Essa expressão designa a disputa sobre o status ontológico dos universais (gêneros e espécies), que começou na Escolástica do séc. XI e caracterizou toda a filosofia medieval, continuando depois, com formas pouco diferentes, na filosofia moderna. Essa disputa foi motivada por um trecho da Isagoge (Introdução) de Porfírio às Categorias de Aristóteles e pelos comentários de Boécio a ela relativos. O trecho de Porfírio é o seguinte: “Dos gêneros e das espécies não direi aqui se subsistem ou se são apenas postos no intelecto, nem — caso subsistam — se são corpóreos ou incorpóreos, se separados das coisas sensíveis ou situados nas coisas, expressando seus caracteres comuns” (Isag., I). Das alternativas indicadas por Porfírio nesse trecho, apenas uma não se encontra na história da disputa: aquela segundo a qual os universais seriam realidades corpóreas. Em compensação, uma alternativa que Porfírio não previra verificou-se historicamente, pelo menos segundo dizem: o universal não existe nem no intelecto e é apenas um nome, um flatus vocis. Essa é a solução atribuída a Roscelin por S. Anselmo (Defide Trinitatis, 2) e por João de Salisbury (Metal, II 13; Policrat., VII, 12). As soluções dadas a esses problemas na Escolástica e depois dela foram muito numerosas, e muitas vezes diferem por ninharias. Realismo e nominalismo são as soluções fundamentais, mas Ockham, na refutação sistemática que quis fazer ao realismo, enumerava seis formas fundamentais deste (In Sent., I, d. 2. q. 4-8; Quodl, V, q. 10-14; Summa log., I, 15-17; v. ABBAGNANO, G. de Ockham, II, § 8-II).
Mas o fundamental para entender tanto a origem histórica da disputa quanto o alcance permanente que ela pode ter é que suas duas soluções fundamentais, realismo e nominalismo, correspondem às duas tendências fundamentais da lógica antiga e medieval, a platônico-aristotélica e a estoica. Essas duas tendências correspondem à lógica antiga e à lógica moderna, nomes medievais daquilo que mais tarde foi chamado de formalismo e de terminismo. A primeira dessas correntes defendia as doutrinas lógicas tradicionais; a segunda, a doutrina da suposição e os raciocínios antinômicos. Os tratados lógicos da Idade Média justapõem os dois troncos doutrinários, mas a inconciliabilidade e o antagonismo deles se manifesta na disputa dos universais, que denuncia a presença ativa, na Escolástica, de uma tradição lógica anti-aristotélica, que é a estoica, haurida nas obras de Boécio e de Cícero.
Realismo e nominalismo constituem, portanto, as duas soluções típicas e iniciais do problema. Para o realismo, isto é, para a tradição lógica platônico-aristotélica, o universal é, além de conceptus mentis, a essência necessária ou substância das coisas. Para o nominalismo, ou seja, para a tradição estoicizante, o universal é um signo das coisas. O realismo e o nominalismo medievais constituem, assim, as duas alternativas sempre presentes na teoria do conceito (v. conceito).
Mais especificamente, no que diz respeito ao realismo, é possível distinguir três formas fundamentais, que podem ser chamadas de platonizante, aristotélica e semi-aristotélica. A forma platonizante do realismo é atribuída por Abelardo ao seu mestre Guilherme de Champeaux (séc. XI): o universal seria a substância, e os indivíduos constituiriam acidentes dessa substância (Abelardo, OEuvres, ed. Cousin, p. 513). A solução aristotélica é a mais comumente defendida na escolástica, sendo expressa por Tomás de Aquino, para quem o U. está in re como forma ou substância das coisas, post rem como conceito no intelecto e ante rem na mente divina como Ideia ou modelo das coisas criadas (In Sent., II, d. 3, q. 2, a. 2). Esses três universais perfazem apenas um, vale dizer, identificam-se com a essência, a substância ou a forma da coisa, que existe ab aeterno no intelecto divino e que o intelecto humano abstrai da coisa (Suma Teológica, I, q. 85, a. I). Finalmente, pode ser chamada de semi-aristotélica a solução encontrada por Duns Scot, segundo o qual o verdadeiro U. existe somente no intelecto, enquanto nas coisas existe uma natureza comum que se distingue formalmente da individualidade das coisas, e não numericamente (Op. Ox., II, d. 3, q. 6, n. 15). O caráter peculiar dessa solução está no princípio de distinção formal, que é uma das características da filosofia de Duns Scot.
Por outro lado, o nominalismo é mais uniforme. Excetuando a mencionada tese de Roscelin (sobre a qual, de resto, não existem documentos convincentes), o nominalismo, de Abelardo a Ockham, sempre sustentou as mesmas teses fundamentais, a redução do universal à função lógica da predicabilidade, dividindo-se apenas no que diz respeito à atribuição ou não de realidade psíquica ao universal Ockham mostra-se indiferente a este último problema: nega, obviamente, que o universal seja uma species, mas considera indiferente identificá-lo com o ato do intelecto ou negar que tenha uma realidade qualquer na alma (In Sent., I, d. 2, q. 8, E). Seu caráter fundamental é a função de signo, isto é, a suposição. Esses foram os princípios fundamentais da lógica terminista depois de Ockham; noção análoga de universal encontra-se na teoria do conceito defendida pelo empirismo inglês a partir do séc. XVII: Locke, Berkeley e Hume. [Abbagnano]