(in. Utilitarianism; fr. Utilitarisme; al. Utilitarismus; it. Utilitarismo).
Embora se possa dizer que a identificação do bom com o útil remonta a Epicuro (v. ética), do ponto de vista histórico, o utilitarismo é uma corrente do pensamento ético, político e econômico inglês dos sécs. XVIII e XIX. Stuart Mill afirmou ter sido o primeiro a usar a palavra utilitarista (utilitaria), extraindo-a de uma expressão usada por Galt em Annals of Paris (1812); de fato, a ele se deve o sucesso desse nome. Contudo, essa palavra foi usada ocasionalmente por Bentham, a primeira vez em 1781. Os aspectos essenciais do utilitarismo podem ser resumidos do modo seguinte:
1) Em primeiro lugar, o utilitarismo é a tentativa de transformar a ética em ciência positiva da conduta humana, ciência que Bentham queria tornar “exata como a matemática” (Introduction to the Principles of Morals, em Works, I, p. V). Essa característica faz do utilitarismo um aspecto fundamental do movimento positivista, ao mesmo tempo em que lhe garante um lugar importante na história da ética.
2) Por conseguinte, o utilitarismo substitui a consideração do fim, derivado da natureza metafísica do homem, pela consideração dos móveis que levam o homem a agir. Nisto, liga-se à tradição hedonista, que vê no prazer o único móvel a que o homem ou, em geral, o ser vivo, obedece (v. hedonismo). Nesse aspecto, assim como no precedente, o utilitarismo foi tratado sobretudo por J. Bentham (1748-1832).
3) Reconhecimento do caráter supra-individual ou intersubjetivo do prazer como móvel, de tal modo que o fim de qualquer atividade humana é “a maior felicidade possível, compartilhada pelo maior número possível de pessoas”: fórmula enunciada primeiramente por Cesare Beccaria (Dei diritti e delle pene, 1764, § 3) e aceita por Bentham e por todos os utilitaristas ingleses. A aceitação dessa fórmula supõe a coincidência entre utilidade individual e utilidade pública, que foi admitida por todo o liberalismo moderno. A obra de James Mill e de Stuart Mill dedicaram-se principalmente a justificar essa coincidência. Para James Mill, ela decorria da lei da associação psicológica: cada um deseja a felicidade alheia porque ela está intimamente associada com a sua própria felicidade (Analysis of the Phenomena of the Human Mind, ed. 1869, II, pp. 351 ss.). Para Stuart Mill essa mesma vinculação estava ligada ao sentimento de unidade humana, que Comte evidenciara com sua religião da humanidade (Utilitarianism, 2a ed., 1871, p. 61).
4) Associação estreita do utilitarismo com as doutrinas da nascente ciência econômica. Dois dos fundadores dessa ciência, Malthus (1766-1834) e David Ricardo (1772-1823), foram utilitaristas e compartilharam o espírito positivo e reformador do utilitarismo
5) Espírito reformador dos utilitaristas no campo político e social: preocuparam-se em pôr sua doutrina moral a serviço de reformas que deveriam aumentar o bem–estar e felicidade dos homens em vários campos. Nesse aspecto, o utilitarismo também foi denominado radicalismo.
Cf. S. Leslie, The English Utilitarians, três vols., 1900; E. Albee, A History of English Uti-litarianism, 1901, 2a ed., 1957. [Abbagnano]
A doutrina ou atitude moral que considera o “útil ou o que pode trazer maior felicidade” como o princípio supremo de nossa ação. — O utilitarismo foi sustentado por J. Bentham (Londres 1748 — 1832), que preconizou uma “aritmética dos prazeres” destinada a comparar metodicamente o valor dos prazeres e a aumentar, na maior proporção, a soma total do bem–estar do indivíduo, e depois por J. S. Mill (Londres 1806 — 1873) e pela maioria dos pensadores anglo-saxões. O pragmatismo, que considera como verdadeiro tudo o que tem êxito (W. James), perpetua a tradição do utilitarismo. Contrapõe-se ao rigorismo moral de Kant, por exemplo, segundo o qual o valor moral de uma ação não se mede por suas consequências (por seu êxito), mas pela intenção que a anima e pelo princípio através do qual se regula. A tradição do utilitarismo remonta a Helvétius (Paris 1715 — Versalhes 1771) e principalmente a Hobbes (Malmesbury, Inglaterra, 1588 — 1679). Invoca o testemunho favorável da filosofia de Epicuro na Antiguidade. (V. Epicuro, pragmatismo. ) [Larousse]
a) É a doutrina que estabelece que é mais certo e é o ato mais reto, o que estabelece ou proporciona a máxima utilidade, o máximo benefício, a maior soma de prazeres ao homem, É o espírito utilitário.
b) Diz-se de toda doutrina que torna o útil princípio de todos os valores, tanto na ordem do conhecimento como do da ação. O utilitarismo defende que a maior felicidade do homem está na obtenção da maior soma de bens, que o tornem mais feliz. A concepção meramente utilitária tem servido para justificar as mais atrozes explorações que o homem tem feito sobre o homem, e é o traço que caracteriza a nossa época onde esta mentalidade predomina. Vide ética. [MFSDIC]