semiótica

A teoria dos sinais ou semiótica teve um grande desenvolvimento na época antiga: nos sofistas, em Platão, em Aristóteles, nos estoicos, nos epicuristas e nos cépticos encontramos muitas análises semióticas e até uma clara percepção da importância da semiótica dentro da filosofia. Também na idade média encontramos considerável desenvolvimento dos estudos semióticos entre os lógicos gramáticos especulativo…… A semiótica foi também cultivada na época moderna por autores como Leibniz e Locke. Em época mais recente as investigações semióticas têm sido muito abundantes: Peirce, Charles W. Morris e muito lógicos contemporâneos têm desenvolvidos não apenas os estudos semióticos, mas também considerado o termo semiótica como o central em muitas investigações lógicas e filosóficas. semiótica designa, segundo Morris, a ciência geral dos sinais.. Há acordo quase geral em subdividir a semiótica em três partes: a sintaxe, a semântica e a pragmática. A sintaxe ocupa-se dos sinais independente do que designam e significam. Trata-se, portanto, de um estudo das relações dos sinais entre si. A semântica ocupa-se dos sinais na sua relação com os objetos designados. A pragmática ocupa-se dos sinais na relação com os sujeitos que os usam. Na literatura lógica a é corrente considerar a semiótica como uma metalinguagem.. As três partes ou ramos da semiótica explicam-se pelo fato das metalinguagens terem três dimensões: a sintáctica, a semântica e a pragmática. Advertiremos, no entanto, que esta divisão não é aceite por todos os lógicos. Distingue-se com frequência, entre a semiótica lógica e a semiótica não lógica; um exemplo desta última pode ser a estética. Morris propõe uma divisão da semiótica em pura, ou semiótica que elabora uma linguagem para falar acerca dos sinais, e semiótica descritiva, ou semiótica que estuda sinais já existentes, mas tal divisão não é aceite por todos os lógicos ou semióticos. [Ferrater]


No § 3 do capítulo III de seu Cours, Sausure afirma que a língua é a instituição humana mais importante, mas não a única. Os homens possuem outras linguagens e estas seriam objeto de “uma ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social”, a semiologia. A Linguística dependeria metodologicamente desta ciência a ser criada e a tarefa do linguista seria a de definir o que faz com que a língua seja um sistema especial dentre os conjuntos semiológicos.

A semiologia não é reconhecida ainda como ciência autônoma, segundo Saussure, pois a língua é mais apta para fazer compreender o problema semiológico. E para se entender a língua há que estudá-la do ponto de vista pertinente, o que não se fizera até sua época. A língua não é uma nomenclatura, como quer o senso comum, nem o mecanismo do signo é individual, como querem os psicólogos. Há que estudar o signo como social, pois este é o seu ser. Mas não o social como vontade, pois o essencial do signo é escapar a isto: sua verdadeira “natureza” só seria dada no plano do discurso. Daí Saussure concluir que “se se quer descobrir a verdadeira natureza da língua, é necessário tomá-la primeiramente no que ela tem de comum com todos os outros sistemas da mesma ordem; e fatores linguísticos que aparecem como muito importantes à primeira vista (por exemplo, o funcionamento do aparelho vocal), só devem ser considerados secundariamente, se só servem para distinguir a língua dos outros sistemas. Com isto não se esclareceria somente o problema linguístico, mas pensamos que considerando os ritos, costumes etc…, como signos, estes fatos aparecerão sob outra luz e se sentirá a necessidade de grupá-los na semiologia e de explicá-los nelas leis desta ciência.”

Saussure fará assim uma reinversão em relação à linguística: esta dependerá da futura ciência a ser criada, de vez que seu objeto é da mesma ordem — quando encarado corretamente — que o da linguística: a teoria dos signos. Mas, pelo fato da língua ser o sistema mais complexo e mais usado de todos os sistemas expressivos, “a linguística pode-se tornar o padrão geral de toda semiologia, se bem que a língua seja apenas um sistema particular” (Segundo as fontes manuscritas de Saussure).

Barthes dirá que a “Semiologia tem por objeto qualquer sistema de signos, quaisquer que sejam seus limites: as imagens, os gestos, os sons melódicos, os objetos e o complexos destas substâncias que se encontram nos ritos, protocolos ou espetáculos constituem, senão “linguagens”, ao menos sistemas de significação”. E critica Saussure porque este pensava que a Linguística era apenas uma parte da ciência geral dos signos, enquanto Barthes acha que os conjuntos de objetos só ascendem ao status de sistemas passado pelo relê da língua, que lhes recorta os significantes (sob forma de nomenclaturas) e lhes nomeia os significados (sob forma de usos ou razões) . “Enfim, de um modo muito mais geral, parece cada vez mais difícil conceber um sistema de imagens ou objetos cujos significados pudessem existir fora da linguagem”. E conclui: “A linguística não é uma parte, mesmo privilegiada, da ciência geral dos signos; é a Semiologia que é uma parte da Linguística”. Apesar disto, Barthes critica o exame semiológico como cópia dos métodos linguísticos. Lévi-Strauss já mostrara que a língua é sempre um sistema significativo, enquanto outros sistemas — arte, religião, organização social, mito etc. — “pretendem também significar, mas seu valor de significação permanece parcial, fragmentário ou subjetivo”. E que por isto o uso mecânico dos métodos linguísticos está sempre fadado ao fracasso.

Segundo Peirce, a Semiótica ou doutrina geral dos signos se constitui em três níveis distintos: sintático, signos e suas relações com outros signos; semântico, signo e suas relações com “o mundo exterior” (designação) e pragmático, signos e suas relações com os usadores. Estes três níveis se referem a regras que não dependem do conhecimento dos usadores. As regras não são inerentes à linguagem mas sim à sua análise.

Já para uma certa teorização soviética contemporânea, “a semiótica é uma ciência nova que tem por objeto qualquer sistema de signos usado na sociedade humana”. Daí parte para diferenciar o homem dos animais, mostrando como o sistema “se desenvolve com a maturação do indivíduo (onto-gênese) e a evolução do gênero humano (filogênese)”. Abandonando as lições de Saussure, volta-se para problemas fisiológicos, psicológicos e especialmente neurológicos para explicar a semiologia. Estas concepções darão margem à afirmação de continuidade entre ideologia e ciência: “A linguagem natural permanece sempre a base interpretativa e a reserva para o desenvolvimento das linguagens artificiais formalizadas da ciência”.

Julia Kristeva mostrará, ao contrário, que é aí o lugar de construção e não do já feito da Semiologia.” Já que a prática social, isto é, a economia, os costumes, a arte, etc, é encarada como um sistema significativo estruturado como uma linguagem, toda prática pode ser cientificamente estudada como um modelo secundário por relação à língua natural, modelada nesta língua e modelando-a”. O problema essencial será o da construção da Semiologia, a produção de sua teoria e não seus resultados teóricos. Qualquer modelo científico traz implícita uma teoria, “mas a Semiologia manifesta esta teoria, ou melhor, ela não existe sem esta teoria que a constitui, quer dizer, que constitui ao mesmo tempo e cada vez seu objeto (portando, o nível semiológico da prática estudada) e seu utensílio (o tipo de modelo que corresponderá a uma certa estrutura semiológica designada pela teoria)”. A Semiologia tem como finalidade inicial um conhecimento e na sua realização encontrará uma teoria. Isto equivalerá a dizer que a Semiologia só pode se fazer como uma crítica da Semiologia. Para Kristeva ela terá um papel muito importante de definidora das ciências e de redefinidora de seus conceitos (através da introdução de uma nova terminologia). A Semiologia se definirá pela atuação em níveis diversos e estudaria os significados como sistema onde se permitem elementos significantes. Assim situada, a Semiologia seria “a ciência das ideologias” e também “uma ideologia das ciências”. (Chaim Katz – DCC).