É análogo, quando aplicado a coisas diversas, com acepções-que não são nem propriamente idênticas, nem completamente diferentes. Exs.: uma razão forte e uma árvore forte, etc.
Os conceitos aplicados aos objetos, de onde são tirados por abstração e aplicados ao ser, enquanto ser, ou às realidades que formam o objeto da metafísica, são unívocos, equívocos ou análogos?
Não podem ser equívocos, pois não há nenhuma realidade que seja totalmente diferente do mundo de nossa experiência. Deus ultrapassa-nos totalmente, mas não é impermeável a nós, pois é a origem de tudo, e em tudo há algo dele.
Não podem ser unívocos, pois as realidades metafísicas, às-quais nós os aplicamos, diferem dos fatos da experiência de onde foram abstraídas. Exemplo: da forma, do fim, etc.
Quando dizemos que um termo é análogo, reconhecemos que, nele, há algo que se assemelha ao analogado e algo que se diferencia.
Analogia é, portanto síntese do semelhante e do diferente. Todos os entes são análogos. Mas há graus de analogia.
Distingamos: analogia de atribuição extrínseca — quantitativa; analogia de atribuição intrínseca — qualitativa; analogia de proporcionalidade — relação ou função.
Há analogia de atribuição intrínseca, quando o análogo (termo, conceito, conjunto simbólico) convém propriamente a todos os objetos que designa, embora adequadamente em certos casos, inadequadamente em outros.
Exemplo: o ato existencial é misto de ato e potência, é híbrido; ato e potência são aplicados a Deus e às criaturas, analogicamente, por atribuição intrínseca.
Há analogia de atribuição intrínseca qualitativa entre dois medicamentos que servem para o mesmo fim. (Também pode confundir-se em certos casos com a função, mas só quando tomado dinamicamente).
Há analogia de atribuição intrínseca quantitativa entre dois objetos de qualidade e espécies diferentes, mas do mesmo peso, por ex.: 1 quilo de papel e 1 quilo de açúcar.
Há analogia de atribuição extrínseca, quando usada em sentido nem unívoco nem equívoco, mas apenas por transposição em consideração metafórica (substituição de um sentido exterior por outro, que apresente semelhanças meramente exteriores). Um homem risonho, alegre, e um jardim risonho, alegre. Um clima não saudável, e um homem não saudável. As metáforas são verdadeiras analogias, quando não disparatadas. Qualitativa, quando é uma qualidade: por ex.: sombrios pensamentos. Quantitativa, quando é uma quantidade: por ex.: um monte de burrice. A metáfora pertence mais à estética do que propriamente à Metafísica.
A analogia de proporcionalidade ou de proporção é a que consiste entre coisas totalmente diferentes, mas que apresentam, cada uma, certa similitude de relação (analogia de relação), ou de função (analogia de função).
A ala direita e a ala esquerda de um exército; o pé esquerdo e o pé direito de um edifício, a entre um chefe e a tropa e a entre a cabeça e o corpo, são outros exemplos de analogia. Como exemplo da analogia na matemática, temos: 2/4::4/5.
Temos a homologia, quando há correspondência na função de um todo com a funcção de um outro todo, como por exemplo, a existente entre as asas dos pássaros e os membros anteriores dos mamíferos, entre as penas dos pássaros e as folhas da árvore.
COMENTÁRIOS
A analogia extrínseca é uma metáfora (figura de retórica), e nada nos oferece de novo sobre a natureza das coisas, e nada diz a quem não conheça as coisas designadas pelos termos. Com a analogia de proporção, temos apenas uma ideia vaga dos objetos, mas não aproveitável. Assim, pela analogia dos órgãos, pode o cego ter um conhecimento, em certa medida, do mundo dos videntes.
A analogia de atribuição intrínseca dá-nos uma ideia mais precisa, porque já supõe uma propriedade comum.
Pode a analogia ser considerada um meio vago e impreciso de conhecimento. Mas como penetrar numa realidade que escapa aos nossos sentidos sem a analogia?
Na analogia, há predominância da assimilação e não da acomodação.
O símbolo bem nos explica. Mas não podemos, pela assimilação achada, construir a acomodação (o imitativo) que nos falta?
Como conhecermos Deus se não por analogias! Exclamam muitos.
A analogia (como a “proportio”, que é uma analogia de proporção) é uma síntese da semelhança e da diferença.
O ser, ontologicamente considerado, como também onticamente, não é unívoco, porque diferenças de ser são ainda ser; não é equívoco, porque haveria multiplicidade do ser, o que não há. Esta afirmação é predominante na filosofia.
O ser é, portanto, análogo; afirmam, entre muitos, os tomistas.
A parte, como ser, é análoga ao Todo.
Para efetuar-se a análise dialéctica que empregue a analogia, é necessário, previamente, efetuar-se a comparação. A analogia é uma relação que se esquematiza através do espírito, mas que corresponde a uma relação em que se encontram os fatos observados, relação que se dá, quer no mundo real–físico, exterior, quer no mundo mental, por meio de comparações entre um fato real e uma ideia, ou entre ideias. [MFS]