ciências humanas

episteme

Reúnem-se sob esta designação um conjunto de disciplinas: Antropologia, Demografia, Direito, Econometria, Economia, Etnologia, Geografia, Gramática, História, Linguística, Filologia, psicanálise, psiquiatria, Psicologia, Sociologia. Algumas de origem bem antiga (como o direito, a gramática, a História, a Filologia), mas em sua grande maioria surgidas no fim do século XIX e no século XX, dentro da instituição universitária, como novos fragmentos do saber instituído, por sua vez, crescendo e manifestando novos brotos.

A amarração intelectual destas disciplinas é dupla. Por um lado, participam das técnicas de poder e governança que se desenvolvem na instituição ocidental do EstadoNação, desde a Renascença se impondo em suas diferentes versões na Europa e Américas. Por outro lado, têm, desde a Idade Clássica, sua consistência teórica por sua relação íntima com a filosofia moderna e seu dualismo de berço, dispondo o Homem ou o Sujeito face à Natureza, como região específica do Ser. Como nos faz lembra Bruno Latour em seu extraordinário “Jamais fomos modernos”, polarizam-se as ciências em Cultura e Natureza, mas a formação de “objetos híbridos”, leva a crise desta dicotomia moderna.

A consistência teórica se traduz pela referência ao humano, o Espírito (vide termo alemão que as designa Geisteswissenschaften). De fato até a segunda metade do século XX, muitas dentre elas (especialmente a psicologia e a sociologia) se desenvolveram sob o domínio institucional da filosofia. A autonomia dela corresponde tanto à lógica da especialização na diversificação do trabalho intelectual quanto ao desenvolvimento de técnicas de enquetes empíricas, métodos quantitativos e qualitativos de tratamento de dados.

A consequência deste desdobramento foi a constituição de sistemas de representação localizados, relativamente codificados e frequentemente fragmentários, que confundem de certo modo a referência unitária ao objeto único destas ciências, o humano. Como afirma Foucault as “ciências do homem” desde sua gênese, tem sua certidão de nascimento na “morte do sujeito”, na Idade Clássica, e no decorrente estabelecimento do homem como objeto de representação, como anteriormente em Galileu se havia determinado uma representação e um “método científico” para o estudo dos objetos celestes.

De qualquer maneira, as ciências humanos se constituíram e se instituíram como ciências, segundo conceituação normativa, altamente valorizada pela Modernidade, que lhes garante rigor e interesse cognitivo. Embora tenham sua “cientificidade” por vezes questionada, esta crítica positivista não as destitui de legitimidade, e só nos faz lembrar que se confrontam como todas as ciências com problemas epistemológicos recorrentes. (adaptado de Les Notions Philosophiques)