Os verbos exsistere e stare são derivados da mesma raiz, nas línguas ocidentais modernas. “Existir” tende a suplantar e, em algumas línguas, suplantou totalmente o verbo “ser” no seu emprego absoluto, no qual justamente de acordo com a interpretação tradicional o sentido de ser deveria manifestar-se mais concreta e incisivamente. O uso de “ser” foi relegado então aos juízos predicativos, onde exerce a função quase insignificante de cópula. E mesmo nestes casos ele sofre a concorrência de stare. Em certas línguas neolatinas, como o francês, stare desapareceu como verbo autônomo, fornecendo, entretanto, algumas formas à própria conjugação de “ser” (J’étais etc., étant, été). Em outras, ao invés, como o espanhol e o português, “estar” mantém-se paralelamente a “ser” e o substitui nas frases predicativas nas quais o predicado indica um estado ou circunstância do sujeito. “Ser” é usado tão somente no caso de atributos permanentes, i. e., das propriedades distintivas da espécie ou do indivíduo.
A substituição de “ser” por “estar”, quando se trata de exprimir o estado, ilustra deveras em que direção se foi especializando o sentido de ser. De fato, “estar” corresponde, em muitos casos, a “achar-se”, “encontrar-se”. Aqui já se anuncia a interpretação de ser como “ob-jetividade” do objeto, em referência explícita ao sujeito que o encontra (Cf. “Gegen-stand” de “stehen”). Embora “estar” não possua ainda tal conotação, ele exprime a experiência de algo situado no mundo, que se destaca pela sua estabilidade. O que está, enquanto está, não se muda. Esta significação de “estar” – e diga-se o equivalente de “existir” – mais vaga e geral que a do original latino, veio, no entanto, imprimir ao sentido de ser a determinação de realidade atual e efetiva de substância, que o próprio termo “ser”, na debilidade a que foi reduzido, tornou-se, de certo modo, incapaz de expressar por si mesmo. [MacDowell]