época

(gr. epoche; in. Epoch; fr. Époque; al. Epoche; it. Epoca).

Tendo como referência o antigo significado astronômico de época como ponto do tempo em relação ao qual são definidas as posições dos astros e contados seus movimentos (cf. Ptolomeu, Alm., III, 9), essa palavra às vezes é usada para indicar um acontecimento de especial importância, que estabelece ou permite reconhecer o caráter de um período histórico. Nesse sentido, diz-se que certo acontecimento “faz época”. Essa palavra passa a significar o período histórico caracterizado pelo acontecimento. Essa noção distingue-se de idade porque, enquanto esta última é o conceito de uma lei de sucessão dos períodos históricos, a época é o conceito do caráter central e determinante de certo acontecimento histórico. Nesse sentido, no início do séc. XIX, Saint-Simon distinguia as época “críticas” e as “orgânicas” (v. crise). Hegel falava das época da história do mundo como de vários graus (Stufen) do desenvolvimento unitário dessa história, distinguindo a época caracterizada pela unidade do espírito com a natureza, que é o Mundo oriental, a época caracterizada pela separação dos dois termos, que se realizou no mundo grego como ideal de liberdade individual e no mundo romano como subordinação do indivíduo ao Estado, e época germânica, que se realizou no mundo cristão, na qual “o espírito divino veio ao mundo e assumiu seu lugar no indivíduo, que agora está completamente livre, tendo em si a liberdade substancial” (Philosophie der Geschichte, ed. Lasson, pp. 136-37).

Mas foi Dilthey quem introduziu a noção de época na metodologia historiográfica. Segundo ele, época é uma estrutura que tem centro em si mesma e por isso interliga num todo único todas as suas manifestações. Cada pessoa que nela vive tem em comum a medida das suas ações, de seus sentimentos e sua compreensão. A tarefa da análise histórica é rastrear a coincidência de objetivos, valores e modos de pensar que constituem época, pois é só em relação com a estrutura total da época que se pode calcular a importância da contribuição de um indivíduo (Der Aufbau der geschichtlichen Welt, em Gesammelte Schriften, VII, p. 155). Adotando esses conceitos, Spengler acrescentava o caráter de necessidade: “Um acontecimento faz época quando marca uma virada necessária, uma guinada do destino no desenvolvimento de uma cultura. Um acontecimento fortuito, que é a imagem cristalizada da superfície histórica, poderia ser representado por outros casos correspondentes; a época é necessária e predeterminada” (Der Untergang des Abendlandes, I, 2, 17). A esse uso está ligado o significado que Heidegger dá a esse termo: “Toda época da história universal é uma época do ser. A essência epocal do Ser entra no caráter temporal íntimo e oculto do Ser e caracteriza a essência do tempo pensada no Ser” (Holzwege, p. 311; cf. Chiodi, L’último Heidegger, 1952, p. 29; ID., L’esistenzialismo di Heidegger, 2. ed., 1955, pp. 191-92): Jaspers fala de uma época axial, que corresponderia à idade histórica que vai do séc. VIII ao séc. II a.C., na qual ocorreram alguns acontecimentos de relevo na história do mundo (período clássico da Grécia; Confúcio e Lao-tsé na China; Upanixade e Buda na Índia; Zaratustra na Pérsia; os profetas na Palestina, etc). A novidade dessa época é que nela “o homem tomou consciência do ser em geral, de si mesmo e dos seus limites; tomou consciência de que o mundo é temível, de sua própria fraqueza. Fez perguntas fundamentais, partiu do abismo para a libertação e para a redenção” (Einführungin die Philosophie, 1950, cap. IX; trad. it., p. 154). (Abbagnano)