Expressão usada pela primeira vez por Nicolau de Cusa para exprimir a transcendência e a infinitude de Deus, que seria a coincidência do máximo e do mínimo, do tudo e do nada, do criar e do criado, da complicação e da explicação, num sentido que não pode ser entendido nem apreendido pelo homem (De docta ignor., I, 4; De coniecturis, II, 1). No mesmo sentido, essa expressão foi utilizada por Reuchlin (De arte cabalistica, 1517) e por Giordano Bruno, que com ela define o universo, que ele identifica com Deus. O universo “compreende todas as oposições no seu ser, em unidade e conveniência” (Della causa). (Abbagnano)
Expressão usada pela primeira vez por Nicolau de Cusa para exprimir a transcendência e a infinitude de Deus, que seria a coincidência do máximo e do mínimo, do tudo e do nada, do criar e do criado, da complicação e da explicação, num sentido que não pode ser entendido nem apreendido pelo homem (De docta ignor., I, 4; De coniecturis, II, 1). No mesmo sentido, essa expressão foi utilizada por Reuchlin (De arte cabalística, 1517) e por Giordano Bruno, que com ela define o universo, que ele identifica com Deus. O universo “compreende todas as oposições no seu ser, em unidade e conveniência” (Della causa). (Abbagnano)
Fiz várias referências à ambivalência de imagens e metáforas referentes à morte e à vida. Nos universos imaginários, assim como em muitas mitologias e religiões, morte e vida estão dialeticamente relacionadas. Sem dúvida, há também pesadelos criados por representações terrificantes da morte em nossas mentes; mas, em tais casos, trata-se de experiências iniciatórias,embora nem sempre estejamos cônscios disso. Em suma, pode-se dizer que, mesmo o homem ocidental moderno, apesar de sua ignorância religiosa e sua indiferença ao problema da morte, ainda se encontra envolvido, consciente ou inconscientemente, pela dialética misteriosa que obcecava nossos antepassados arcaicos. A morte é inconcebível se não a relacionarmos com uma nova forma de ser, de uma maneira ou de outra, seja como possa ser essa forma: uma pós-existência, um renascimento, uma reencarnação, imortalidade espiritual ou ressurreição do corpo. Em muitas culturas, acredita-se ainda na recuperação do estado de imortalidade original. Em última análise, isso quer dizer, usando novamente o mito indonésio, que a única solução seria os ancestrais míticos terem escolhido ambos, a pedra e a banana. Em separado, nenhum deles realiza a nostalgia paradoxal do homem por estar simultaneamente imerso na vida e participando da imortalidade – seu anseio de existir concomitantemente no tempo ena eternidade.
Esses impulsos e nostalgias paradoxais não representam uma novidade para um historiador de religiões. Em grande número de criações religiosas, reconhecemos o anseio de transcender oposições, polaridades e o dualismo, a fim de se chegar a uma coincidentia oppositorum, ou seja, à totalidade em que os termos opostos sejam abolidos. Como um exemplo deste anseio, considera-se o homem ideal come sendo andrógino, ou seja, o ser que participa de ambas, da temporalidade e da eternidade.
A união paradoxal dos contrários caracteriza, como é bem sabido, as ontologias e soteriologias hindus. Uma das reinterpretações mais profundas e ousadas da tradição Mahayana, a doutrina Madhyamika desenvolvida principalmente por Nagarjuna, chegou aos limites extremos dessa dialética. Gostaria de saber se há algo mais escandaloso, mesmo mais sacrílego, do que proclamar, como o fez Nagarjuna, que “não há absolutamente nenhuma diferença entre samsara e nirvana, e não há nenhuma diferença entre nirvana e samsara”. A fim de libertar a mente de estruturas ilusórias dependentes da linguagem, Nagarjuna elaborou uma dialética cuja finalidade era formular a coincidentia oppositorum suprema e universal. Contudo, o seu gênio religioso e filosófico valeu-se da tradição venerável e pan-indiana das coincidências paradoxais entre ser e não ser, eternidade e fluxo temporal, felicidade e sofrimento. (Eliade)