Arcanjos

Bernard Teyssèdre

Anges, astres et cieux : Figures de la destinée et du salut [BTAAC]

Embora o termo “arcanjo” (gr. arkaggelos) não seja atestado antes da era cristã, o conceito está em lugar desde quando Daniel opôs “o selo do nome próprio” sobre eminentes personagens celestes, Mikhael e Gabriel, nitidamente destacados de uma coletividade anônima, “miríades de miríades” (Dn 7,10). Pouco antes a história de Tobias fez surgir em cena Raphael. Estas três figuras manterão até nossos dias, apesar de eventuais eclipses, seu nível elevado na hierarquia, sem no entanto ter jamais composto uma “tríade”.

Outros nomes surgiram como Uriel, o guia de Enoque em seu “Livro das Luminárias”. O fator determinante para agrupar os anjos foi a simbólica dos números. Ela propunha dois modelos, um fundado sobre o número sete e outro sobre o quatro.

Sete, número do absoluto saber. “Sete olhos de YHWH percorrem a terra inteira” (Za 4,10). Quatro, número do supremo poder. Os Quatro Viventes da Merkabah e suas quatro rodas avançam onde o espíritosopro os leva, “na direção dos quatro ventos” (Ez 1,17).

A mais antiga indicação sobre o número dos anjos não é anterior ao ano 200 AC. No livro de Tobias, Rafael se apresenta como ”um dos sete anjos que se mantêm sempre prontos a penetrar junto da Glória do Senhor”. Nada indica se o autor tinha conhecimentos dos seis outros nomes. Enoque, em seu “Livro dos Egrégoros”, incorpora Rafael seja em um quaternário, seja em um septenário. Mas parece indicar em seu Sonho, por volta de 164 AC, que entre as duas tradições concorrentes, uma fundada sobre a cifra sete, a outra sobre a quatro, o esforço de síntese alcançara um compromisso. O patriarca viu “sair do céu” sete anjos “semelhantes a homens em branco”, quatro a princípio, três em seguida. Estes últimos são os que conduzem Enoque sobre uma alta montanha próxima a torre divina, para que ele observe os quatro primeiros anjos castigando os Egrégoros e os Gigantes, em seguida salvando Noé do Dilúvio. Eles ainda, no Fim dos Tempos, o tomarão “pela mão” para o introduzir na Jerusalém Celeste. Quando do Juízo Final, os sete “homens brancos” reunidos conduziram todos os anjos maus diante de Deus que os fará jogar no abismo de fogo. Este “Sonho” tem por efeito instaurar um septenário sem prejudicar o estatuto privilegiado de um quaternário.

Corbin

Philippe Faure

Gilbert Durand