O neotomismo recebe consagração oficial com a encíclica Aeterni Patris, de Leão XIII, publicada em agosto de 1879. Nessa carta, o Papa, lembrando os ensinamentos dos Padres da Igreja, diz que a filosofia é uma instituição preparatória à fé cristã, prelúdio e auxiliar do cristianismo, educadora que leva ao Evangelho. É ao arsenal da filosofia que os defensores dos ensinamentos cristãos pedem a maior parte da munição própria à defesa dos dogmas revelados. Entre os teólogos escolásticos, que unem, pelos laços mais estreitos, a ciência humana e a ciência divina, eleva-se a uma altura incomparável o príncipe e o mestre de todos. Tomás de Aquino, comparado ao sol porque aqueceu o mundo com a irradiação de suas virtudes e o tornou pleno pelo esplendor de sua doutrina. A razão, diz o Papa carregada pelas azas de Tomás até sei ápice humano, não pode elevar-se mais alto e a fé mal pode esperar da razãc serviços mais numerosos e eficazes dos que recebeu de Tomás. Dirigindo-se aos veneráveis irmãos, Leão XIII declara que nad£ deseja tanto quanto vê-los oferecer, larga e copiosamente, a toda a mocidade aplicada ao estudo, as águas muito puras dí sabedoria que brotam do pensamento dc Doutor Angélico como de uma fonte inesgotável e superabundante. Concluindo exorta os veneráveis irmãos a restabelecer a vigência e propagar o mais possível a preciosa sabedoria de Santo Tomás.
Em junho de 1914, na carta encíclica intitulada Motu Próprio — Doctor Angelici, dirigida à Itália e ilhas adjacentes, o Papa Pio X, reiterando as recomendações de Leão XIII, declara que devem ser santa e inviolavelmente guardados os princípios da filosofia estabelecidos por Tomás de Aquino, graças aos quais se constituiu, das coisas criadas, uma ciência que se concilia plenamente com a fé, e pela qual todos os erros de todos os tempos se acham refutados. Referindo-se ao poder de seu gênio, “quase digno dos anjos”, o Papa esclarece que os pontos capitais da filosofia de Santo Tomás não devem ser incluídos entre as opiniões a propósito das quais se possa disputar, mas devem ser considerados como os fundamentos nos quais toda a ciência das coisas naturais e divinas se acha estabelecida. Concluindo a epístola, diz Sua Santidade: queremos ordenar, comandar, a todos os responsáveis pelo ensino da teologia sagrada nas Universidades, grandes Escolas, Colégios, Seminários, Institutos, autorizados a conferir graus acadêmicos e o doutorado, que usem, como texto de suas lições, a Suma Teológica e a expliquem em língua latina, pondo especial empenho em que seus ouvintes a recebam com as melhores disposições.
Nove anos depois, em junho de 1925, coerente com a posição de seus antecessores, na carta encíclica Studiorum Ducem, endereçada a todos os bispos do mundo católico, Pio XI afirma que o guia dos estudos a ser seguido pela juventude clerical é Tomás de Aquino, e que esse gênio divino deve ser chamado não só o Doutor Angélico, mas o Doutor Comum, ou Universal da Igreja, pois a Igreja fez sua a doutrina tomista, como atestam muitos documentos de toda espécie. Foi animado pelo sopro sobrenatural, diz ainda Sua Santidade, que Tomás escreveu suas obras, nas quais se acham todos os princípios de todas as leis das ciências sagradas, obras essas que apresentam um caráter universal. Concluindo, diz o Papa, assim como outrora aos egípcios, que se achavam em extrema penúria, foi dito ide a José, para pedir-lhe o trigo necessário ao alimento do corpo, assim também, a todos aqueles que agora desejam a verdade, nós dizemos ide a Tomás.
A partir da publicação da encíclica Aeterni Patris, multiplicaram-se os centros de estudo e difusão do tomismo, tais como o Instituto Superior de Filosofia, fundado pelo Cardeal Mercier, na Universidade de Louvain, os Institutos Católicos de Paris, Lyon, Madrid, Washington, a Universidade Católica de Milão, a Universidade de Friburgo, na Suíça, o Angelicum de Roma, e outros.
Entre os principais órgãos de divulgação do tomismo devem mencionar-se: Acta Academiae Romanae Sancti Thomae (Atas da Academia Romana de Santo Tomás), Angelicum (Angélico), Roma; Divus Thomas (O Divino Tomás), Piacenza, Itália; Rivista neo-escolastica (Revista neoesco-lástica), Milão, Itália; Revue des sciences philosophiques et théologiques (Revista de ciências filosóficas e teológicas), Revue Thomiste (Revista tomista), Bulletin thomiste (Boletim tomista), Revue de Philosophie (Revista de Filosofia), La science thomiste (A ciência tomista), Dictionnaire de Théologie (Dicionário de Teologia), Dictionnaire Apologétique de la Foi Chrétienne (Dicionário apologético da fé cristã), Paris; Divus Thomas (O Divino Tomás), Friburgo, Suíça; Ephemerides Lovanienses (Efemérides lovanienses), Revue Neoscolastique (Revista neoescolásti-ca), Lovaina, Bélgica; Ciência tomista (Ciência tomista), The thomist (O tomista), Washington.
Entre os filósofos e teólogos mais representativos do neotomismo devem ser citados Otto Willman (1839-1920), Victor Cathrein S. J. (1845-1931), Désiré Mercier (1851-1926), Ambroise Gardeil (1859-1931), Joseph Gredt (1863-1940), Antonin Sertillanges (1863-1948), Joseph de Tonquédec (1868-1962), Réginald Garrigou-Lagrange (1877-1964), Agostinho Gemelli (1878-1959), Jacques Maritain (1882-1973), Régis Jolivet (1891-), Santiago Ramirez (1891-), Leonel Franca (1893-1948), Louis de Raeymaeker (1895-) e Thomas Greenwood (1901-).