Escócia

Havia quatro grupos culturais distintos na Escócia no início da Idade Média — irlandeses, pictos, bretões e anglos — e um quinto, os escandinavos, do final do século VIII em diante. Cada grupo tinha sua língua própria. Os irlandeses (conhecidos como escotos) habitavam as terras costeiras a oeste, mantendo inicialmente estreitas relações com a Irlanda do Norte. Durante o século VI, os reis de Dál Riata saíram de sua metrópole irlandesa para instalar-se em Argyll, na costa oeste escocesa, aí fundando uma dinastia que durou séculos. Na Escócia oriental, ao norte do rio Forth, e no extremo norte, estavam os pictos, o mais forte grupo no período Pré-Viking. Ao sul da linha Forth/Clyde e na área do rio Clyde, havia povos e reinos britânicos, enquanto que os governantes ingleses tinham estabelecido uma posição segura na costa leste em meados do século VI. As relações entre esses povos flutuavam, mas a longo prazo os ingleses ficaram confinados na Nortúmbria; a influência irlandesa expandiu-se, a identidade píctica submergiu e os bretões perderam, em última instância, a independência política.

Durante o século VII, reis ingleses e irlandeses promoveram incursões numa vasta área, com os ingleses obtendo considerável controle nas terras dos pictos. foram, entretanto, derrotados em Dunnichen em 685 e, embora efetivamente expulsos depois disso do que é a Escócia atual, mantiveram contatos em assuntos religiosos, com os reis pícticos, como Nechtan (706-24), solicitando conselhos ao clero inglês, em detrimento dos clérigos irlandeses situados a oeste.

No século VIII, famílias reais irlandesas e pícticas ligaram-se por casamento, resultando em herdeiros que tinham pretensões tanto a reinos pícticos quanto irlandeses; reis como Constantino e seu irmão Oengus II, no início do século IX, governaram, portanto, ambos os reinos. Nesse meio tempo, a colonização viking estava mudando o caráter do norte e das ilhas setentrionais e ocidentais, e o controle viking dos mares estava confinando os interesses dos irlandeses da Escócia à própria Escócia. Logo um rei irlandês, Kenneth MacAlpin, voltou a governar ambos os reinos (843).

A união dos pictos ao reino irlandês não se desfez daí em diante e uma sucessão patrilinear foi estabelecida. Tinha surgido assim a monarquia da Escócia, apoiando-se em tradições e instituições de ambos os países. Os reinos britânicos a sudoeste foram efetivamente absorvidos no recém-estabelecido reino da Escócia em fins do século IX, embora reis de Strathclyde continuassem sendo mencionados até 1034. Depois de 954 e da conquista do reino viking de York, o condado de Nortúmbria tornou-se parte integrante da Coroa inglesa, embora sua fronteira setentrional permanecesse indefinida. Lotiana passou para o firme controle escocês depois de 1018 aproximadamente.

O impacto da conquista normanda da Inglaterra sobre os assuntos escoceses provou ser profundo e permanente. Expedições anglo-normandas assolaram a Lotiana, e pedidos de vassalagem de reis escoceses foram apresentados, às vezes com êxito. O rei Malcolm Canmore (1057-93) casou com Margaret, irmã de Edgar Atheling e representante da dinastia Saxônica ocidental. Seus filhos governaram a Escócia em 1097-1153, seguindo-se-lhes uma série de poderosos reis (Malcolm IV, 1153-65; Guilherme I, o Leão, 1165-1214; Alexandre II, 1214-49; e Alexandre III, 1249-86). Eles estruturaram o reino escocês nos moldes de uma verdadeira monarquia feudal. Seus contatos com o mundo feudal anglo-normando foram fortes, como magnatas na Inglaterra (o grande Senhorio de Huntington) e como recrutadores de homens capazes, por vezes os filhos mais moços, dispostos a ajudar os monarcas escoceses em troca de rendosos feudos ao norte da fronteira; os Stuarts foram a maior das famílias a adquirir proeminência desse modo, mas outras, como os Bruce, Balliol, Morville e Mowat, também prosperaram.

As pretensões de suserania por parte dos reis ingleses persistiram, se bem que, a partir de 1189, os próprios governantes escoceses considerassem seu preito de vassalagem dirigido exclusivamente para seus senhores ingleses e não tivesse a menor relação com o reino da Escócia. Dentro da Escócia, a dinastia obteve considerável êxito na consolidação de seus territórios; as Ilhas Ocidentais foram submetidas ao seu controle político, após a derrota do rei norueguês na batalha de Largs (1263).

As relações com a Inglaterra atingiram um ponto crítico em 1290 com a disputada sucessão que se seguiu à morte da rainha Margarida, a Donzela da Noruega, último descendente da linha direta de Malcolm Canmore. Havia muitos pretendentes, e o poder de definição acabou ficando nas mãos de Eduardo I, o rei inglês. Ele escolheu Balliol (1292-96), mas a questão passava a ser agora a da total independência para a Escócia, uma vez que Eduardo (com seus êxitos galeses em mente) tentava fazer de sua suserania uma realidade concreta. A fraqueza e o fracasso de Balliol, as revoltas de William Wallace e o surgimento de Roberto Bruce (neto de um dos mais destacados pretendentes de 1290) frustraram os planos de Eduardo, que morreu desapontado em 1307. A grande vitória em Bannockburn (24 de junho de 1314), na qual Bruce derrotou as forças de Eduardo II, confirmou a independência escocesa. Os ataques ingleses foram renovados após a morte de Bruce em 1329, mas toda a questão das relações anglo-escocesas se complicaria com a Guerra dos Cem Anos e o crescimento de “Auld Alliance” entre Escócia e França contra a Inglaterra.

Em 1371, Roberto II, neto de Roberto I por sua filha Marjory, sucedeu ao trono escocês como o primeiro representante real da casa de Stuart. Apesar de grandes problemas pessoais e dinásticos, os Stuarts mantiveram-se firmes no trono, e uma retomada geral da prosperidade, conjugada com o êxito da França na guerra contra a Inglaterra, fez da segunda metade do século XV algo como uma idade de ouro na história escocesa, sobretudo no reinado de Jaime IV (1488-1513). Fundaram-se universidades em St. Andrews (1414), Glasgow (1451) e Aberdeen (1495). A vida literária floresceu (Henryson, c. 1430-1506; Dunbar, C.1460-C. 1520). Nem mesmo o desastre militar de Flodden em 1513 pôde esconder o permanente avanço realizado em direção à nacionalidade escocesa nos últimos séculos da Idade Média. (DIM)