teoria aristotélica da visão

Em razão das aplicações particulares que encontra, tanto em Teologia como em Filosofia (doutrinas da intelecção, da , da visão beatífica), e por causa de seu interesse próprio, a teoria da visão merece reter-nos um pouco mais (c. Tomás de Aquino, De Anima, II, l. 11-15; De Sensu, l. 2-9) .

O objeto da vista é o visível. Ora, na ordem do visível encontramos duas coisas: a cor e o luminoso. A cor é o visível por si, enquanto que o luminoso não será visível a não ser pela cor Vejamos mais acuradamente como se ajustam estes elementos. O conjunto dos corpos transparentes, e mesmo opacos, possui em comum uma certa natureza, o diáfano (perspicuum). Este, de si, é pura potência. Encontra-se determinado pelo `fogo ou pelos corpos celestes: seu ato é então a luz. Mas sabemos que a luz é somente um princípio de visibilidade: torna-se visível efetivamente apenas quando atuada pela cor que é o limite dos corpos opacos. O objeto será, portanto, visível em ato, quando o diáfano encontrar-se ao mesmo tempo iluminado e determinado pela cor Em toda esta explicação – é preciso notar – não há traço de movimento local; todo o processo resulta da alteração qualitativa.

No De Sensu, a presente teoria vê-se oposta às concepções emissionistas de Platão, de Empédocles e de Demócrito. A visão, segundo estes filósofos, deveria ser antes compreendida como uma irradiação luminosa do olho: este, sendo da natureza do fogo, emitiria algo do fogo que faria perceber os objetos circunstantes. Muitas vezes se admitia mesmo que partículas emanassem dos corpos exteriores. A visão seria, então, provocada pelo encontro de duas correntes. Aristóteles, por sua vez, não cria que o olho fosse um centro luminoso ativo; não é constituído de fogo mas sim de água e seu comportamento, frente ao objeto, é de pura passividade. Na doutrina peripatética era o branco a cor fundamental, ao qual se opunha o preto; as outras cores eram formadas por uma combinação de branco e preto. [Gardeil]