Em Categorias c. 7, Aristóteles oferece duas definições do relativo. “A primeira é a seguinte: chama-se relativo o que em si mesmo se diz de uma coisa (heteron), ou se diz referir-se de alguma outra maneira a outra coisa; assim o maior se diz em si mesmo de uma outra coisa, da mesma maneira: o duplo… um estado, uma disposição, a percepção, a ciência, a posição… Se, pois, esta definição dos relativos fosse adequada, seria dificílimo, até impossível demonstrar que qualquer substância não seja chamada de relativa. Se ao contrário, a essa primeira definição, inadequada, se substitui por essa segunda: é relativo aquilo cujo ser se refere a outra coisa, talvez saiamos do embaraço. Sem dúvida, a primeira definição abrange todos os relativos; mas referir-se a outra coisa, quanto ao seu ser, não significa senão: ser em si ou relativo”.
As palavras de Aristóteles são obscuras, mas permitem como permitiram que surgisse na filosofia medieval as grandes especulações sobre o relativum secundum dici e o relativum secundum esse, distinção que, para muitos, é arbitrária mas que na verdade oferece lugar não só a grandes especulações como também a um certo esclarecimento, que é benéfico para a filosofia. Costuma-se atribuir a Aristóteles o conteúdo concreto dado ao pros ti, ao relativum, enquanto que a Platão atribui-se um sentido meramente abstrato. Propriamente o relativum in dicendo (relativo na palavra) é o relativo lógico, relação lógica, e o relativo in essendo (relativo no ser) é o relativo real, a relação real.
Não há dúvida que essa explicação não é aceita por todos, mas o que predomina é que um relativo de mera razão é um relativo secundum dici, enquanto o outro seria real. Se Platão considerava a relação apenas como pros ti ( um relativum in dicendo) naturalmente a similitude não era uma relação. Desta forma não havia contradição no pensamento platônico, como alguns pretendem afirmar. Na relação entre contrários relativos, como pai e filho, senhor e escravo, a existência de um exige a existência de outro. Eles têm um fundamento essencial e sua relação é secundum esse; em outras palavras: o relativo secundum dici é acidental, enquanto o secundum esse é essencial, ou melhor, o primeiro refere-se a algo acidentalmente e o segundo essencialmente. Na semelhança, na similitude, há um referir-se essencialmente, porque dois seres são semelhantes em algo real, de que ambos participam.
A palavra semelhança atualmente não tem mais o rigor da empregada na filosofia clássica, nem tampouco a palavra igual, pois falam-se de cores iguais, de pessoas igualmente rápidas, o que é uma confusão de termos. Tomás de Aquino dizia que quando dois soldados testemunham uma coragem semelhante, o termo semelhante revela uma similitudo imperfecta, em oposição à similitudo perfecta, que seria a concordância de duas qualidades. O termo refere-se a uma relação estática. É verdade que se tem empregado o termo semelhança para designar uma relação dinâmica, como a que se dá entre causa e causado (efeito). [MFSDIC]