O que denominamos as “qualidades segundas” são as qualidades ou as determinações que são devidas à interação entre o sujeito e o objeto; são as propriedades que se encontram ligadas às impressões subjetivas. A ideia diretriz, naturalmente, é a de que não há ciência das qualidades segundas enquanto tais. Só haveria uma ciência das qualidades segundas, se pudéssemos objetivá-las inteiramente. Isto suporia um conhecimento do corpo humano, permitindo transformar a linguagem das impressões sensíveis, que também é a linguagem de uma psicologia ingênua, na linguagem de uma psicologia verdadeiramente científica. Na época em que escreveu Descartes, não se tratava ainda da questão da objetivação dos fenômenos psíquicos. O que se recomendava era a colocação entre parênteses das qualidades segundas. Toda a atenção do espírito científico se concentra nas qualidades primeiras, nessas qualidades independentes da intervenção do sujeito. Segundo Descartes, essas qualidades primeiras constituem as determinações que podem, em princípio e definitivamente, explicar-se em termos de representações matemáticas. [Ladrière]