reconhecimento

(in. Recognition, acknowledgment; fr. Reconnaissance; al. Anerknnung; it. Riconoscimentó).

1. Em geral, conhecer algo por aquilo que é. Neste sentido diz-se, p. ex., “Reconheci-o como ladrão”, ou “Reconheço a justiça dessa observação”.

2. Um dos aspectos constitutivos da memória, porquanto os objetos lhe são dados como já conhecidos (v. memória). [Abbagnano]


O ato de memória que consiste em experimentar, em relação a certas imagens, um sentimento de “dejà vu” (já visto). — O reconhecimento não implica na “localização” das lembranças, que já é muito mais precisa. Pode ocorrer que o sentimento de reconhecimento seja uma ilusão: caso de “paramnésia”, ou “falso reconhecimento”. (V. memória, reminiscência.) [Larousse]


O que é o reconhecimento, segundo a sua mais profunda natureza, não será compreendido, se somente vermos no sentido de ali reconhecermos algo que já conhecemos, isto é, o fato de que o conhecido é reconhecido. A alegria do reconhecimento reside, antes, no fato de identificarmos mais do que somente o que é conhecido. No reconhecimento, o que conhecemos desvincula-se de toda casualidade e variabilidade das circunstâncias que o condicionam, surgindo de imediato como que através de uma iluminação, e é apreendido na sua essência. É identificado como algo.

Encontramo-nos aqui diante do motivo central do platonismo. Juntamente com sua doutrina da “anamnesis”, Platão concebeu a ideia mítica da reminiscência com o caminho de sua dialética, que procura no logoi, isto é, na idealidade da linguagem a verdade do ser. Na realidade, um tal idealismo da essência é colocado no fenômeno do reconhecimento. O conhecido alcança o seu ser verdadeiro e mostra-se como o que ele é, apenas através do reconhecimento. Enquanto reconhecido, é aquilo que se mantém firme na sua essência, liberto da casualidade de seus aspectos. Isso vale totalmente para a espécie de reconhecimento que ocorre no jogo (espetáculo), face à representação. Uma tal representação deixa atrás de si tudo que seja casual e secundário, p. ex., o ser peculiar e especial do ator. Com relação ao conhecimento daquilo que ele representa, ele desaparece inteiramente. Mas também aquilo que é representado, o conhecido processo da tradição mitológica, será elevado concomitantemente, através da representação, à sua verdade válida. Tendo em vista o conhecimento do verdadeiro, o ser da representação é mais do que o ser da matéria representada, o Aquiles de Homero, mais do que seu modelo originário. [GadamerVM:2.1.2]