(in. Teleology; fr. Téléologie; al. Teleologia; it. Teleologià).
Este termo foi criado por Wolff para indicar “a parte da filosofia natural que explica os fins das coisas” (Log., 1728, Disc. prael, § 85). O mesmo que finalismo. [Abbagnano]
(do gr. telos, fim, e logos, estudo), estudo da finalidade. — Há duas maneiras de considerar a história humana, por exemplo: ou a consideramos a ordem das causas, seu passado; ou a consideramos em função de seu objetivo; essa última consideração é “teleológica”. As noções de finalidade e teleologia foram analisadas na Crítica do juízo de Kant: o “juízo teleológico” só tem um uso objetivo quando se trata de refletir-se sobre um organismo ou uma obra de arte; porque, somente nesses dois casos, as partes são compreendidas a partir do todo: da mesma maneira que os órgãos só têm sentido a partir do funcionamento geral do organismo, os elementos de uma obra de arte reúnem-se para promover uma forma global que constitui a qualidade estética da obra. A explicação teleológica a partir do todo contrapõe-se à explicação mecanista, que se focaliza inicialmente nas partes. (V. finalidade.) [Larousse]
O termo teleologia foi empregado no século dezoito com o fim de exprimir o modo de explicação baseado em causas finais , diferentemente do modo de explicação baseado em causas eficientes. Apelamos para a causa final ou teleológica quando, ante uma entidade ou processo. perguntamos: “para quê?” Apenas o nome é moderno; a própria ideia é antiga e o que é fundamental nela pode encontrar-se já em Platão e Aristóteles. É muito frequente chamar causalismo ao modo de explicação por causas eficientes e teleologismo (ou finalismo) ao modo de explicação por causas finais. Quando se reduz a causa eficiente à causa mecânica o causalismo chama-se mecanicismo e a oposição estabelece-se entre o mecanicismo e o teleologismo. Utilizaram-se tais oposições com grande frequência na interpretação de pensamentos filosóficos: contrapuseram-se os pensamentos de Anaxágoras, Platão, Aristóteles, escolásticos, etc, considerados como teleologistas, aos pensamentos de Demócrito, Descartes, Espinosa, considerados como causalistas e às vezes mecanicistas. Além disso, interpretaram-se outros sistemas (como o de Leibniz), como ensaios de concordância entre o causalismo e o teleologismo, na medida em que admitiram uma finalidade íntima no mesmo encadeamento causal de todos os fatos. Só se pode admitir tais interpretações na medida em que as consideramos aproximadas: os sistemas causalistas oferecem outras caraterísticas e os teleologistas não rejeitam de nenhum modo a existência de causas eficientes.
Enquanto alguns filósofos insistiram na impossibilidade de prescindir do conceito de teleológico para explica certos fenômenos da natureza, outros tentaram reduzir o teleológico ao causal. Este redução deu-se de várias maneiras: alguns indicaram que a explicação teleológica não é mais que uma explicação causal que utiliza o conceito de intenção; outros observaram que a noção de teleologia é puramente metódica, que de modo algum denota uma relação real; outros finalmente assinalaram que os conceitos teleológicos são interinos, quer dizer, que são se utilizam enquanto não se descubram as conexões causais correspondentes. A maior parte das posições adotadas têm o defeito de não atender suficientemente ao fato que um conceito de causa, e em articular o de cadeia causal, não ser alheio às concepções teleológica..
No que se refere aos diferentes campos aos quais se aplica a noção de teleológico é preciso assinalar a diferença de sentido que se estabelece quando se aplica aos processos da natureza ou aos atos dos homens. Neste último caso, o problema da teleologia envolve o da liberdade; no primeiro caso, pode-se conceber o teleológico como uma forma especial de determinação – a determinação desde o fim. Mesmo quando é perigosa a fusão dos dois conceitos, podemos admiti-la quando se apresenta como uma síntese ente e o natural – mecânico e o ético-livre; isto é o que Kant tentou na crítica do juízo, ao submeter à análise a noção de finalidade para descobrir o princípio do juízo teleológico da natureza em geral como sistema de propósito e, sobretudo, para chegar ao conhecimento do propósito final da natureza. Deste modo pode falar-se de um princípio teleológico como princípio interno da ciência natural, pois não se abandona a ideia do mecanicismo das causas. Kant também enfrenta os problemas postos pela dialéctica do juízo teleológico. Com efeito, aqui aparece a antinomia surgida destas afirmações: 1. Todas as coisas naturais foram produzidas por leis meramente mecânicas; 2. Não é possível nenhuma produção de coisas materiais por leis meramente mecânicas. Segundo Kant, a antinomia não se pode resolver e poderíamos concluir que um propósito natural é inexplicável. Mas na medida em que analisamos o comportamento humano e a sua compreensão da realidade observamos que nele se podem unir o princípio do mecanicismo universal da natureza com o princípio teleológico da natureza, sempre que admitamos que o princípio unificador é de caráter transcendente. O juízo teleológico não pertence nem à ciência natural nem à teleologia; é apenas um tema da crítica do juízo. Prova Teleológica: Esta é uma das provas clássicas da existência de Deus e foi aceite por maior número de filósofos e teólogos que a prova ontológica. Entende-se esta prova em dois sentidos: física e metafisicamente. Fisicamente consiste numa demonstração da existência de Deus com base na ordem deste mundo, na harmonia do cosmos. Metafisicamente, a prova teleológica consiste numa demonstração da existência de Deus fundamentada na passagem do movimento à causa do movimento e do contingente ao necessário. Na crítica da razão pura, Kant examinou a demonstração da existência de Deus por meio da finalidade da natureza e quis mostrar que os argumentos oferecidos fracassaram pela impossibilidade de passar do mundo fenomênico ao mundo numênico. O Deus em que desembocariam tais elementos, assinala Kant, seria, no máximo, uma espécie de demiurgo, não o Deus criador, omnipotente a que se referem os que usaram a prova. Kant reconhece no entanto que tal prova tem muita força de convicção e por isso tem sido usada com tanta frequência. Um dos seus pontos de partida é a ideia de que o mundo é um signo ou código do mundo invisível e, em último termo, o criador do mundo visível. [Ferrater]