(in. Theodicea; fr. Théodicée; al. Theodizee; it. Teodiceà).
Termo criado por Leibniz e que serviu de título a uma de suas obras (Ensaio de teodiceia sobre a bondade de Deus, a liberdade do homem e a origem do mal, 1710), para demonstrar que há justiça divina por meio da solução de dois problemas fundamentais: o do mal e o da liberdade humana. Sobre o primeiro problema, a teodiceia de Leibniz responde mais especificamente às considerações desenvolvidas por Bayle em seu Dicionário (1697), que na realidade só ampliavam o que epicuristas já haviam dito em polêmica com os estoicos: “Deus não quer, ou não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode eliminar o mal. Se quer e não pode, é impotente: o que Deus não pode ser. Se pode e não quer, é invejoso, o que igualmente é contrário a Deus. Se não quer nem pode, é invejoso e impotente, portanto não é Deus. Se quer e pode — única coisa que convém a Deus —, qual a origem da existência do mal e por que não os elimina?” (Fr. 374, Usener). A solução de Leibniz é a tradicional: o mal não é uma realidade; portanto, a responsabilidade por ele não remonta a Deus. Quanto ao problema da liberdade, Leibniz discute principalmente as várias formas assumidas pelo determinismo teológico na literatura protestante de seu tempo, para reivindicar a liberdade do homem no sentido tradicional de autodeterminação. Deus predispõe sem determinar, e a liberdade do homem não consiste na indeterminação absoluta, ou seja, no arbítrio de indiferença, mas na ausência de necessidade e de coação. A partir de Leibniz, a teodiceia passa a ser considerada parte fundamental da teologia racional. [Abbagnano]
(do gr. theos, deus, e dike, justiça), parte da metafísica que estuda a maneira pela qual Deus criou o mundo:’ “os caminhos de Deus no universo” (Leibniz). — A teodiceia tenta, principalmente, conciliar a existência do mal (sofrimentos, guerras, tentações), ao nível de nossa humanidade, com a irresponsabilidade de Deus, sua bondade original: na verdade, por que Deus, que é perfeito, teria criado um homem capaz de fazer o mal? Leibniz, na sua Teodiceia, tentou resolver o problema demonstrando a necessidade da liberdade humana. [Larousse]
(do gr. theos, deus e dike, justiça)
(1) significa, etimologicamente, “justificação de Deus”, diante das objeções que o incrédulo suscita contra Ele, por causa das muitas espécies de mal existente neste mundo; o vocábulo foi criado por Leibniz e introduzido na filosofia pelo título de sua obra “Essais de Théodicée” (1710). Poderia parecer ousadia o fato de o homem empreender a “justificação” de Deus; mas não só perante a atrevida linguagem dos ateus, como também por causa da dificuldade pessoal que frequentemente os bons experimentam em consequência da aparente absurdidade do mal, é permitido intentar, com todo respeito, a solução do angustiante problema: como se compagina o mal com a sabedoria e bondade divinas? Sem dúvida, não pode o homem fazer depender sua crença de Deus da solução do problema da teodiceia, porque a existência de Deus prova-se de muitas maneiras independentemente de tal problema (provas da existência de Deus); nem compete ao homem, por assim dizer, pedir contas a Deus do por quê e para quê de suas providências e permissões em particular. Uma solução, principalmente uma solução puramente filosófica, pode, quando muito, mostrar em geral, pres supondo a fé em Deus, que, em derradeira instância, por obscuros que possam permanecer para nós seus caminhos, em casos particulares, Deus com seu poder, sabedoria e bondade, converte em bem todo sofrimento e todo mal.
São manifestamente impossíveis as soluções dualistas do problema, que se propõem atribuir o mal a um segundo ser originário, mau, de todo independente de Deus (dualismo, maniqueísmo), pois desse modo negar-se iam a infinidade e onipotência divinas. Também é insustentável o otimismo metafísico de Leibniz, que reputa o mundo existente o melhor de todos os possíveis e explica o mal que, apesar disso, nele se encontra, como se em conjunto fosse a menor soma possível de males; opõe-se a esta concepção o fato de Deus, com sua onipotência, ter certamente podido evitar neste mundo todos os males particulares, sem que por isso, como opina Leibniz, devessem ser permitidos noutro lugar males de grandeza proporcional. Portanto, Deus permanece livre na escolha dos mundos possíveis, não estando obrigado a criar o melhor deles; mais ainda, tal mundo nunca pode dar-se, porque a onipotência divina sempre poderia criá-lo melhor; sua infinita bondade só exige uma coisa: que o mundo, de fato, existente por sua vontade, considerado como conjunto ordenado seja bom, predominantemente bom, e que portanto todo o mal que nele se encontra tenha sua justificação num bem superior ao qual seja ordenado.
Deus não pode querer nenhum mal como fim. Aliás, a ordenação ao bem é distinta no mal físico e no mal moral. Deus não só pode permitir o mal físico, como também pode positivamente tê-lo em vista como meio para a consecução de objetivos superiores; pelo contrário, nunca pode querer, de maneira positiva, o mal moral, porque este repugna ao sentido último da criação: a glorificação de Deus. Mas pode permiti-lo isto é, não impedi-lo, embora o preveja. Esta permissão do mal moral é também sempre justificada por um bem superior, bem pertencente, em todo caso, à ordem ética. Se Deus devesse incondicionalmente impedir o mal, ou sequer apenas o mal moral, sua liberdade seria restringida de maneira indigna e de antemão ficariam excluídos muitos bens excelentes (fortaleza, paciência, misericórdia, arrependimento, salvação — mas também a manifestação da justiça punitiva divina). Entanto, a maior vitória do bem parece ser precisamente que Deus sabe dirigir para o bem os piores males. A crença firme nesta vitória final do bem, que nos é afiançada pela elevação de nosso olhar a Deus, deve fazer-nos perseverar pacientemente na luta contra o mal e na esperança da eterna salvação, a despeito da absurdidade e da tirania do destino.
No século XIX, o significado do vocábulo “teodiceia” (2) sofreu várias ampliações, até designar toda ciência filosófica que tem Deus por objeto ou teologia natural. Contudo, em nossos dias, tal acepção, vai pouco a pouco tombando em desuso. — De Vries. [Brugger]