Âtmâ

ALMAATMAN — ÂTMÂ

Por uma questão de grafia na transliteração do termo sânscrito por diferentes autores citados, mantemos duas páginas distintas, uma para Atma e outra para Atman, trata-se aqui de um único termo sânscrito.

René Guénon

Dictionnaire de René Guénon

O Atma é o Espírito Universal que penetra todas as coisas, estás últimas aparecendo como simples modificações acidentais deste Espírito, que não deve-se entender como oposto à matéria mas englobando o material e o imaterial por sua essência universal. Frequentemente traduzido por “Si Mesmo”, o Atma é, segundo René Guénon, uma das noções mais eminentes da verdadeira metafísica. A fim de precisar o que o Atma, Guénon cita a princípio o Chandogya Upanixade que descreve assim esta essência indefinível de todas as coisas: “Este Atma que reside no coração, é menor que um grão de arroz, menor que um grão de cevada, menor que um grão de milho miúdo , menor que o germe que está no grão de milho miúdo; este Atama, que reside no coração, é também maior que a terra [manifestação grosseira], maior que a atmosfera [manifestação sutil], maior que o céu [manifestação informal], maior que todos os mundos juntos [além da manifestação, enquanto incondicionado].

O “Si”, o Atma não está presente todavia, no seio do indivíduo, senão potencialmente, e isto enquanto não é realizada a união com a identidade real. Importa no entanto precisar, que o indivíduo, assim como a Manifestação em seu conjunto, só existem pelo Atma, e não têm realidade senão pela participação em sua essência. O Atma supera portanto por imensidade e substância, todas as formas de existências, sendo, enquanto origem, fonte e fundamento, o Princípio único de todas as coisas. Se Guénon escreve, que o “Si Mesmo é potencialmente o indivíduo”, e que a União não existe senão virtualmente antes da realização”, ele se apressa em aditar que isto não deve se entender senão do ponto de vista do indivíduo ele mesmo. O “Si” não sendo afetado por nenhuma contingência, posto que é essencialmente incondicionado; ;e portanto imutável em sua “permanente atualidade”, e não possui de fato nada de potencial nele. Enquanto tal é não diferente do Absoluto, fora de todas as contingências particulares, mas igualmente estrangeiro a nenhuma.

Um texto dos Upanixades nos diz que “Atma é isto pelo qual tudo é manifestado, mas que nele mesmo não é manifestado por nada” Kena Upanixade, o que significa que livre de toda determinação, independente de todas as formas, Atma é o Ser dos seres, a substância imanente e transcendente de cada existência, todavia não sendo afetado por nenhuma. A este título, os estados do ser, quaisquer que sejam, escreve René Guénon, não representa nada além de possibilidades do Atma: eis porque, diz ele, pode-se falar das diversas condições onde se encontra o ser como sendo verdadeiramente as condições do Atma, tendo todavia sempre presente ao espírito, que em si Atma não é afetado por nenhuma das formas, não cessando jamais de ser incondicionado, não se tornando jamais manifesto, sendo todavia o Princípio essencial e transcendente da Manifestação sob todos seus modos. Saibamos que o que é absolutamente real [Paramarthika], é o “Si” [Atma]; é o que não pode alcançar nenhuma concepção e, que não pode ser formulado senão sob uma forma negativa a fim de escapar à armadilha da afirmação particular e determinada, que limita, quando utiliza a linguagem, o que se quer expressá-lo pelo objeto de sua definição. Eis porque, toda determinação sendo uma limitação, é pela negação da determinação que se chega a aproximar mais exatamente possível à essência do indefinível. A este respeito, o neti neti [não isto, não aquilo] do Vedanta, é certamente a melhor expressão do “que é” em última instância, o Atma. Em si mesmo, pode-se portanto dizer que o Atma não é nem manifestado [vyakta], nem não manifestado [avyakta], em sendo ao mesmo tempo o Princípio do manifestado e do não-manifestado, “Ele, o incondicionado, que é idêntico ao Supremo Brahma, que o olho não alcança, nem a palavra, nem o mental […] Superior ao que é conhecido, está além do que não é conhecido” [Kena Upanixade].

Frithjof Schuon