tecnocracia

(in. Technocracy; fr. Technocratie; al. Technokratie; it. Tecnocrazià).

Uso da técnica como instrumento de poder por parte de dirigentes econômicos, militares e políticos, em defesa de seus interesses, considerados concordantes ou unificados, com vistas ao controle da sociedade. Esse é o conceito de tecnocracia que se encontra nos escritores mais qualificados (p. ex., C. W. Mills, The Power Elite, 1956), que permite defini-la como “a filosofia autocrática das técnicas” (G. Simondon, Du monde d’existence des objets techniques, 1958). Assim, as críticas mais radicais feitas à sociedade contemporânea trazem à baila a tecnocracia A ela é imputada não só a responsabilidade por todos os males da técnica e por não poder nem querer fazer nada para eliminá-los, como também a responsabilidade de suprimir ou bloquear a liberdade de escolha do homem em todos os campos de atividade (do trabalho ao divertimento), com uma determinação interna que o impede de exercer sua razão crítica e reprime seu instinto vital e a livre procura da felicidade. Marcuse escreveu: “O aparato produtivo tende a tornar-se totalitário na medida em que determina não só as ocupações, as habilidades e os comportamentos socialmente necessários, mas também as necessidades e as aspirações individuais. (…) A tecnologia serve para instituir novas formas de controle e coerção social mais eficazes e mais agradáveis” (One Dimensional Man, 164, p. XV). Desse ponto de vista, a tecnocracia (chamada também de “The Establishment” ou “O Sistema” por antonomásia) exercitaria um determinismo necessitante sobre todas as atividades humanas e impediria ou bloquearia qualquer forma de crítica social, qualquer possibilidade de transformação. Por outro lado, porém, admite-se (como faz o próprio Marcuse, Ibid., p. 238) que “a racionalidade pós-tecnológica” possa transformar a técnica em meio de pacificação e em instrumento para a arte de viver, nesse caso, a função da razão — cujo uso instrumental deu origem à tecnocracia — convergiria para a função da arte.

Outras vezes, põe-se em dúvida o caráter monolítico e necessitante da tecnocracia. Gal-braith fala de tecnoestrutura para designar a formação pluralista e heterogênea dos grupos que dirigem a sociedade industrial, admitindo a possibilidade de minimizar a subordinação das crenças às necessidades do sistema industrial e de considerar este último apenas “uma parte da vida (uma parte em processo de diminuição)”, que pode ser subordinada aos fins estéticos que constituem a dimensão da vida e possibilitam a liberdade individual ( The New Industrial State, 1964, p. 399). Às vezes também se apresenta uma conotação “não pejorativa” de tecnocracia em correlação com o conceito mais compósito que se tem hoje de classe social (cf., p. ex., A. Tou-RAINE, La sociétépos-industrielle, 1969, cap. I). [Abbagnano]