(lat. Adaequatus; in. Adequate; fr. Adéquat; al. Adäquat; it. Adequadó).
Nem sempre o significado desse adjetivo está vinculado ao significado do substantivo correspondente. Ele pode significar em geral “co-mensurado a”. Nesse sentido dizemos que uma descrição é adequada se não neglicencia nenhum elemento importante da situação descrita; ou que um pagamento é adequado se é proporcional à importância da remuneração, etc. Spinoza fez uso constante da noção de ideia adequada, por ele assim definida (Et., II, def. IV): “Entendo por ideia adequada a que, considerada em si, sem relação com o objeto, tem todas as propriedades ou as denominações intrínsecas da ideia verdadeira. Digo intrínsecas para excluir a denominação que é extrínseca, isto é, a correspondência da ideia com o objeto ideado”. Aqui, como se vê, a noção de adequado é admitida de modo completamente independente da noção de adequação. Spinoza nega explicitamente que a ideia verdadeira seja a que corresponde ao próprio objeto porque nesse caso ela se dis-tinguiria da ideia falsa somente pela denominação extrínseca e não haveria diferença entre ideia verdadeira e ideia falsa quanto à sua realidade e perfeição intrínsecas (Et., II, 43, escol.). [Abbagnano]
Os escolásticos chamam “adequado” à ideia que tem uma correspondência com a própria natureza da coisa, de tal modo que não deixe nada desta latente. As ideias adequadas são completas, isto é, exigem claramente as notas constitutivas do objeto. Leibniz, contudo, distinguiu vários graus de perfeição na ideia adequada. O conhecimento é, segundo este autor, obscuro ou claro; o claro pode ser confuso ou distinto. E o distinto pode ser adequado ou inadequado, bem como intuitivo ou simbólico. Quando o conhecimento adequado é simultaneamente intuitivo e simbólico, trata-se de um conhecimento perfeito. Ora conhecimento adequado, no sentido próprio do termo, é o que se tem quando “todos e cada um dos elementos de uma noção distinta são conhecidos distintamente”.
Por seu lado, Espinosa chama “adequada” à ideia que a alma tem quando, elevada ao plano da razão, conhece de um modo completo a verdade da necessidade da razão absoluta, sem o engano ou a falsidade da aparência contingência das coisas, pelo qual pode chegar, passando por cima das ideias incompletas, às ideias completas da substância infinita e dos seus infinitos atributos. O adequado na ideia outorga a esta, como diz explicitamente Espinosa, “todas as propriedades ou denominações intrínsecas da ideia verdadeira”, independentemente do objeto a que se aplique (Ética). As ideias podem ser, deste modo, adequadas ou inadequadas, completas ou incompletas e confusas. A ideia adequada é na realidade a expressão do grau último e superior de conhecimento, isto é, do conhecimento intuitivo, acima da imaginação e ainda da razão(Ética). Num sentido bastante afim do anterior, mas que insiste mais na ideia de correspondência ou conveniência, estende-se a clássica da verdade (v.) como adequação da coisa e do entendimento pela qual se expressa uma perfeita conformidade e correspondência entre a essência do objeto e o enunciado mental.
Entendeu-se este tipo de adequação logo de maneiras muito diferentes. Por exemplo, pode haver verdade lógica em virtude da prévia correspondência da essência da coisa com a “razão universal”. E pode havê-la, como acontece no idealismo moderno, pela tese do primado do transcendental sobre o ontológico (pelo menos no conhecimento), o qual dá lugar a um significado diferente da adequação tradicional. A fenomenologia também tratou o problema na sua tese da adequação total em que se cifra a intuição das essências, e o novo sentido dado à redução da verdade à correspondência entre a afirmação e a estrutura ontológico–essencial do afirmado pelo enunciado. [Ferrater]