O início do Erixias, que lembra o prólogo do Cármides, põe em cena junto de Sócrates e de Erixias, Crítias que se tornará um dos Trinta Tiranso e Erisistratos, o sobrinho do demagogo Feax, que foi talvez ele também, um dos Trinta. Erixias é o principal interlocutor da primeira parte, Critias da segunda, e Sócrates da terceira, enquanto permanece no conjunto apagado. Três teses são examinadas no curso deste diálogo recontado: 1) Só o sábio é verdadeiramente rico; 2) A riqueza não é em si nem um bem nem um mal, mas pode se tornar; 3) A riqueza é indissociável da utilidade. São ricos aqueles que possuem objetos de valor. Mas nada não tem mais valor do que a felicidade. Ora a felicidade é indissociável da sabedoria. A conclusão se impõe logo: a sabedoria que garante ao homem a felicidade é o mais precioso dos bens. Erixias não está convencido porque considera como uma disputa oratória, e recomenda de prosseguir a discussão sobre um outro terreno pondo a seguinte questão: a riqueza é um bem ou um mal? Erixias estima que é um bem, enquanto Critias busca mostrar que nem sempre é o caso, pois a riqueza permite satisfazer todos os desejos, o que faz que por vezes seja fonte de males. Sócrates intervém para lidar com o amor–próprio de Erixias contando uma anedota. Um dia Prodicos sustentava a mesma tese que Critias, ele foi confundido por um jovem homem, e teve de deixar o ginásio onde falava. Como explicar então que Crítias seja agora considerado como o vencedor? Pela qualidade do homem. Em Prodicos, os auditores viram um sofista e falador; em Crítias, eles distinguem um homem político digno de consideração. Mas a vitória de Crítias não é definitiva. Deve-se prosseguir na discussão. Ser rico, é possuir muitos bens. Trata-se de uma condição necessária, mas não suficiente. Ainda é necessário que estes bens sejam úteis, que sirvam para algo. Mas se é possível atender às necessidades da vida sem fazer intervir o que se considera como riquezas, o ouro e a prata por exemplo, então é preciso concluir que o ouro e a prata não são riquezas. Por conseguinte, as riquezas não são úteis senão àqueles que delas sabem se servir, quer dizer aos sábios; daí decorre que somente os sábios são ricos, o que constitui um retorno à primeira tese. Enfim, é forçoso constatar que as riquezas servem para atender necessidades. Ora, as necessidades são dependentes de desejos, e aqueles que são ricos são aqueles que têm mais desejos. Mas os desejos podem levar ao mal. Consequentemente, o estado melhor é aquele onde se experimenta menos desejos, onde se tem menos necessidades, pois os mais ricos são também os mais miseráveis, o que constitui um retorno à segunda tese.
Tudo leva a crer que este diálogos foi redigido no quadro da Nova Academia que se aproximou do estoicismo. A influência estoica aí é inegável, como testemunham a tese segundo a qual só o sábio é rico e a classificação das riquezas entre as coisas “indiferentes”, quer dizer entre aquelas que não são nem boas nem más em si. (Brisson, Platon, oeuvres complètes)
Estrutura dada por Léon Robin à versão francesa da obra completa de Platão: Platon : Oeuvres complètes, tome 2
- Prólogo
- A Sabedoria é a única riqueza autêntica
- Em que a riqueza é má
- Para que bens se constituam em riqueza, é preciso que sejam úteis
- Conclusão