Embora a escola de Baden (ou escola do sudoeste alemão ou escola axiológica) compartilhe com a de Marburgo as ideias fundamentais do kantismo, em muitos aspectos difere dela profunda e essencialmente. Seus sequazes não se orientam tão exclusivamente para as ciências da natureza, mas partem da totalidade da cultura e concentram a atenção no desenvolvimento da mesma, e portanto na história. É notória neles a influência do historicismo alemão (§ 13). Por outro lado, segundo eles o ponto crucial do kantismo reside mais na Crítica da Razão Prática do que na Crítica da Razão Pura. O idealismo deles é tão radical como o dos marburgenses, mas não são racionalistas radicais e admitem a existência de um elemento irracional na realidade. O que para eles constitui o fundamento do ser objetivo não são as leis lógicas, mas as leis axiológicas, baseadas em valores. Por isso, a teoria deles é pluralista e revela uma compreensão mais profunda do valor peculiar do fato religioso.
Em relação à consciência em geral, não existe realidade transcendente. Se os juízos baseados nas realidades imanentes pretendem mesmo assim chegar à verdade e à objetividade, isso se deve à existência de valores transcendentais, que contêm um dever–ser: um juízo é verdadeiro, quando corresponde a uma obrigação de ser, isto é, a um dever transcendental. Como se vê, esta doutrina admite a existência de conteúdos irracionais e não vai ao extremo de tudo reduzir a métodos lógicos. Porque o fundamento do ser é constituído por valores que são independentes da razão e até mesmo da “consciência em geral”. Os valores, de que se ocupam a ciência, a lógica, a moral, a estética, etc, não são, por forma alguma, relativos: possuem validade absoluta. São leis imanentes, ideais. Pertencem a um reino imutável e eterno, não existem mas simplesmente valem (gelten), sem serem reais. Esses valores são de três classes: valores de verdade, valores morais e valores estéticos; Windelband situa acima deles os valores do religioso.
É próprio dos valores religiosos o não ser possível pensá-los sem referência a uma realidade transcendente. Não podemos chegar a um deus transcendente mediante um pensamento puro, sem contradição; mas para crer neste deus — e esta crença é exigida pela existência dos valores religiosos — não precisamos compreendê-lo. Aqui a imanência total é superada, sem dúvida, à custa de um irracionalismo religioso.
Além da teoria dos valores, que permite considerá-los como os fundadores de uma disciplina filosófica nova, os filósofos de Baden prestaram igualmente relevantes serviços à filosofia das ciências do espírito. Se as ciências da natureza são nomotéticas, isto é, ciências que enunciam leis (Windelband) e procedem generalizando (Rickert), as ciências do espírito são ideográficas e individualizantes. Não visam elas estabelecer leis universais, mas descrever o individual. Mas, como o historiador não pode ocupar-se de qualquer ser individual à discrição, deve fazer uma escolha. Esta pressupõe um juízo de valor; por conseguinte, a base de todas as ciências do espírito é uma apreciação axiológica.
Rickert propõe-se a questão de saber como explicar a relação recíproca dos dois reinos, o reino da realidade e o dos valores. Segundo ele, a relação só é possível mediante uma esfera diferente de ambos os reinos. A esta esfera dá ele o nome de “terceiro reino” e, às relações que o compõem, a designação de “estruturas de sentido” (Sinngebilde). A este reino corresponde a cultura.
Prosseguindo em desenvolver as ideias da escola de Baden e, além disso, aproveitando-se de seus contatos com a fenomenologia, Lask elaborou um sistema que admite os conteúdos intuitivos. Estes conteúdos são, certamente, imanentes, mas nem por isso sua doutrina deixa de se opor radicalmente à concepção dos filósofos de Marburgo. [Bochenski]