tecnologia

(in. Technology; fr. Techno-logie; al. Technologie; it. Tecnologia).

1. Estudo dos processos técnicos de determinado ramo da produção industrial ou de vários ramos.

2. O mesmo que técnica.

3. O mesmo que tecnocracia. [Abbagnano]


Técnica e tecnologia são dois termos que estranhamente intercambiaram suas noções desde o século XVIII. A tecnologia, que originalmente se referia ao “discurso da técnica”, veio indicar a técnica propriamente dita, enquanto esta última veio a se ocupar do discurso sobre ela mesma. Embora, hoje em dia, se use ainda muito o termo técnica, afinado com a noção original de arte, de savoir-faire ou de “fazimento”, termo e noção cunhados por Darcy Ribeiro para os fazeres indígenas

Por sua vez, artefato, dispositivo, instrumento, ferramenta, utensílio passou a ser designado pomposamente como tecnologia, talvez porque cada vez mais em qualquer um deles se reunia não apenas uma técnica, ou o substratum de um fazimento, mas diferentes técnicas, em uma espécie de coalescência que assim dava forma concreta a um “discurso da técnica”.


O saber engendrado pela ciência moderna produz um poder sob a forma de uma tecnologia, ou seja, praticamente, sob a forma de um conjunto de instrumentos e de máquinas que povoam nosso horizonte familiar e constituem o décor de nossa existência. Estamos cercados de aparelhos dos quais conhecemos (pelo menos de modo geral) o modo de utilização, mas dos quais conhecemos muito pouco ou quase nada os princípios de funcionamento.

Mesmo os especialistas de determinada tecnologia só conhecem, de modo preciso, uma parte muito limitada de nosso meio tecnológico. Aliás, desse ponto de vista, há uma incrível analogia entre a aparelhagem tecnológica e as instituições sociais: como já observou Max Weber, utilizamos as instituições, mas conhecemos muito mal, ou mesmo quase nada, suas regras precisas de funcionamento. Só os especialistas do direito as conhecem e, ainda assim, são obrigados a se especializarem sempre mais.

O décor tecnológico que nos cerca dá lugar a um verdadeiro fenômeno de indução existencial. Essa indução é uma espécie de transferência do modo de ser inscrito no décor tecnológico ao modo de ser do próprio homem. O ser humano é, de certa forma, modelado segundo a imagem dos objetos técnicos. Na verdade, ele deve ser considerado, nesse contexto, não mais como o sujeito puro (como o era na filosofia da representação), mas como “existente”, como relação viva com o mundo. Trata-se do ser humano tal como a fenomenologia contemporânea tentou descrevê-lo: do ser humano que está em questão para si mesmo, enquanto está em suspenso diante de si; do ser humano que se descobre responsável por si mesmo no meio de um mundo no qual é lançado. Para ele, este mundo é, ao mesmo tempo, desafio e apoio, um campo infinito aberto à sua exploração questionante e um limite. Considerado como “existente”, o ser humano nunca é transparente a si mesmo. No entanto, não lhe falta clareza sobre si próprio. [Ladrière]