(v. decapitação)
Para os bambaras, existe uma correspondência entre os dentes e o olho, ambos associados analogicamente aos conceitos de Inteligência e de universo.
Os bambaras distinguem entre os dentes três grupos, de funções simbólicas diferentes: incisivos, caninos e molares. Os incisivos representam nomeada e celebridade, aparecendo no primeiro plano quando os lábios se entreabrem para o riso; são, igualmente, sinal de alegria, e acredita-se que confiram à palavra um aspecto de juventude e de jovialidade. Os caninos são signo de trabalho, mas também de encarniçamento e de ódio. Os molares, símbolo de proteção, são sinal de resistência e de perseverança: as pessoas que têm molares fortes passam por ser tenazes e obstinadas nas suas palavras.
Perder os dentes é perder força agressiva, juventude, defesa, ê um símbolo de frustração, de castração, de falência. É a perda da energia vital, enquanto a mandíbula sadia e bem guarnecida atesta a força viril e confiante em si mesma.
A tradição védica parece dar sentido semelhante aos dentes, principalmente aos caninos, cuja agressividade é preciso vigiar, conter. São eles:
Dois tigres, que avançam para baixo,
procurando devorar o pai e a mãe.
Ô Agni, fazei que nos sejam propícios!
Sede pacíficos e de bom augúrio!
Aquilo que, na vossa substância, é de temer,
Ô dentes,
Que se vá para outras partes.
O dente do siso serve, na Irlanda, segundo alguns textos, para o sortilégio chamado teinm laegda, ou iluminação do canto. O poeta ou o herói dotado de visão põe o polegar debaixo do dente do siso, morde-o, canta uma quadrinha, depois oferece um sacrifício aos deuses.
A poesia galante persa, como a europeia, compara os dentes a pérolas ou a estrelas fixas: muitas vezes, também, ao granizo: Um orvalho caiu dos narcisos (teus olhos) como a chuva. Regou as rosas (tua face). Transformada em granizo, que alegra a alma (teus dentes), ela crivou as jujubeiras (teus lábios).
O dente é um instrumento de tomada de posse, tendendo à assimilação: é a mó que esmaga para fornecer um alimento ao desejo. Os dentes simbolizam a força de mastigação, a agressividade devida aos apetites dos desejos materiais. Os dentes do Dragão representam a agressividade da perversão dominadora: a mastigação devorante. Da sementeira dos dentes do Dragão nascem os homens de ferro, os homens de alma endurecida, os quais, julgando-se predestinados ao poder, não cessam de combater-se uns aos outros a fim de satisfazerem as suas ambições. Os ambiciosos têm dentes longos.
Mas esse meio de assimilação é o símbolo de uma perfeição, se tende a assimilar os alimentos celestes. Os dentes significam a perfeição com a qual dividem o alimento que recebem; porque cada essência intelectual, tendo recebido em dom de uma essência mais divina a intelecção unificadora, divide-a e multiplica-a providencialmente para elevar espiritualmente, e tanto quanto possível, a essência inferior que tem a seu cargo. (DS)