VIDE enunciação
As enunciações, consideradas como um todo e umas em relação às outras, têm propriedades. A mais essencial dessas propriedades é a oposição, que decorre do próprio caráter de afirmação ou de negação que necessariamente apresenta todo julgamento. Quando eu declaro que “este objeto é branco”, estou afirmando, por isso mesmo, uma oposição a toda outra proposição que possa ser-lhe contrária, tal como: “este objeto não é branco”.
A noção de “oposição” tem um lugar considerável nos escritos lógicos de Aristóteles. É estudada, em particular, quando se trata da proposição, no Peri hermeneias (a partir do c. 6), mas já tinha sido encontrada antes, a respeito dos termos (Categorias, c. 10 e ll); (ef. igualmente: Metafísica, A, c. 10 e I, c. 4 e seg.). Ler a este respeito, em Le Systeme d’Aristote de Hamelin o capítulo consagrado à oposição (p. 128 e seg.).
É possível descobrir-se, na filosofia anterior, uma dupla origem para esta teoria: na física pré-socrática, por um lado, onde já se dava grande importância à contrariedade das qualidades, quente-frio, seco-úmido, e onde se concebia a mudança como a passagem de um contrário a outro contrário; por outro lado, nas especulações sobre a possibilidade da atribuição (as de Antístene, notadamente), onde se supunha necessariamente admitida a exclusão parmenidiana do ser e do não-ser. Na filosofia moderna, essa noção da oposição foi de novo posta em evidência: alguns idealistas, Hegel, Hamelin, e sob um outro ponto de vista Meyerson, a consideram praticamente como o fato primitivo ou o dado essencial sobre o qual deve repousar toda a metafísica.
A teoria aristotélica, para voltar a ela, compreende duas peças principais que iremos considerar sucessivamente: 1. uma teoria geral da oposição com sua distinção em quatro tipos fundamentais; 2. a teoria especial da oposição das proposições. [Gardeil]