Simmel, Georg (1858-1918)
Filósofo e sociólogo alemão (nascido em Breslau); como representante do neokantismo, Simmel procura evitar a abstração, o formalismo a priori de Kant e a dispersão na diversidade dos fatos; admite, contudo, a objetividade das normas lógicas e das exigências morais. Obras principais: Introdução à ciência da moral (1892), Problemas de filosofia da história (1892), Filosofia do dinheiro (1900), O conflito da cultura moderna (1918). Ver neokantismo. [Japiassu]
O resultado final da filosofia de Georg Simmel (1858-1918) é o relativismo. Mas no início, concordando com os neocriticistas da escola de Baden, ele havia, por exemplo, atribuído ao dever ser independência em relação às situações históricas. E nos Problemas fundamentais de filosofia (1910) além do sujeito e do objeto, Simmel propõe um terceiro reino das ideias e um quarto reino do dever ser.
Simmel propõe a questão da história em termos kantianos, como o problema das condições que tornam possível e fundamentam as ciências histórico-sociais em sua autonomia e validade. Mas, contra Kant e os neokantianos, Simmel afirma que os elementos do conhecimento se encontram na experiência. Em suma, a possibilidade da história não reside em condições a priori independentes da experiência. As categorias da pesquisa histórica são produto de homens históricos e mudam com a história. Desse modo, a realidade histórica pode ser interpretada à luz de diversas categorias. Não há sentido, portanto, em falar de fatos históricos “objetivamente” importantes. Escreve Simmel: “Um fato é importante porque interessa a quem o considera”.
Assim, também para Simmel é a relação com o valor que atua como critério de escolha dos fatos históricos, só que esses valores não são inerentes aos fatos, e sim são os valores do historiador. O qual, na opinião de Simmel, tem a função de estudar os acontecimentos individuais em sua individualidade. E esse estudo só é possível mediante procedimento de compreensão psicológica que, como afirmara Dilthey, deve captar, através do Verstehen (o entender) e o Nachbilden (o reproduzir), a vida espiritual e interior dos indivíduos, cujas relações dão lugar aos fenômenos históricos, ainda que Simmel observe que a identidade entre sujeito cognoscente e objeto conhecido é pressuposto da validade do conhecimento histórico e não garantia dessa validade.
No que se refere à sociologia, Simmel refuta a ideia positivista que afirma a existência de uma estrutura legal da realidade histórico–social. Para Simmel, a função da sociologia é puramente descritiva. Mas a descrição dos fatos não é a sua reprodução: ela implica sempre a sua interpretação, à luz de categorias e conceitos que não são eternos nem absolutos e que precisam ser determinados do interior de cada ciência e da sua ação efetiva no curso da pesquisa concreta. E, como ciência autônoma, a sociologia deve compreender “unicamente os modos e as formas de associação”. Assim, prescindindo dos conteúdos, distingue-se das outras ciências, como a economia, a moral ou a psicologia.
Consequentemente, a história tem a função de compreender fatos e acontecimentos individuais e a sociologia tem a função de descrever as formas de associação entre os indivíduos. Desse modo, o problema do sentido da história é problema teoricamente insolúvel: o sentido que pensamos terem a história e a vida é questão relativa às crenças que são as filosofias da história. Filosofias e crenças relativas. Para Simmel, todo aspecto da vida é relativo. A vida é intranscendível: não se pode ir além da vida e de suas manifestações. [Reale]