Bastide, 1962, passim, The Structure of Language, org. por Fodor e Katz, 1964, pp. 33 passim).
O mesmo se pode dizer do uso desse termo em antropologia, sobretudo por Lévi-Strauss; este define a estrutura explicitamente como um sistema de elementos tal que uma modificação qualquer de um implica uma modificação de todos os outros, considerando-a como um modelo conceitual que deve dar conta dos fatos observados e permitir que se preveja de que modo reagirá o conjunto no caso da modificação de um dos elementos (Anthropologie structurale, 1958, XV, I, pp.306 ss.).
2. Em sentido restrito e específico, a estrutura não é um plano qualquer ou qualquer sistema de relações, mas um plano hierarquicamente ordenado, ou seja, uma ordem finalista intrínseca destinada a conservar o máximo possível seu plano. Neste sentido específico, essa palavra foi usada por Dilthey, que com ela designou o instrumento explicativo fundamental do mundo humano e histórico. Ele falou de uma “estrutura psíquica”, entendida como “a ordem segundo a qual, na vida psíquica desenvolvida, os fatos psíquicos de qualidade diferente estão interligados por uma relação interna que pode ser imediatamente vivida” (Gesammelte Schriften, VII, pp. 3 ss.; cf. Critica della ragione storica, trad. it., p. 63). E utilizou esse termo sobretudo para indicar as unidades elementares do mundo histórico, quais sejam indivíduos, épocas, comunidades, instituições, sistemas culturais, entendendo por ele, nesse sentido, uma conexão dinâmica centrada em si mesma, “vale dizer, que tem finalidade e seus critérios de avaliação em si mesma” (Der Aujbau der geschichtlichen Welt in den Geistesu Hssenschaften, 1910, VI, 2; trad. it., em Critica della ragione storica, VI, 1, 2, pp. 243 ss.). A conexão dinâmica ou vital em que Dilthey viu o caráter básico da estrutura foi traduzida por Spengler pelo conceito de organismo, do qual se serviu para descrever as épocas históricas que nascem, declinam e morrem (v. época). Nesse sentido, esse termo é usualmente empregado em biologia. Segundo explicitação recente de um biólogo, estrutura seria “a forma relativa à função”, assim como função seria a “estrutura que muda no tempo” (A. C. Moulyn, Structure, Function and Purpose, 1957, pp. 22-23). No behaviorismo, que hoje procura utilizar, com as devidas correções, a experiência da cibernética, fala-se de “estrutura hierárquica”, ou de “plano”, como de “processo hierárquico do organismo, que pode controlar a ordem na qual uma sequência de operações deve ser executada (Miller, Galanter, Pribram, Plans and the Structure of Behavior, 1967, p. 16). Nesse sentido, a estrutura não é constituída simplesmente por um conjunto de elementos em relação, mas por uma ordem hierárquica que tem o objetivo de garantir o êxito de sua função e sua própria conservação. Pode-se dizer que a estrutura é caracterizada pelo fato de propor como fim sua própria possibilidade de ser (cf. Abbagnano, La struttura dell’esistenza, 1939).
Este significado, que parece o mais sutil, é, no entanto, o que mais corresponde ao uso desse termo na linguagem comum. A estrutura de um edifício é a correlação entre suas partes, que assegura a estabilidade do edifício e lhe permite corresponder ao uso a que é destinado. Em uma organização qualquer, estrutura é o plano de atividades ou de órgãos que mantém em pé a organização e lhe permite realizar seus objetivos. Não é semelhante a uma máquina pré-cibernética ou a um organismo no sentido pré-evolucionista, mas é um plano articulado de elementos que, dentro de certos limites, são suscetíveis de variações mais ou menos autônomas. Tanto no significado 1 quanto no 2, a estrutura pode ser concebida de dois modos: I) Como algo que constitui a ordem ou a substância da realidade em exame e, portanto, determina necessariamente todas as suas determinações, de tal modo que as torna infalivelmente previsíveis (Lévi-Strauss, Sapir); II) como modelo ou constructo hipotético, passível de interpretações diversas, que exerça condicionamentos não necessitantes e possibilite apenas previsões prováveis (estru-turalistas russos, cibernéticos). [Abbagnano]
Relacionado com os termos forma, configuração, trama, complexo, conexão e outros similares, “estrutural”, significa um conjunto de elementos solidários entre si, ou cujas partes são funções umas das outras. Os componentes de uma estrutura estão inter-relacionados; cada componente está relacionado com os demais e com a totalidade. Diz-se, por isso, que uma estrutura é composta mais por membros do que por partes e que um todo mais que uma soma. Os membros de um todo desta índole estão, segundo diz Husserl, ligados entre si de tal forma que pode falar-se de não independência relativa de uns para com os outros, e de compenetração mútua. Na estrutura há, pois, mais ligação e função do que adição e fusão. Por isso, na descrição de numa estrutura, costumam ressaltar vocábulos como articulação, compenetração funcional e solidariedade”.
A ideia geral de estrutura foi usada desde a antiguidade mas, a partir do romantismo, insistiu-se especialmente no caráter estrutural do real. O chamado estruturalismo contrapôs-se muitas vezes ao atomismo e ao associacionismo. Como exemplos de estruturas, propuseram-se os organismos biológicos, as colectividades humanas, os complexos psíquicos, as configurações e objetos dentro de um contexto, etc. Estes exemplos foram examinados, por assim dizer, “na sua totalidade” e não apenas nos elementos componentes. Por isso foi possível falar de uma concepção estruturalista, mas também de um método estruturalista, contraposto aos métodos analítico e sintético, de decomposição e recomposição de elementos. O estruturalismo recebeu também os nomes de organicismo, totalismo e outros semelhantes. Alguns autores sublinham que o método estruturalista não se opõe ao método atomista, que pode ser utilizado como auxiliar do primeiro. Foi o que aconteceu na psicologia.
A noção de estrutura alcançou grande fama nesta ciência. O termo estrutura costuma traduzir o vocábulo alemão gestalt e, por isso, fala-se de gestaltismo no sentido de estruturalismo. Também se empregaram os termos forma e configuração. A psicologia estruturalista não surgiu inteiramente como reação às chamadas concepções atomistas e associacionistas. Como salientamos, os estruturalistas criticaram diversos supostos do associacionismo, mas aproveitaram muitos trabalhos da escola associacionista, integrando-os nas suas próprias concepções. Sobretudo Dilthey e a sua escola, desenvolveram a noção de estrutura nas ciências do espírito. Enquanto, em psicologia, a estrutura é uma configuração, em Dilthey aparece sobretudo como uma “conexão significativa”. Essa conexão é própria dos complexos psíquicos, dos objetos culturais e até do sistema completo do “espírito objetivo”. Nesta ideia da conexão significativa desempenha um papel fundamental o elemento temporal e histórico. Subjetivamente, as totalidades estruturais aparecem como vivências; objetivamente, aparecem como formas do espírito. As estruturas, como conexões significativas, não podem explicar-se; em vez de explicação, há descrição e compreensão. Nem todas as correntes da filosofia contemporânea estão de acordo em conceber do mesmo modo a estrutura. Alguns autores declaram que a concepção estrutural, tal como é utilizada na psicologia e, em geral, nas ciências do espírito, sofre uma insuficiente dilucidação da própria noção de estrutura. Russell assinalou, por exemplo, que a noção de estrutura não pode aplicar-se a conjuntos ou a coleções – onde o todo determina a parte -, mas unicamente a relações. A estrutura é pois função de sistemas relacionais; a estrutura comum de dois ou mais desses sistemas equivale à referência de cada um dos elementos de um sistema, a cada um dos de outro ou outros. [Ferrater]
Para uma ideia geral podem-se tomar duas posições sobre o que é estrutura: a de Piaget e a de Lévi-Strauss .
Jean Piaget quer distinguir 1) o ideal crítico que gerou os diversos estruturalismos de 2) suas conquistas positivas. 1) No campo matemático, “o estruturalismo se, opõe à compartimentação dos capítulos heterogêneos encontrando a unidade graças a isomorfismos” (2eo, 6); na linguística deu-se primado à construção de sistemas enquanto na psicologia combateu-se o atomismo que procurava reduzir totalidades a associações entre elementos. 2) Através da ideia de estrutura encontraram-se dois aspectos comuns aos estruturalismos a — a estrutura é pertinente, basta-se a si própria e pode-se alcançar sua inteligibilidade sem recorrer a elementos que lhe sejam estranhos; b — na realização teórica de estrutura, há evidenciação de algumas características gerais: I — uma estrutura é um sistema de transformações, estruturante por conseguinte e não estática como a pensam alguns; II — a estrutura é independente da formalização do teórico, enquanto a formalização teórica só pode ser teórica; III — ela é uma totalidade e seus elementos só podem ser compreendidos em relação a ela, como momentos de sua transformação; IV — é auto-regulável, “acarretando sua conservação e um certo auto-fechamento”. O leitor observará que esta tentativa de síntese será sempre frustrada. Aqui, por exemplo, Piaget propõe uma estrutura natural, existente (que fosse o nível vivido da comunicação) e uma outra estrutura construída, postulada (que seria, no assunto aqui tratado, uma teoria da Comunicação) . E deixa aberta a questão essencial: qual a relação entre estes dois tipos de “realidades”, o existente e o teórico? Este é exatamente o problema da filosofia ocidental há mais de dois milênios e parece que seu defeito não está nas respostas mas no modo de perguntar.
Já Lévi-Strauss procura mostrar que o problema da estrutura não pode ser equacionado sinteticamente; com uma estrutura para todos os saberes e ciência . Ele diz que há ciências que podem encontrar seu objeto estruturado: no caso da genética “há correspondência rigorosa entre o procedimento de análise e seu objeto” (os gens no caso). Enquanto na antropologia as unidades elementares: 1) — podem existir; 2) — na maior parte dos casos não, pois não se pode postular a existência de uma classe definível extensivamente (ela só pode ser constatada). Ora — e o que interessa aqui não são os exemplos mas o modo de produzi-los — esta diferenciação de estruturas não parece muito adequada. Se se descobrisse com perfeição como o código genético modificará as células provocando o câncer, nem por isto se eliminariam as concepções de outro nível, da origem psicossomática do câncer, por exemplo. E em ambos os casos a estrutura será sempre postulada: os elementos da genética não existem linearmente, mas em relações. A identificação referencial de um elementos, visível no microscópio e palpável com bisturi, não poderá lhe determinar características de realidade, pois reais são as relações. E as relações têm que ser procuradas onde constituem um sentido: “Um ente vivo não se reduz a uma encruzilhada de influências. Donde a insuficiência de toda biologia que, por submissão completa ao espírito das ciências físico-químicas, que queria eliminar de seu domínio toda consideração de sentido. Um sentido dos pontos de vista biológico e psicológico é uma apreciação de valores por relação à uma necessidade”. A questão da estrutura é que ela não pode ser postulada sistematicamente de modo homogêneo já que as relações que o homem estabelece não são absolutas pois dependem de reverificações permanentes. Se o referencial (ou “objeto” segundo a velha filosofia) examinado não fôr adequado o erro é teórico: a estrutura é sempre construída e isto implica em que é também construído o referencial e suas relações.
Segundo Lévi-Strauss “a noção de estrutura social não se relaciona à realidade empírica mas aos modelos construídos segundo ela”. Propõe por isso distinguir estrutura social de relações sociais: “As relações sociais são a matéria-prima empregada para a construção de modelos que tornam manifesta a “própria estrutura social”. Para que mereçam o nome de estrutura os modelos deverão satisfazer a quatro condições: 1) — “uma estrutura oferece um caráter de sistema. Ela consiste em elementos tais que uma modificação em qualquer um deles acarreta uma modificação de todos os outros”; 2) — qualquer modelo pertence a um grupo de transformações, das quais cada transformação corresponde a um modelo da mesma família, constituindo o conjunto destas transformações um grupo de modelos; 3) — tendo-se um grupo de transformações, pode-se saber como reagirá o modelo quando da modificação de um de seus elementos; 4) — “o modelo deve ser construído de tal modo que seu funcionamento possa dar conta de todos os fatos observados”. Lévi-Strauss deveria acrescentar também que os “fatos observados” o são também num campo de significação que pode ser explicado num sistema. O fato observado bruto não existe: o etnógrafo (profissional ou não) que observa e crê apenas copiar os fatos que vê, recria-os de algum modo. Não há percepções transparentes: o olhar do homem, especialmente o olhar existencial, está dado nas condições, limites e possibilidades de sua cultura e de sua experiência.
Apesar das sérias restrições à aplicação de modelo à estrutura social, foi possível seu uso na análise sintática dos mitos, com resultados teóricos que abrem novos caminhos para o conhecimento do simbólico no homem. (Chaim Katz – DCC)
Em matemática assimila-se a estrutura à sintaxe do fenômeno, enquanto que o modelo corresponde à semântica do fenômeno. Ora, construímos uma “semântica” para um sistema formal A estabelecendo uma correspondência entre cada um dos elementos de A e cada um dos elementos do sistema semântico A’; os elementos de A’ são as “interpretações” ou o “significado” dos elementos de A. Exemplifiquemos. Um sistema formal largamente utilizado é a álgebra de Boole. Uma “interpretação” da álgebra de Boole é dada pela lógica proposicional. No entanto, intuitivamente quando a manejamos, a própria álgebra de Boole já é compreendida como por exemplo uma álgebra de conjuntos — sua semântica intuitiva é implicitamente utilizada inclusive como um guia para a demonstração de novos teoremas dentro ou a respeito do sistema. O que quer dizer; se formalmente distinguimos entre a “estrutura” e o “modelo” (compreendendo-se como “estrutura” um sistema de objetos “quaisquer” entre os quais definimos certas leis “abstratas”), na prática matemática tal distinção nem é feita nem pode ser feita, havendo necessariamente uma “imagem” que serve como “guia” e “interpretação” para o estudo e a manipulação do formalismo. Embora formalmente a distinção entre “estrutura” e “modelo” tenha uma vasta» aplicabilidade, no desenvolvimento de uma epistemologia para ciências que dependem da linguagem matemática as relações entre a estrutura e o modelo devem ser consideradas com extremo cuidado. A física nos levanta novos aspectos deste relacionamento. Como consequência dos trabalhos de Euler, Lagrange e, mais tarde, Hamilton, em fins do século XVIII e inícios do XIX, a mecânica newtoniana atingiu um grau de extrema formalização, tendo sido inclusive possível reduzir-se as três leis do movimento de Newton — cujo status ontológico não é muito aparente — ao princípio de Hamilton. Este é um princípio funcional; enquanto apenas a segunda lei de Newton implicava numa relação mais complexa entre as grandezas físicas envolvidas num processo dinâmico, o princípio de Hamilton não nos dá mais a forma das Leis mecânicas; ele se restringe a dizer que espécies de funções podem representar as leis da mecânica. Dando um exemplo muito grosseiro, ele não diz que “palavra”, de um dicionário, é uma lei física. O princípio de Hamilton se limita a mostrar de que partes do dicionário poderemos tirar palavras que podem, eventualmente, se revelar como sendo leis físicas. O princípio de Hamilton é tão vasto que, dentro do formalismo capaz de ser nele deduzido, Erwin Schrödinger enquadrou em 1926 a sua mecânica ondulatória. O que quer dizer: tanto a mecânica clássica quanto a mecânica quântica são modelos diversos da mesma estrutura. A complexidade do problema se revela quando nos lembramos que, pelo teorema de Ehrenfest, a mecânica clássica pode ser vista como um “caso limite” da mecânica quântica. Um caso semelhante é o do “princípio da covariância” de Einstein. Einstein postulou que as leis da física deveriam ser “covariantes”, isto é, “independentes dos referenciais em relação aos quais fossem postuladas”. O que equivale a dizer: as leis da física são “objetivas”, independentes do ponto do espaço e do tempo no qual se situa o observador. Einstein, como pode ser facilmente visto, simplesmente explicitou o que já era utilizado implicitamente há muito tempo. Mas o problema que se revelou foi: como traduzir formalmente o princípio da covariância? Uma série de sugestões levaram Einstein a desenvolver a relatividade geral baseando-se no seguinte postulado: supor que as leis da física são covariantes equivale a se supor que as leis da física possuem caráter tensorial. O princípio de covariância se mostrou, então, como sendo também um princípio funcional: as leis físicas pertencem à classe das expressões matemáticas que possuem caráter tensorial. Em diferentes regiões do espaço essas leis serão “diferentes”, mas serão todas tensores. Deve-se notar, no entanto, que há outras maneiras de se formalizar o princípio da covariância, o que nos levaria a leis físicas pertencentes a uma classe funcional diversa, talvez, da classe das expressões com caráter tensorial. No caso do princípio da covariância, complica-se a questão das relações entre estrutura e modelo. Um enunciado ontológico — a respeito da “natureza” do mundo físico — tem sua “interpretação” dada por um formalismo, o formalismo da análise tensorial. O que se torna aparente, portanto, é que as categorias de “estrutura” e “modelo” só têm sentido fora de uma epistemologia das ciências formalizáveis, desde que seu emprego nelas pode levar a perigosas contradições ou confusões. [Francisco Antônio Dória]