Qualifica-se de coletivo todo conceito que denota multidão, toda reunião de vários seres individuais, frequentemente com o sentido acessório, depreciativo, de “massa”, na qual perecem a peculiaridade e o valor próprio dos elementos integrantes (homens ou coisas); por isso, o homem inserto no coletivo é, muitas vezes, concebido como despojado de sua própria dignidade pessoal (de sua posição de sujeito) e rebaixado-à categoria de mera coisa (objeto de curso social e econômico).
Sendo assim, o coletivismo denota, aquela ordem social que salienta o todo social (o coletivo), seja ele qual for, até ao ponto de acarretar a mencionada degradação do indivíduo. Este coletivismo (filosofia da sociedade) opõe-se de maneira contrária (mas não contraditória) ao individualismo (Ibid., 1.). Mas o coletivismo, afirmando em termos tão absolutos o coletivo como o individualismo afirma o indivíduo, desliga-o também de qualquer vinculação a comunidades mais elevadas e mais amplas. Desta maneira, mostra ser essencialmente afim, em seu âmago, ao individualismo, surgindo como um individualismo de grau superior. — Há sempre no coletivo um valor supremo, sobre o qual repousa a coletividade e por esta invocado para fundamentar esta absolutização de si mesmo. Em si pode ser elevado a valor supremo qualquer valor concebível, pelo qual os membros da entidade coletiva devam viver e morrer. No marxismo, é o valor econômico; no nacional-socialismo, o valor biológico (a raça); no fascismo de Mussolini, o nacional-cultural (latinità, italianità, romanità). O coletivismo, exalçando assim qualquer valor à categoria de valor supremo e divinizando-o, isto é, pondo-o em lugar de Deus, faz-se contrário a Este e destrói toda ordem de valores. Perante esta subversão, adquire importância secundária a situação mais ou menos elevada que o valor divinizado ocupe na hierarquia ¦axiológica. Pelo contrario, a vitalidade deste valor é fator decisivo para a virulência da coletividade que por ele se deixa possuir.
A linguagem cotidiana qualifica já de coletivismo qualquer excessiva acentuação do papel de uma coletividade, especialmente a tendência para confiar na ajuda de grandes coletividades organizadas (sindicatos, Estado) em vez de ajudar-se a si mesma ou de praticar o auxílio comunitário num círculo mais reduzido (p. ex., na família), — Nell-Breuning [Brugger]
(in. Collectivism; fr. Colectivisme; al. Kollektivismus; it. Collettivismó).
1. Termo criado na segunda metade do séc. XIX para indicar o socialismo não estatista, em oposição ao estatista. Nesse sentido, foram coletivistas o socialismo reformista anterior à guerra e é coletivista o trabalhismo inglês na medida em que deseja uma sociedade sem desequilíbrios de classe, portanto coletivizada, mas não controlada pela força por uma elite privilegiada que goze de um nível de vida radicalmente diferente do resto da população.
2. Em sentido mais amplo, entende-se por coletivismo toda doutrina política que se oponha ao individualismo e que, em particular, defenda a abolição da propriedade privada e a coletivização dos meios de produção. Nesse sentido, são coletivistas tanto o socialismo quanto o comunismo em todas as suas formas. [Abbagnano]