elementos

“Diz-se elemento do que compõe primeiro um ser, sendo ele imanente, e de uma espécie indivisível em uma outra espécie”. Aristoteles, Metaf., Delta, c. 3, 1014 a 25

“Elementum dicitur ex quo aliquid componitur primo inexistente indivisibili specie in aliam speciem” S. Tomás, Metaf. V, 1.4

Analisando esta definição na passagem citada, S. Tomás a precisa em quatro pontos:

– “id ex quo”: o elemento é do gênero causa material,

– “primo”: trata-se da primeira causa material,

– “inexistente”: o elemento é princípio imanente,

– “indivisibili specie in aliam speciem”: o elemento não pode ser dividido em partes especificamente diferentes; ele é imediatamente composto de matéria primeira e de forma substancial, e não pode ser reduzido senão por uma corrupção substancial, ela própria necessariamente conexa com a geração de um outro elemento.

Na física peripatética os elementos são quatro, água, ar, terra, fogo, nomenclatura aliás corrente naquela época. Não será inútil observar que os corpos naturais que comumente designamos com um ou outro desses nomes não eram, nesta teoria, os elementos, em estado puro, mas já compostos onde um dos elementos se encontrava em excesso.

Duas ordens de propriedades notáveis caracterizavam os elementos. Inicialmente eles eram naturalmente localizados, quer dizer que eles tinham cada um um lugar natural em direção ao qual eles eram inclinados por uma fôrça interna: o fogo, em direção ao alto, abaixo da orbe da lua, a terra para baixo, o ar e a água dividindo-se na zonas intermediárias. O pêso e a leveza manifestando estas duas tendências internas dos elementos.

Do ponto de vista qualitativo os elementos apareciam determinados pelos pares de contrários primordiais, o calor, o frio, o seco e o úmido, da seguinte maneira:

– o fogo é calor-seco, com predominância de calor

– o ar é calor-úmido, com predominância do úmido

– a água é frio-úmido, com predominância de frio

– a terra é frio-seco, com predominância de seco.

Além disso essas qualidades são os princípios ativos dos elementos, em virtude dos quais eles se alteram reciprocamente te; quando a alteração atinge o grau necessário, eles se transformam uns nos outros por simples geração.

Com tal precisão de detalhe, esta teoria dos elementos não passa, evidentemente, para nós, de uma curiosidade arcáica; mas não se afirma que as percepções profundas que o animam tenham perdido todo valor e que não se possa fazer uma transposição de conformidade com a linguagem científica moderna.

As partículas elementares, no nível infra-atômico, não subsistem por transmutações comparáveis às dos antigos elementos?

Ao lado dos, elementos, é necessário reconhecer a existência de mistos ou corpos compostos. Os mistos são corpos que resultam da união de várias substâncias elementares e formam um todo especificamente distinto daquelas. No De Generatione, o esfôrço de Aristóteles se concentra principalmente sobre o discernimento de um processo de mistura de várias substâncias, que seja distinto da geração simples não se reduzindo à justaposição dos elementos pré-existentes. Duas afirmações resumem seu pensamento: 1. a mistura de várias substâncias é uma verdadeira fusão de elementos substanciais, resultando em uma substância nova, unificada sob uma única forma substancial; 2. os elementos permanecem virtualmente no misto, conservando uma certa atividade própria, e portanto qualquer coisa de suas qualidades particulares. Em seu comentário, S. Tomás assim condensa essa doutrina:

Ad hoc quod sit mixtio necesse est quod miscibilia nec sint simpliciter corrupta, nec sint simpliciter eadem, ut prius: sunt enim corrupta quantum ad formas, et remanent quantum ad virtutem”. De Gener. I, 1.25

Os mistos são, portanto, verdadeiras substâncias, sendo que na estrutura daquelas os componentes permanecem de algum modo, manifestando-se esta sobrevivência no plano da atividade. Por esta engenhosa explicação, Aristóteles procura satisfazer, ao mesmo tempo, aos dados da experiência que parecem, em certos, casos, testemunhar em favor da permanência dos elementos, e rebater a solução atomista da simples justaposição de corpúsculos pré-existentes no misto.

Ainda aqui nos encontramos frente à fantasmagoria científica de outra época e do ponto de vista da determinação filosófica, não é certo que se possa ir além da análise da estrutura de nossas modernas moléculas. [Gardeil]